Questões de Quarentena
Igor Machado
Tantos receios. Pessoas queridas se
aninham no miúdo do lar. Por mais amor que tenhamos a dar, é preciso destilar
esse doce com cuidado. O que era normal tomou novos ares. Ares de receio.
Beijos e abraços são agora sorrisos amarelos e olhares receosos. O amor que
reside no contato físico está avizinhado da perda dolorida, do luto. Como esta
crise mudará nossos hábitos culturais. Será que o jeito caloroso e alegre do
brasileiro sobreviverá ao vírus e ao bolsonarismo?
Espirro bastante nas primeiras horas da
manhã, um quase ex-fumante e alérgico não praticante. Mas ao acordar tenho
espirrado com um certo temor… Será que meu espirro tá em dia com o que sempre
foi ou tem coisa a mais por aí? E aquela minha asma de infância? Pode se tornar
uma arma nesse momento?
Voltei a fumar nesse período da pandemia.
Contrassenso? Sim. Mas que fazer? Passei quase um ano sem fumar, dei uma
recaída no final de ano, até que conheci o cumbaiá, um composto básico de
alecrim, hibisco e camomila, e estava bem de boa. Mas aí veio o vírus, as
tensões, as incertezas financeiras e de futuro... E a nicotina, velha muleta
emocional, chegou e me tragou. Veio também o medo do cigarro me fragilizar
ainda mais nesse período de diversas mortes causadas por problemas no pulmão.
Fui no Google, vi diversos textos a respeito e me chamou a atenção uma pesquisa
sobre menores índices de fatalidade em fumantes. Nada comprovado, tese ainda em
estudo. Mas seria bastante paradoxal um fumante não ser um dos principais alvos
do coronavírus, né? Vai entender.
Várias viradas acontecendo e por
acontecer, mas viramos para onde? Mundo está acamado, convalescendo. Nosso país
ainda na UTI, e não há sinais de melhoras para logo. Insanidades se abrindo,
fronteiras se fechando “...e a loucura finge que isso tudo é normal”. Como é
que se conecta a paciência desse jeito?
E as mortes? Ai, as mortes. Próximos de
próximos morrendo, já não é mais coisa de TV. Tanta verborragia gasta em compra
de armas, em matar bandido. E a ciência tão maltratada ultimamente é (e sempre
será) a chave para diminuir o vírus. E os vermes. E o 38 vai servir para que
nesse combate?
Arte para quê? Para salvar vidas. Quem
diria que a indústria mais marginalizada, seria a redentora desse momento. Fina
ironia do mundo e um grande aviso. Não é possível numa sociedade em que o
conhecimento já é grande matéria-prima econômica, ter preconceitos chulos. A
arte está salvando você e sua família do vazio, da loucura, do ódio, da
violência. Está lhe dando motivos e auxiliando a processar da melhor forma
possível tudo o que estamos passando. Para quem via de menos, já consegue ver
com mais clareza a importância da arte para todos nós?
Tempos difíceis para vislumbrar um futuro
risonho para meu menino risonho de 2 anos e pouco... O que será que será? O
vírus, o mundo em transe, a quarentena, a mentira, a solidariedade, a morte, as
máscaras, a terra plana, a economia colaborativa, a inteligência artificial, a
milícia, o Papa Francisco… Que mundo é esse que está chegando para o meu
Tintim? A cooperação vencerá o medo? O ódio dará lugar à gentileza?
E os conhecimentos adquiridos nessa
quarentena. Milhares de cursos disponíveis. Atualizações várias de idiomas e do
“mind set”. Sacando mais dos hábitos geracionais, dos novos hábitos de consumo,
das economias compartilhadas, colaborativas, criativas etc. O consumo
consciente é cada vez mais necessário. Consciência. Alguém sugere um curso que
diminua essas mortes pandêmicas que não param de crescer?
Igor Machado
É cantor, compositor, poeta e documentarista alagoano, além
de sócio-fundador da produtora Arteiros S/A. Realizou obras musicais autorais
como “Coco Pop Xote Novo”, “Coco da Raiz ao Pop”. Dirigiu a produção musical da
obra lítero-musical “Amores Ébrios” e da trilha do filme “O Juremeiro de
Xangô”. É autor do livro “Pausas Corrompidas” e coautor de “Amores Ébrios”,
livro correalizado com amigos e grandes nomes da poesia alagoana. Como
documentarista está circulando com o curta “Nas Quebradas do Boi". Dirigiu
também o clipe musical homônimo da banda alagoana Tequilla Bomb. Está em
processo de gravação do seu próximo trabalho musical.
Projeto Memória da
Pandemia nas Alagoas
Coordenação
Luiz Sávio de Almeida
e José Carlos Silva de Lima
O blog pode concordar
ou não, em parte e no todo, com a matéria publicada
Nosso objetivo é
deixar um painel diversificado sobre a pandemia nas Alagoas
Esta mensagem foi coordenada por Joelle Malta