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quarta-feira, 22 de abril de 2020

Memóra da Pandemia em Alagoas (II): A. Sérgio Barroso. Notas de política e filosofia na pandemia



Notas de política e filosofia na pandemia

A.  Sérgio Barroso

Médico, doutor em Desenvolvimento Econômico, diretor da Fundação Maurício Grabois

Esta matéria foi publicada no Suplemento Campus do Jornal O Dia (Maceió)

Corona virus pandemic / Coronavirus pandemie/ 
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As eleições municipais deste ano atravessarão um corredor dum tenebroso cemitério clandestino. O negacionismo - moda dos desgraçados de plantão -, erguerá sua longa foice, desta feita para abater a eles próprios e a miríade social perversa que lhes sustenta. A galhofa ao sofrimento humano viralizada pelo presidente (provisório) da República será soterrada junto a uma multidão de cadáveres. Alta Idade Média.
Mas é mais. É espectral a decomposição dos sistemas eleitorais das “democracias representativas”, d’alhures e daqui. As eleições municipais francesas deste 15 de março de 2020, a exemplo, deixaram em casa 56% dos aptos a votar; mas a abstenção ali já fora de 36%, nas municipais de 2014. No Brasil, nas de 2016 já se abstiveram quase 20%. A manipulação eleitoral pelo dinheiro reproduz-se numa simbiose grotesca na “moral de rebanho”, de massas, de Nietzsche.
Decadência absoluta
Luciano Canfora, pensador italiano realizara análise percuciente do esvaziamento dos fundamentos democráticos, substituídos, numa retórica corrompida, pela supremacia da lógica do mercado; e pelo forjar de “consensos” amalgamados na aliança da cúpula política com a mídia. Canfora denunciou “a atual interpenetração entre o mecanismo financeiro mundial – o capital financeiro - e a grande criminalidade” (“Crítica da retórica democrática”, Estação Liberdade, 2007).
Não à toa que, em junho de 2019, um navio do JP Morgan Asset Management (fundo de investimento gerenciado pelo banco americano JP Morgan Chase), foi retido na alfândega da Filadélfia com nada menos que 20 toneladas de cocaína, avaliadas em US$ 1,3 bilhão! Modestamente, no mesmo junho de 2019, um avião presidencial da comitiva de Jair Bolsonaro foi apreendido com 39 quilos do mesmo pó, na Espanha. Confesso, o sargento da equipe governamental levou lá seis anos de cadeia. Silêncio cínico até hoje.
Naquele mesmo ano, M. Draghi, saíra da presidência do Banco Central Europeu (BCE - 2011-2019); antes fora estrategista do oligopólio financeiro americano Goldman Sachs. Draghi, a quem o Nobel de economia P. Krugman disse-o, “sem dúvida, o maior banqueiro central dos tempos modernos”, foi claramente imposto ao comando estatal europeu pela grande finança. Visível, a metida de mão do privado no público. Assim é que as coisas passaram a funcionar na globalização neoliberal.
O sociólogo alemão Wolfgang Streeck vai ao busílis da questão: o BCE “é uma instituição fora do processo democrático”. Recorda ele a Itália dos anos 1990: governadores do Banco Central, G. Carli e C. Ciampi assumiram a seguir as funções de primeiro-ministro, ministro das finanças e presidente, quando o sistema partidário desabara “sob o peso dos escândalos de corrupção – os anni de fango ou anos de lama” (“Tempo comprado. A crise adiada do capitalismo democrático”, Boitempo, 2018).
Steven Levitsky (Harvard) em seu “Como as democracias morrem” (Zahar, 2018), “best seller” do The New York Times, enfatiza o longo processo de decomposição da democracia nos EUA. Donald Trump, diz ele, “é um violador em série” das normas democráticas de seu país, mas “o processo de erosão começou décadas atrás”. Exemplifica Levitsky: Tom Delay, por exemplo, líder republicano da era Bush Jr., acusara Obama de “marxista”. “A desintegração” – diz - era como se deveria conceituar uma histórica regressão da mitificada ética democrática norte-americana.
Ora, em 2000, Bush Jr. já havia sido imposto, através de um golpe claro, na presidência dos EUA. O embuste se deu com o impedimento, pela Corte Suprema dos EUA, da recontagem dos votos na Flórida, que consagraria a sua derrota. E o citado professor italiano relembra que as palavras “golpe de Estado” vieram da boca de Al Gore, o candidato Democrata que deveria vencer as eleições (L. Canfora, idem, pp. 27-8).
Da irracionalidade – e o defunto Hegel
No Brasil, um país já fraturado politicamente por determinação do atual presidente da República, a irrupção súbita da pandemia viral engatou-se numa economia estagnada e quase 12 milhões de desempregados (“oficiais”). Vamos à depressão econômica-social. Não por coincidência, os donos do sistema financeiro brasileiro apoiaram e continuam apoiando a mescla ideológica do ex-capitão: insanidade, perversidade, destruição nacional.
Acicatado por lancinantes desigualdades, com cerca de 800 mil presidiários, o país pode ser destroçado se não afastar Bolsonaro e sua família-gângster, apoiados por um grupo de militares oportunistas. Daqui até lá, penúria desolação e desesperança abater-se-ão sobre milhões de eleitores, de qualquer maneira.
No grande filósofo [Georg] Hegel (1770-1831) brotava uma razão “quase enlouquecida”: em sua dialética tudo se encerrava no Conceito. Conta o formidável Domenico Losurdo (“Hegel e a liberdade dos modernos”, Boitempo, 2019) que, no “Prefácio” a “Princípios da filosofia do direito” Hegel escrevera “nada é real senão a ideia”. Uma epidemia de cólera o liquidou!

Esta série tem por objetivo publicar depoimentos sobre 

como se pensa e se lida com o Corona em Alagoas. Está aberta a toda e qualquer pessoa, de
qualquer tendência. É uma documentação organizada, sobretudo, para um futuro estudioso de como a epidemia foi vista e vivida em Alagoas. O material será publicado
paulatinamente no  suplemento Campus do jornal O Dia. Está sendo organizado por Carlos Lima,
Mestre em História pela Universidade Federal de Alagoas e Luiz Sávio de Almeida. O blog pode
discordar de parte ou do todo da matéria publicada.

Memória da Pandemia nas Alagoas (III) : José Vieira da Cruz. UM PACTO PELA VIDA: SOCIEDADE, CIÊNCIA E UNIVERSIDADES JUNTAS CONTRA A PANDEMIA





UM PACTO PELA VIDA: SOCIEDADE, CIÊNCIA E UNIVERSIDADES JUNTAS CONTRA A PANDEMIA

José Vieira da Cruz

Professor da UFAL, Doutor em História pela UFBA, Membro do IHGSE e da Academia Alagoana de Educação (ACALE)



Corona virus pandemic / Coronavirus pandemie/
pandemia de coronavirus / pandémie de coronavirus / pandemia di coronavirus

A PACT FOR LIFE: SOCIETY, SCIENCE AND UNIVERSITIES TOGETHER AGAINST THE PANDEMIC

UN PACTO PARA LA VIDA: SOCIEDAD, CIENCIA Y UNIVERSIDADES JUNTOS CONTRA LA PANDEMIA

UN PACTE POUR LA VIE: SOCIÉTÉ, SCIENCE ET UNIVERSITÉS ENSEMBLE CONTRE LA PANDÉMIE

UN PATTO PER LA VITA: SOCIETÀ, SCIENZA E UNIVERSITÀ INSIEME CONTRO LA PANDEMIA


A população mundial vive há algumas décadas os efeitos da intensificação da circulação de pessoas e mercadorias em escala global. David Harvey, crítico dos efeitos da globalização, em artigo recente, destacou que se vive uma espiral consumista infinita. Se por um lado, essa espiral gera para uma fração de pessoas ganhos financeiros sem precedentes, por outro, produz mercadorias e uma escalada consumista com efeitos sobre o clima e a qualidade de vida no planeta.  Um mundo líquido, assentado naquilo que Zygmunt Bauman, sociólogo dedicado a estudar a questão do consumismo, da globalização e das transformações nas relações humanas, definiu pela fluidez do deslocamento de consumidores individuais que vivem em um mundo sem fronteiras. Claro que esse maravilhoso mundo novo, para quem tem dinheiro, parecia infindável.
Neste mundo novo das altas cifras dos ganhos financeiros, os princípios éticos, científicos, sociais e ambientais são frequentemente banalizados por governos preocupados com o desempenho das bolsas de valores e dos interesses de investidores financeiros nacionais e internacionais. Neste ponto, o Brasil demonstra estar tanto sintonizado quanto preocupado em se adequar aos ventos conservadores e neoliberais do mercado, da globalização e do capital financeiro.

     
Mas para além desse mundo especulativo e consumista, uma realidade inesperada vem impondo a todos as sequelas de uma pandemia provocada por um tipo de Coronavírus, o Covid-19, que tem revelado grande poder de contágio. As suas consequências rapidamente têm saturado os sistemas de saúde em vários países a exemplo da China, Itália, Espanha, França, Equador, Brasil, e, até mesmo, dos Estados Unidos da América. Este último, um gigante com pés de barro, aparentemente forte, mas que tem se revelado frágil diante da atual crise.  A força da atual pandemia, já considerada o maior desafio de nossa geração, tem envolvido o planeta numa espiral crescente de mortes por causas relacionadas a insuficiência respiratórias agravando os quadros de pessoas portadoras de doenças imunológicas, cardiovasculares, de diabetes e de outras enfermidades preexistentes.

      Frente aos efeitos desta pandemia e do seu poder de sobrecarregar os sistema de saúde, fronteiras internacionais estão sendo fechadas, cidades estão sendo isoladas (lockdown), bilhões de pessoas estão praticando o distanciamento ou isolamento social, a produção de mercadorias está sendo interrompida e, consequentemente, começam a faltar insumos para os sistemas de saúde e outras demandas de consumo.
Neste cenário, em menos de quatro meses, do registro do novo Coronavírus em dezembro de 2019, ao início de abril de 2020, o mundo vive uma crise sanitária, econômica e política sem precedentes. O maravilhoso mundo novo da globalização é defenestrado dia a dia pela realidade imposta pelo novo vírus. Assim, além das mortes e das fragilidades dos sistemas de saúde, em particular nos países que descuidaram dos investimentos em políticas sanitárias e sociais, o Brasil se encontra em meio a uma disputa política internacional sem igual. 

   
  Refiro-me, a dificuldade de o país importar Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) para os profissionais de saúde e para a população. Nos últimos dias, os meios de comunicação, noticiaram que as compras de insumos de EPIs que o Brasil estava realizando junto a empresas chinesas foi preterido em favor dos Estados Unidos. A esse respeito, em uma coletiva, o Ministro da Saúde, em tom cada vez mais sereno, apela para a população evitar comprar luvas e máscaras, para que deixassem esses EPIs para os profissionais da saúde e que quem pudesse buscasse alternativas. E ao reforçar que agora é o momento de cuidar dos idosos, de persistir no distanciamento social – já que o Brasil não está praticando o lockdown –, e que a população pode produzir suas próprias máscaras de pano com as recomendações devidas.

     Feita esta introdução, começo aqui a justificar o título desta reflexão a partir de duas duras constatações: a persistente diminuição de financiamento desferidas contra à ciência, às universidades e os institutos de pesquisa públicos no Brasil; e do grave processo de desindustrialização do país há décadas voltado para exportação de comodities e pelo favorecimento do capital financeiro. Em oposição a esta crise e constatações, a alternativa está na sociedade brasileira, no Sistema Único de Saúde (SUS), na capacidade produtiva do país, na ciência, nas universidades e nas instituições de pesquisa e formação públicas. Nestas últimas, é possível contar com seus laboratórios, pesquisadores, repositórios acumulado de conhecimento e expertises.

     
A exemplo do que aconteceu com a epidemia do Zika Vírus, já há alguns dias, os meios de comunicação e as redes sociais,  têm registrado como as universidades e institutos de pesquisa públicos vêm mobilizando seus pesquisadores e utilizando seus laboratórios, equipamentos e equipes de docentes, técnicos e estudantes para juntos encontrarem soluções contra a evolução da pandemia. A exemplo, pode-se citar a produção de álcool em gel a 70%, mobilização da rede de FAB LABs (Laboratórios de Fabricação digital) com a utilização de impressoras 3D para produção de máscaras e outros EPIs e para desenvolverem, em tempo recorde, protótipos de aparelhos de respiração. Além da disponibilização dos laboratórios de análises clínicas e de hospitais universitários distribuídos em todo país. Estes últimos, atuando de modo integrado com o Ministério da Saúde e em colaboração com Estados, Distrito Federal e Municípios.

      Nota-se que nossas universidades combalidas por anos com cortes no investimento em equipamentos, insumos e recursos humanos, não têm se furtado ao chamado da sociedade. Porém sua capacidade de produção é voltada para a pesquisa e não para atendimento de demandas em larga escala. Neste sentido, cabem ao governo, à classe política e ao setor empresarial deixar as diferenças de lado, para integrar as soluções da ciência brasileira à capacidade de produção de nossas indústrias. Não basta evocar, em tempos de guerra, de crise econômica e de pandemia, o papel do Estado Interventor, como propõe a Escola Keynesiana. É preciso ir além, é preciso rever as políticas neoliberais das últimas décadas e investir de modo continuado, em torno de um projeto nacional e soberano, em políticas sanitárias, educacionais, sociais e de desenvolvimento científico, de inovação e sustentáveis.

      A ciência, as universidades e instituições de pesquisas públicas brasileiras têm competência para pensar soluções, mas precisam de investimentos continuados, com fontes definidas e sustentáveis. Neste momento, em um mundo com fronteiras fechadas, o país precisa, nesta ordem, cuidar das pessoas, dos trabalhadores, estimular seus empresários a investir no setor produtivo e fortalecer a economia e a indústria nacional.  Agora, urge a produção de EPIs e de equipamentos de cuidados intensivos de saúde. No entanto, o presente aponta para um futuro de novas demandas geopolíticas, econômicas e tecnológicas imprescindíveis.

     
O exemplo dado pelos Estados Unidos, maior potência econômica e militar da História, valendo de seu prestígio anteciparam à fila deixando o Brasil à deriva, no popular, farinha pouca, meu pirão primeiro. Em suma, a sociedade brasileira deve, em favor de seu povo e da humanidade, valendo-se da ciência, das suas universidades e institutos de pesquisa, cuidar das pessoas, cuidar de seus trabalhadores, dos empresários – a começar pelos micros, pequenos e médios –, e de seu estratégico parque industrial. Em favor da vida, a sociedade, a ciência e as universidades juntas podem construir alternativas para combater a pandemia do Covid-19 e apontar soluções para economia e para a democracia.

Esta matéria foi publicada no suplemento Campus do jornal O Dia (Maceió).
Esta série tem por objetivo publicar depoimentos sobre  como se pensa e se lida com o Corona em Alagoas.  Está aberta a toda e qualquer pessoa, de qualquer tendência. É uma documentação organizada, sobretudo, para um futuro estudioso de como a epidemia foi vista e vivida em Alagoas. O material será publicado  paulatinamente no  suplemento Campus do jornal O Dia. Está sendo  organizado por Carlos Lima, Mestre em História pela Universidade Federal de Alagoas e Luiz Sávio de Almeida. O blog pode discordar de parte ou do todo da matéria publicada.

Memória da Pandemia nas Alagoas (i): Luiz Sávio de Almeifa. E agora Bolsonaro?



E agora Bolsonaro?

Esta matéria foi publicada no Suplemento Campus do Jornal o Dia (Maceió). Aquarela de Eduardo Bastos.

Luiz Sávio de Almeida

Professor Emérito da Universidade Federal de Alagoas e Dr. em História

Bolsonaro, o Presidente, passa por uma pesada avaliação interna e externa. Pelo menos dois importantes órgão da imprensa internacional foram impiedosos na avaliação que realizar. Um deles foi o ultra diabólico-comunista The Washington Post   e o outro foi um jornal de alta evidência  na Itália: Corriere della Sera.  Ambas as matérias foram comentadas por outra terrível comunista: A Revistas Veja. Quanto mais o bolsonarismo não faz uma reflexão sobre as críticas que recebe, quanto mais fica difícil manter-se na política brasileira sem ser um bolsão à parte, não se integrando de fato à normalidade democrática que o país deve seguir.  E sinceramente, não estou pensando partidariamente, até mesmo por não pertencer a algum; somente pertenci ao Partido Socialista Brasileiro quando  o Presidente era um amigo: o Senador Jamil. 
Ele não é um grupo que está para fora, habilitado a fazer alianças; ele é um grupo para dentro e parece interessar-se apenas por um núcleo e devora-se para manter o bolsão, sabendo Bolsanaro com quem pode ou não mexer. No entanto, por mais para dentro que seja, a sua natureza de governo está escancarada nesta condução da pandemia. Não me interessa analisar isto em profundidade, pois não cabe aqui, o que eu faria tranquilamente numa mesa de debate em uma discussão acadêmica pois, aí, é meu mundo. Não define minhas posições, o fato de que  Bolsonaro representa posições de direita. Ainda sinceramente, a esquerda não tem monopólio de decência, honestidade e capacidade. A mim, no jogo político, competiria combater as propostas, discutir, preparar-me com as devidas cautelas para uma disputa eleitoral.
Muitas pessoas voltaram em Bolsonaro por não encontrarem alternativa, outras pela diabolização do PT que, por sinal, tem culpas a serem ponderadas e ele sabe disto.  Outras por achar que ele legitimamente representava seus interesses. O que me incomoda politicamente é o bolsão e a diabológica como ele opera, dando-se ao termo, uma aproximação ao que escreveu Poliakov.  Mandetta foi bem mais inteligente do que o bolsão e foi um conservador extraordinariamente subversivo, pois demonstrou o bolsão na sua pior face: a intolerância numa época de hecatombe nacional que chega a passar por cima de  renda e classe, a todos atingindo, embora seja mais do que sabido, a pobreza que se segure agarrada não sei em quê.
Foi nesta oportunidade que Bolsonaro se perdeu na peleja  com Mandetta e a demissão do deputado tem consequências muito graves:  é  quando se nota a força do bolsão. Acontece que, talvez, quanto mais Bolsonaro força o bolsão, mais se encolhe. Suas perdas são mais do que sensíveis, dentre os seus eleitores que não são bolsonistas; basta ler as pesquisas, pensar no que elas vêm apontando. Se Mandetta esteve com algum jogo político, na certa venceu: o bolsão encolheu-se bem mais e inclusive, em termos da opinião pública, algo difícil a definir no Brasil. É que Bolsonaro parece armar uma estratégia que a longo prazo não será eficiente e tudo tem a ver, a todo o momento, com a próxima eleição para a presidência.  Parece-nos que ele nunca está agora e sim no que vem e, por outro lado, tem de destruir para ter força, como seu próprio partido foi destruído. Ele não é um arquiteto do caos, mas, apesar disto, pensa que poderá ordená-lo.
A sustentação do bolsão levou à perda de aliados sérios, como o Governador Caiado, peso de referência no que poderia ser chamado de direita agrária, embora modernizante na produção, típico defensor do agronegócioa, mas que não teve condições de aceitar as tiradas do Bolsonaro sobre a epidemia. Caiado é homem de ligação com Mandetta, como Mandetta é com o Presidente do Senado e o da Câmara Federal.  Não se pode adivinhar qual a posição do Bolsonaro, mas Mandetta que se prepare: o que haverá de acusações por parte do bolsão será algo imenso e, possivelmente, Bolsonaro na sua tática de atuação, ira aparentar seguir as ideias que eram apresentadas, para acusar Mandetta e afastá-lo cada vez mais, logo ele, o conservador que se tornou subversivo. Inclusive, por falta de jogo de cintura; note-se quantas vezes, usou o pronome eu e quantas vezes usou o substantivo governo. Político que perde, vira casca de pereba e ele vai ter que mergulhar, pois é difícil um derrotado ter aliados.  Derrota, é possivelmente, um dos maiores e mais terríveis inimigos de uma carreira perdida. Aliás. Ônix já começou com suas alfinetadas na direção do descrédito de Mandetta e vai ficar cada vez pior, ele que diss da fraqueza de Bolsonaro, aproveita a oportunidade e desce de escafandro, novamente, no bolsão.
Quem será o próximo candidato a Oswaldo Cruz? O que Bolsanaro irá pedir dele? Eis o mistério. Mandetta não tem alternativa, mesmo com 80% da população contra sua saída.  Ficam os 20% do bolsão, um  quinto dos eleitores e Bolsonaro irá tentar aumentar este percentual, se bem que se coloca em dúvida a capacidade de Guedes conduzir a recuperação por dois motivos: a) o fato de Bolsonaro não saber e não querer construir aliados e b) a insuficiência de seu liberalismo, da sua divinização do mercado contra a diabolização do estado; teses aliás, destruídas no que vivemos onde, sem estado, a crise social, econômica e política já teria avançado a patamares inusitados.
No meio disto tudo, Bolsonaro consegui um feito: ser pior do que Trump, o que digamos, é algo difícil de se conseguir. O site Rede Brasil Atual comentou um editorial do The Washington Post cujo título era espantoso: “ Leaders risk lives by minimizing the corona virus. Bolsonaro is the worst”. Ele está sendo internacionalmente acusado de colocar em risco a vida do povo e o editorial é severo em seu julgamento: é o pior de todos. O jornal acompanhava o cotidiano de Bolsonaro,  os riscos em que colocava  população. E aconselha a que se veja o próprio Trump, quando mudou de orientação e esteve partilhando da ideia de isolamento. Na data de hoje, o mesmo jornal fala da disputa do Presidente com Mandetta.  Mas o Corriere dela Sera entra por linha semelhante e foi comentado no site  da Revista Veja. O jornal estudou a posição de  dez lideres internacionais e a pior nota foi Bolsonaro. Claro que se trata de um jornal comunista; se não fosse, não iria reduzir a tal ponto a cotação do Mito.
Realmente não se pode entender que a posição de Bolsonaro não tenha causado impacto em setores da população pois, afinal de contas, não era um mero cidadão e sim, um Presidente da República.  Se é verdade o que as pesquisas revelam sobre a contaminação e aumento de casos e pressão sobre o sistema de saúde, ele tem, de alguma forma, que ser responsabilizado.  O que não posso falar é sobre o tamanho desta responsabilização e o que dirá o Supremo Tribunal Federal, que tomou decisão contra medidas que se choquem com as aconselhadas pela agência especializada da ONU, aquela que Trump está tentando acabar. Se uma voz de peso se levantar no Brasil contra o que Bolsonaro fez o8 ocasionou, a coisa fica feia.


Esta série tem por objetivo publicar depoimentos sobre  como se pensa e se lida com o Corona em Alagoas.  Está aberta a toda e qualquer pessoa, de qualquer tendência. É uma documentação organizada, sobretudo, para um futuro estudioso de como a epidemia foi vista e vivida em Alagoas. O material será publicado  paulatinamente no  suplemento Campus do jornal O Dia. Está sendo  organizado por Carlos Lima, Mestre em História pela Universidade Federal de Alagoas e Luiz Sávio de Almeida. O blog pode discordar de parte ou do todo da matéria publicada.


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