A
força do invisível
Ir. Jelda Zorzo FSCJ
Religiosa
Quando
começaram os primeiros sinais de paralisação devido a um novo vírus que estava
se alastrando, comecei a pensar na força de algo tão pequeno, invisível a olho
nu. Comecei a desejar e pedir a Deus que, como humanidade, não desperdiçássemos
este momento. Experimentando a impotência e a igualdade de todo ser humano ‒ o
coronavírus não distingue classes sociais, raças, crença, orientação sexual,
ideologia ou outras diferenças que nos dividem ‒, poderia ser uma ótima
oportunidade para refletir de que vale a prepotência, o orgulho, a
autossuficiência... Qual o sentido do egoísmo e da ganância, que levam a
marginalizar a maioria dos humanos e a tornar inabitável a “casa comum”?
A força invisível vai se expandindo,
aumentando o medo, a dor, o número dos que partem e também a incapacidade da
ciência e das instituições de saúde para cuidar do que realmente conta: a vida.
Ao mesmo tempo, muitos são os anúncios e augúrios de que uma nova humanidade
ressurgirá após a pandemia.
A partir do que vamos ouvindo e
vendo, parece ser verdadeira a sabedoria popular ao dizer que fortes
sofrimentos revelam o que há de melhor ou de pior nas pessoas e em suas
instituições.
Louváveis os gestos de solidariedade
e a coerência dos profissionais da saúde, arriscando a própria vida no cuidado
dos pacientes e, até mesmo, no gesto heroico do padre italiano que, vendo a seu
lado uma pessoa mais jovem a necessitar de respirador, cede a ele o seu e acaba
morrendo. Dignos de reconhecimento e gratidão são todos os trabalhadores dos
serviços considerados essenciais que não podem “ficar em casa”. Motivo de alegria é perceber que também a
Igreja Católica manifesta neste momento a dimensão da caridade que a
caracteriza ao longo da história.
Inúmeros
são os gestos de generosidade e criatividade, buscando minimizar e/ou enfrentar
e encontrar saída às necessidades do ser humano. Sim, a força invisível do
vírus está tornando visível a força do bem, muitas vezes escondida, mas real em
tantas pessoas e instituições! A terra, o ar e as águas já dão sinais de quanto
está sendo bom o parar dos humanos. E como tudo está interligado, creio,
retornarão a nós os benefícios do que estamos vivendo.
Por
outro lado, essa força invisível do vírus parece ser inexistente para muitos,
ainda. As forças do poder, das ideologias e do mercado teimam em ser mais
fortes. Também as necessidades do imediato, sem os auxílios necessários, são
forças que não permitem parar. Outras pessoas parecem inconscientes da
gravidade do que está acontecendo. Seja o que for, é também o que existe de
pior a se manifestar quando a dor se torna forte. Ganância e ignorância têm em
seu bojo alguma “ânsia”.
Independentemente
da forma como reagimos, estamos “todos no mesmo barco”, disse o Papa Francisco,
no sermão da praça vazia, interpretando a tempestade no lago, enfrentada por
Jesus e seus discípulos assustados.
Constatamos,
diz Francisco que “estamos todos no mesmo barco, todos frágeis e desorientados,
mas ao mesmo tempo importantes e necessários: todos chamados a remar juntos,
todos carecidos de mútuo encorajamento.”
Acolhendo a
mensagem do Papa, acredito que o momento que estamos vivendo necessita ser
visto na sua positividade, como um chamado a olhar os vários problemas do mundo
e a necessidade de reorientar prioridades e modos de pensar e agir:
“Avançamos a toda a velocidade, sentindo-nos em tudo fortes e
capazes. Na nossa avidez de lucro, deixamo-nos absorver pelas coisas e
transtornar pela pressa. Não (…) despertamos ante guerras e injustiças
planetárias, não ouvimos o grito dos pobres e do nosso planeta gravemente
enfermo. Avançamos, destemidos, pensando que continuaríamos sempre saudáveis
num mundo doente. Agora nós, sentindo-nos em mar agitado, imploramos-Te:
‘Acorda, Senhor!’”
Projeto Memória da
Pandemia nas Alagoas
Coordenação
Luiz Sávio de Almeida
e José Carlos Silva de Lima
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ou não, em parte e no todo, com a matéria publicada
Nosso objetivo é
deixar um painel diversificado sobre a pandemia nas Alagoas