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sábado, 2 de maio de 2020

Cosme Rogério Ferreira. A PESTE DE 1915 EM PALMEIRA DOS ÍNDIOS. Memórias da pandemia em Alagpas (XXVI)


A PESTE DE 1915 EM PALMEIRA DOS ÍNDIOS

Cosme Rogério Ferreira
Sociólogo, professor de filosofia do Ifal / Campus Batalha.

Agosto, o mês do desgosto.
Há variadas versões para a crendice de que o mês oito seja o mais agourento do ano. Não há dúvida, porém, de que agosto de 1915 foi o mais triste da história da cidade de Palmeira dos Índios, por mor de um surto de peste bubônica que dizimou a população no período.
A doença é um dos três tipos de peste causada pela bactéria Yersinia pestis, transmitida pelas pulgas que parasitam ratos. Desde a Idade Média, quando tornou a morte mais presente no cotidiano da população europeia, a peste afeta o imaginário do cristianismo, no qual a cultura brasileira também é embebida. São Sebastião, um dos santos mais populares do catolicismo, é invocado na defesa dos três maiores tormentos terrenos que estremecem de medo o cristão: a fome, a peste e a guerra.
Em Palmeira dos Índios, o mal que flagelou a cidade há mais de um século resiste fortemente na memória do povo através de expressões linguísticas que são comuns no Nordeste. Se uma coisa não funciona direito, foi porque “deu a peste” ou “deu a bubônica”. Se se quer mandar alguém para algum lugar inconveniente, ordena-se que “vá para a casa da peste”. Se se quer xingar (ou elogiar, dependendo da situação) alguém referenciando a sua genitora: “filho da peste”. Se se quer chamar alguém de doido: “Está com a peste (no couro)”. Se se quer apenas interjecionar contrariedade: um simples e aborrecido “peste” é suficiente. Se se quer interjecionar a contrariedade com mais ênfase: “eita, bubônica da peste” (ah, a boca cheia de farinha...). Tais expressões são mais recorrentes entre os palmeirenses do que em outros lugares.
Relatos da época dão conta de que morriam de três a quatro pessoas por dia, e os defuntos eram enterrados imediatamente. Esse dado nos faz calcular que devem ter morrido, no mínimo, entre 93 e 120 pessoas durante a epidemia. O médico Osvaldo Sarmento, enviado à cidade para coordenar o combate à doença, adotou como primeira medida evitar mosquitos nos interiores das moradias. Determinou-se então que os moradores queimassem, à porta de casa, mato verde ou bosta de vaca, para que a fumaça espantasse os possíveis transmissores. No dia 25, o boticário (assim era chamado o dono da farmácia) e então intendente (assim era chamado o prefeito) Tobias Costa enviou um telegrama ao industrial Batista Acioli, então presidente da Província (e assim era chamado o governador do Estado) no qual informava que os gastos despendidos no combate à epidemia – confirmada, por carta, pelo médico Aurélio Brandão – somavam 1.637$920 (um conto, seiscentos e trinta e sete mil, novecentos e vinte réis) e que competia ao Estado indenizar o Município, que não dispunha de mais recursos para empregar em ações profiláticas, devido ao seu colapso sanitário e financeiro. Bibiano Goivinho, encarregado do cemitério, pediu exoneração por causa do aumento da carga de seu insalubre trabalho e por temer ser contaminado. Em substituição, o intendente nomeou o coveiro Sebastião Ferreira da Silva.
O receio do contágio fez o comércio cerrar as portas, os moradores se entocarem em casa e muitas famílias irem embora da cidade. À crise sanitária, somou-se a crise econômica, agravada pela seca que assolou o Nordeste e arruinou as plantações de algodão, base da economia local, e a crise política, que deteriorou as relações entre Tobias Costa e o major Vieira de Brito, tesoureiro municipal, depois que o primeiro descobriu, no ano seguinte, que o segundo desfalcara o erário em mais de 700$000 (setecentos mil réis). Vieira de Brito nunca devolveu o dinheiro e Tobias Costa terminou renunciando.
O jovem escritor Graciliano Ramos estava vivendo no Rio de Janeiro, centro gravitacional para todo aquele que almejava seguir carreira jornalístico-literária, quando três irmãos e um sobrinho seus faleceram vitimados pela doença, que ainda deixou abaladas as saúdes de sua mãe e de mais duas irmãs. Entre o dilema de ser útil aos familiares e levar adiante a tão sonhada carreira, Graciliano assinalou a primeira opção: “Não me tenta a Palmeira. Mas acredito que com o sacrificar-me não sacrificarei grande coisa”, confessou em carta. Em setembro, ele já estava de volta para se dedicar novamente às atividades comerciais na loja do pai. Acabou reatando o relacionamento amoroso com Maria Augusta de Barros, a costureira a quem seus pais não viam com bons olhos, dadas as condições sociais da moça. Desestimular o namorico entre Graciliano e a filha de humildes lavradores foi um dos motivos de o coronel Sebastião Ramos e a dona Mariquinha apoiarem a partida do rapaz para a então capital federal. Sabendo que Maria Augusta arriscou a saúde para cuidar de seus parentes durante o surto de peste, Graciliano viu nesse gesto a prova de que era a mulher com quem deveria se casar. Contraíram núpcias em outubro. Pouco mais de quatro anos depois ela faleceu, devido a complicações no parto.
Quando Graciliano se tornou prefeito, exercendo o mandato entre 1928 e 1930, zelou, de modo exemplar e inédito, pelas condições sanitárias das áreas urbana e rural da cidade construindo postos de higiene, urbanizando áreas degradadas, recolhendo os montes de lixo tradicionalmente mantidos nos logradouros públicos e o cisco preciosamente guardado nos quintais das casas, eliminando possíveis focos de contaminações. Em um dos seus famosos relatórios, ele escreveu: “Pensei em construir um novo cemitério, pois o que temos em pouco será insuficiente, mas os trabalhos a que me aventurei, necessários aos vivos, não me permitiram a execução de uma obra, embora útil, prorrogável. Os mortos esperarão mais algum tempo. São os munícipes que não reclamam”.
A lotação do cemitério São Gonçalo prestes a esgotar, problema persistente até hoje em Palmeira dos Índios, é a triste herança iniciada com uma epidemia de peste bubônica de quase 105 anos passados, a nos lembrar a catástrofe que pode nos acontecer quando não tomamos os cuidados mais básicos de higiene.

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Luiz Sávio de Almeida e José Carlos Silva de Lima
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Luciano Ramos. “Mc’s contra o COVID no gueto”. Memória da pandemia em Alagoas (XXVI)



“Mc’s contra o COVID no gueto”
Luciano Ramos


Remake! Sem make dessa vez, may day!
News, Fakes, Resident Evil saiu das versões filmes e games,
“To be continued” em Racoon City?
Não, Favela mesmo, “gentlemans e ladies”,
Manchetes do mês ou da vida “Pobre é cruz com peso de bigorna”, spam chinês!
Direcionando sem “Error 404”, chacinas biológicas,
Matemática científica exata no uso da  morte lógica,
O epicentro é o gueto, o centro é a Umbrella Corporation,
O inferno é o mesmo para pretos ou quase todos pretos,
Alcool virou amuleto, aliás, sempre foi pra aliviar o medo,
Dentro dos barracos tem espaço pra mais um nesse aperto,
Seja bem vinda Corona e deleite-se do seu leito,
Quem come mal, dorme menos, mora longe e trabalha mais tempo?
Quem adivinhar ganha um respirador ou um enterro,
Entendo a prioridade do CEP, é o colapso da raça,
Mas não morram plebe! Fiquem vivos até a eleição, é a garantia da mamata,
Abram alas para o baile de máscaras, notícias da série,
Pais de família são zumbis figurantes na próxima temporada de “Walking Dead”.



Biografia

Sou Luciano Ramos, utilizando da alcunha “Atípico” para externar minhas influências, arte, lírica e anseios.
Iniciei no rap em meados de 2001, porém, quase 20 anos de carreira e com muitos serviços prestados para os
ouvidos e cérebros mundanos.
Iniciei em parceria com o produtor PH, o projeto Clandestinos em 2003, esse projeto teve grande relevância durante uma década, várias formações, prêmios e uma agenda de shows até bem composta para o que era o rap no início do século;  com o Clandestinos fomos o primeiro grupo ou artista de rap em Alagoas a ficar entre os 5 primeiros candidatos no maior festival de música do estado, o FEMUFAL, numa concorrência com mais de 200 inscritos no festival.
No término do Clandestinos, me juntei com Vitor Pirralho e DJ TXU e fundamos o Coletivo Nervozes, banda que também teve uma boa contribuição na cena artística alagoana e até, em alguns pontos do país, surgiram parceria memoráveis nessa época com artista de renome nacional, como, Fernanda Abreu, Tonho Crocco, Sonic Junior, Luiz Caldas, Cannibal, XIS, Cris Braun e outros, lançamos dois EPs, um em 2012 e outro em 2018, EPs que são encontrados no YouTube.
Entre Clandestinos e Nervozes nunca parei de criar e fazer participações com outros artistas;  fiz participações com Panzon, Dabliueme, Unidade Nova Praia, Vitor Pirralho, Dread, Sonic Junior, Tonho Crocco.
Fundei em 2016 o projeto “Liga Paralela” com grandes nomes da música e do rap nacional;  formou a gang:  Funkero, DJ PG, Aori, Lurdez da Luz, De Leve, Egypcio (Ex-Tihuana) e Pinguim (Ex-Charlie Brown).
A Liga Paralela ainda existe; atualmente,  está em modo “stand by”.
A partir daí,  comecei a produzir singles solo e produzir meu primeiro EP (ainda está em produção);  esse EP já tem nome, “Atípico tropical lírico” e nele vai conter 5/6 faixas, trabalhando com produtores diferentes, participações e com todo conteúdo depositado nas plataformas digitais.

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