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quinta-feira, 28 de maio de 2020

Igor Machado. Questões de Quarentena. Memória da pandemia nas Alagoas


Questões de Quarentena

Igor Machado

  
Tantos receios. Pessoas queridas se aninham no miúdo do lar. Por mais amor que tenhamos a dar, é preciso destilar esse doce com cuidado. O que era normal tomou novos ares. Ares de receio. Beijos e abraços são agora sorrisos amarelos e olhares receosos. O amor que reside no contato físico está avizinhado da perda dolorida, do luto. Como esta crise mudará nossos hábitos culturais. Será que o jeito caloroso e alegre do brasileiro sobreviverá ao vírus e ao bolsonarismo?
Espirro bastante nas primeiras horas da manhã, um quase ex-fumante e alérgico não praticante. Mas ao acordar tenho espirrado com um certo temor… Será que meu espirro tá em dia com o que sempre foi ou tem coisa a mais por aí? E aquela minha asma de infância? Pode se tornar uma arma nesse momento?
Voltei a fumar nesse período da pandemia. Contrassenso? Sim. Mas que fazer? Passei quase um ano sem fumar, dei uma recaída no final de ano, até que conheci o cumbaiá, um composto básico de alecrim, hibisco e camomila, e estava bem de boa. Mas aí veio o vírus, as tensões, as incertezas financeiras e de futuro... E a nicotina, velha muleta emocional, chegou e me tragou. Veio também o medo do cigarro me fragilizar ainda mais nesse período de diversas mortes causadas por problemas no pulmão. Fui no Google, vi diversos textos a respeito e me chamou a atenção uma pesquisa sobre menores índices de fatalidade em fumantes. Nada comprovado, tese ainda em estudo. Mas seria bastante paradoxal um fumante não ser um dos principais alvos do coronavírus, né? Vai entender.
Várias viradas acontecendo e por acontecer, mas viramos para onde? Mundo está acamado, convalescendo. Nosso país ainda na UTI, e não há sinais de melhoras para logo. Insanidades se abrindo, fronteiras se fechando “...e a loucura finge que isso tudo é normal”. Como é que se conecta a paciência desse jeito?
E as mortes? Ai, as mortes. Próximos de próximos morrendo, já não é mais coisa de TV. Tanta verborragia gasta em compra de armas, em matar bandido. E a ciência tão maltratada ultimamente é (e sempre será) a chave para diminuir o vírus. E os vermes. E o 38 vai servir para que nesse combate?
Arte para quê? Para salvar vidas. Quem diria que a indústria mais marginalizada, seria a redentora desse momento. Fina ironia do mundo e um grande aviso. Não é possível numa sociedade em que o conhecimento já é grande matéria-prima econômica, ter preconceitos chulos. A arte está salvando você e sua família do vazio, da loucura, do ódio, da violência. Está lhe dando motivos e auxiliando a processar da melhor forma possível tudo o que estamos passando. Para quem via de menos, já consegue ver com mais clareza a importância da arte para todos nós?
Tempos difíceis para vislumbrar um futuro risonho para meu menino risonho de 2 anos e pouco... O que será que será? O vírus, o mundo em transe, a quarentena, a mentira, a solidariedade, a morte, as máscaras, a terra plana, a economia colaborativa, a inteligência artificial, a milícia, o Papa Francisco… Que mundo é esse que está chegando para o meu Tintim? A cooperação vencerá o medo? O ódio dará lugar à gentileza?
E os conhecimentos adquiridos nessa quarentena. Milhares de cursos disponíveis. Atualizações várias de idiomas e do “mind set”. Sacando mais dos hábitos geracionais, dos novos hábitos de consumo, das economias compartilhadas, colaborativas, criativas etc. O consumo consciente é cada vez mais necessário. Consciência. Alguém sugere um curso que diminua essas mortes pandêmicas que não param de crescer?

 Igor Machado


É cantor, compositor, poeta e documentarista alagoano, além de sócio-fundador da produtora Arteiros S/A. Realizou obras musicais autorais como “Coco Pop Xote Novo”, “Coco da Raiz ao Pop”. Dirigiu a produção musical da obra lítero-musical “Amores Ébrios” e da trilha do filme “O Juremeiro de Xangô”. É autor do livro “Pausas Corrompidas” e coautor de “Amores Ébrios”, livro correalizado com amigos e grandes nomes da poesia alagoana. Como documentarista está circulando com o curta “Nas Quebradas do Boi". Dirigiu também o clipe musical homônimo da banda alagoana Tequilla Bomb. Está em processo de gravação do seu próximo trabalho musical.

Projeto Memória da Pandemia nas Alagoas
Coordenação
Luiz Sávio de Almeida e José Carlos Silva de Lima
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Nosso objetivo é deixar um painel diversificado sobre a pandemia nas Alagoas
Esta mensagem foi coordenada por Joelle Malta

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