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terça-feira, 12 de maio de 2020

Manu Cafu, A pandemia na periferia. Memória da pandemia nas Alagoas


A pandemia na periferia
Manu Cafu


Quem diria, até que ponto isso chegaria, não só o Brasil mas quase o mundo inteiro sendo refém dessa pandemia. 

Eles dizem fiquem em casa, pratique o isolamento, mas pra quem come do próprio suor acostumado de barriga cheia, não se acostuma com a barriga cheia de vento. 

Essa é a era dos colapsos, colapsos funerário, colapsos na saúde pública, humanidade em colapso daí fica minha pergunta, e de todos esses colapsos de quem será a culpa? 

Álcool em gel constantemente, a recomendação é lavar bem as mãos, mas pra quem mora na periferia o valor do álcool em gel já equivale ao de uma refeição.

 Só quem convive sabe não vá pensando que é brincadeira ou enfeite, quando eu digo que na periferia falta muitas das vezes desde a informação até o sabonete.

 Um metro de distância, esse aí é o recomendado, diz isso pra quem precisa acordar cedo, enfrentar o transporte público e ir em pé em um ônibus lotado. 

E aí já lavou mãos? Distanciamento, isolamento esse aí é o roteiro, mas muita gente não cumpre o seu papel pois nas torneiras não chega uma gota d'água durante o dia inteiro.

 E assim nós vamos cumprindo a risca os mandamentos, pois sabemos que isso é apenas um elemento a mais da dor em que já vivemos.


Mano Cafu,  como é conhecido nas periferias de Maceió, está no movimento Rap desde o ano de 2013. Escolheu o gênero rap por se identificar com as letras cantadas por vários artistas, com influências como Racionais, Invasor, a família entre outros. Mano Cafu escreveu sua primeira letra em 2013 de nome "Esteja em paz" dedicada a um amigo vítima da violência dos bairros periféricos de Maceió. Mano Cafu, trabalhador, pai do pequeno Ícaro Mateus de 1 ano e três meses, já participou de vários projetos juntamente com outros artistas locais, entre eles D2, Conexão CAIC, Bruno Júnior, Brow L, entre outros, no qual cada um se junta e cada um expressa sua linha de pensamento, as famosas cyphers. O rapper, que diz ter parado com as batalhas de freestyle, já participou de algumas batalhas que ocorrem por Maceió, entre elas a batalha do formigueiro que já foi campeão algumas vezes, batalha do Banks, e uma batalha em especial que ocorreu no posto sete, valendo entrada pro show do Emicida no qual Mano Cafu terminou ganhando em primeiro lugar, mas infelizmente o show não ocorreu. Sua música de mais sucesso chama se "Ideia de bandido" que conta com mais de 189 mil visualizações no YouTube, onde ele retrata o que se passa nas periferias de Maceió, música essa que foi gravada no Studio QG dus Manos assim como a maioria das outras suas músicas.

Projeto Memória da Pandemia nas Alagoas
Coordenação
Luiz Sávio de Almeida e José Carlos Silva de Lima
O blog pode concordar ou não, em parte e no todo, com a matéria publicada
Nosso objetivo é deixar um painel diversificado sobre a pandemia nas Alagoas
Will Grind coordenou os MCS

José Vieira da Cruz. REFLEXÕES DOS 75 ANOS DO FIM DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL



REFLEXÕES DOS 75 ANOS DO FIM DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

 José Vieira da Cruz

*Professor da UFAL, Doutor em História pela UFBA, membro do IHGSE e da ACALE

No último 07 de maio, as celebrações sobre o final da Segunda Guerra Mundial mais uma vez ocuparam os noticiários. Desta feita, com uma inovação que tende a se tornar frequente. Nas cidades em que ocorreram as referidas homenagens, os eventos foram acompanhados pela população através dos meios de comunicação e das redes sociais, salvo a presença de algumas autoridades nos atos. Assim, mesmo diante de uma pandemia e da prática do lockdown, vários países optaram por manter as celebrações e não esquecer o passado. Este fato, da necessidade de se manter reflexões relacionadas aos 75 anos do fim do referido conflito e a partir dele compreender como a atual ordem mundial foi organizada, indica o quanto é importante recordar e analisar os desdobramentos políticos, econômicos e sociais do pós-guerra.
Em razão da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o mundo dividiu-se entre países que defendiam liberdades democráticas ou o socialismo e aqueles que defendiam o pensamento único, regimes autoritários e práticas de intolerância por questões religiosos, raciais, ideológicas ou por outras diferenças. Não é demais lembrar que o conflito não foi obra somente de seus líderes, partidos e ideologias. É necessário recordar que parte da sociedade na Alemanha, na Itália e em outros países, seduzidas por ideias da extrema-direita, ultranacionalistas e antissemitas, apoiaram a guerra e o extermínio de milhões de pessoas. Neste contexto, foi necessário a construção de uma aliança entre os países que defendiam os princípios da democracia liberal e aqueles que defendiam socialismo para derrotar um inimigo maior: o Nazifascismo.  
No campo da História, registros, lembranças e rememorações de acontecimentos suscitam importantes reflexões sobre as escolhas que cada sociedade faz quanto ao seu desenvolvimento político, econômico e cultural.  Por essa razão, os(as) historiadores(as), no exercício de seu ofício profissional, insistem em lembrar, recordar, avaliar e interpretar as repercussões dos acontecimentos do passado sobre o presente. A respeito, Eric Hobsbawm ao escrever a obra, “Era dos Extremos: o breve século XX, 1914-1991”, publicada em 1994,  afirmou que os historiadores costumam lembrar o que os outros esquecem, a exemplo dos horrores da guerra e da necessidade de alianças em defesa da democracia, da liberdade e da vida.

Dentro desta perspectiva, as lições, significados e reflexões deixadas pela Segunda Guerra Mundial, sobretudo, a do legado de substituir regimes autoritários, totalitários e racistas, por regimes propensos a valorizar a democracia, a liberdade, a justiça social,  a pluralidade e o respeito aos diferentes, tem sido uma importante premissa no campo das relações internacionais e dos debates políticos contemporâneos.

No Brasil, as consequências do fim da Segunda Guerra Mundial contribuíram decisivamente para derrubar a ditatura do Estado Novo (1937-1945) e para instituir importantes experiências democráticas no país nas décadas seguintes. Experiências, logo e lamentavelmente, interrompidas por mais um regime autoritário: a ditadura civil-militar (1964-1985). Nos últimos 35 anos, como é do conhecimento de todos, por um lado, o país retomou o exercício do Estado Democrático de Direito, mas, por outro, tem passado por reformas e desafios para manter a ordem institucional democrática.

Voltando as rememorações da Segunda Guerra Mundial, a partir de meados do século XX,  os ventos de liberdade, democracia e de tolerância que passaram a soprar no mundo do pós-guerra são tão importantes quanto a rejeição, nos dias atuais, dos discursos obscurantistas de negação da ciência, de exaltação da cultura de ódio aos diferentes, e da banalização da perda de vidas humanas ceifadas pela pandemia do Covid-19. Discursos e práticas estimuladas por algumas autoridades políticas e empresariais em determinados países, dentre os quais os Estados Unidos da América, o Brasil e, até pouco tempo, ao menos em parte, pelo Reino Unido.
Em termos opostos, compreendemos a vida humana como um valor inumerável no qual cada sujeito esculpe em sua história contribuições com significados próprios. Cada vida traz em si sentimentos, sentidos e legados, sejam elas vividas em grotões, campinas, restingas, florestas, cerrados, sertões, mangues, favelas, mocambos, condomínios, mansões, palácios, castelos, indústrias, comércios ou ruas. Como bem escreveu João Cabral de Melo Neto, em “Morte e vida Severina”, em texto elaborado na década de 1950, toda vida é uma explosão de significados, mesmo que seja uma vida Severina.

Desta forma, aprender com o passado, em particular com as reflexões deixadas pelos 75 anos do final da Segunda Guerra Mundial, também nos possibilita pensar acerca das consequências das escolhas que cada sociedade faz ou pode fazer. Existem é claro acontecimentos de difícil resolução e previsão: desastres naturais, acidentes, crises econômicas, doenças, dentre outros desventuras. Mas, como asseverou Nicolau Maquiavel, na clássica obra “O Príncipe”, texto do século XVI, ao menos em parte, é possível para aqueles que planejam, organizam e se prepararam, solucionar ou reduzir os efeitos de acontecimentos naturais, não previstos e/ou indesejáveis. E isso, para Maquiavel, depende do posicionamento de governantes e de governados que partilham as escolhas de uma sociedade em determinada época, lugar e contexto.

Há, portanto, escolhas que são difíceis mais são possíveis. A respeito, as reflexões sobre períodos posteriores a guerras, crises econômicas e pandemias, nos ensinam que em favor da vida, da liberdade e da solidariedade entre povos de diferentes nações, alguns países, partidos e políticos relativizaram divergências e se uniram em torno de princípios e de agendas políticas em comum: justiça social, políticas de Estado de bem-estar e liberdades democráticas individuais, coletivas e sociais.
No caso dos desafios atuais da democracia brasileira, em particular dos impasses federativos entre União, Estados, Distrito Federal e os municípios, em torno dos recursos e das ações para combate a pandemia do novo Coronavírus, as contradições entre o “nós” contra “eles”, nunca esteve tão em evidencia e nunca foi tão indesejado.  Mas, não obstante as diferenças e respeitados os códigos de civilidade, ética e diplomacia, entre aqueles que defendem a vida, a democracia, a justiça social e a liberdade de expressão, há mais pontos em comuns que diferenças.

Neste sentido, espero que as duras lições da Segunda Guerra Mundial possam também nos ajudar a pensar os desafios de nosso tempo. Dentre essas lições, por um lado, está a necessidade de recordar os horrores da guerra, das ditaduras e das arbitrariedades contra os direitos humanos, para que eles não sejam esquecidos e não voltem a ocorrer. E, de outro lado, a necessidade de articulação de pactos, frentes e alianças políticas em defesa da vida, das liberdades democráticas e do respeito aos diferentes. Lições presentes, rememoradas à distância pelos meios de comunicação e pelas redes sociais, dentro do chamado “novo normal” destes tempos de pandemia e de práticas de lockdown.  Ao menos, estes foram os sentimentos, sentidos e exemplos que as celebrações, ocorridas na primeira semana de maio deste ano, sob minha modesta interpretação, evidenciaram em razão dos 75 anos do fim da Segunda Guerra Mundial.

 Projeto Memória da Pandemia nas Alagoas
Coordenação
Luiz Sávio de Almeida e José Carlos Silva de Lima
O blog pode concordar ou não, em parte e no todo, com a matéria publicada
Nosso objetivo é deixar um painel diversificado sobre a pandemia nas Alagoas

Cármen Lúcia Dantas e Cíntia Ribeiro. NÓS QUE NOS AMÁVAMOS TANTO E O VÍRUS QUE NÃO AMA NINGUÉM. Empatia modula o “ novo normal” pós pandemia. Memória da pandemia nas Alagoas

Nosso casamento em 2013: o ano em que não corremos perigo


NÓS QUE NOS AMÁVAMOS TANTO E O VÍRUS QUE NÃO AMA NINGUÉM Empatia modula o “ novo normal”  pós pandemia


Cármen Lúcia Dantas  e Cíntia Ribeiro 


Na manhã chuvosa de domingo, 15 de março de 2020,  a ideia de isolamento social se materializou em nós. A decisão conjunta chegou uma semana após  ponderações sobre o impacto  avassalador  do novo coronavírus em outros países, principalmente Itália e Espanha.

Concordamos que a entrada da Covid-19 no Brasil  e o prenúncio de milhares de mortes, mais de 10 mil vidas e histórias dizimadas, até o fechamento desse texto (em 10 de maio), provocou em nós fraturas emocionais. Sentimos medos de ordem subjetiva e pavores coletivos. Sabíamos que o "novo normal" que estava por vir abalaria padrões e hábitos,  em sua maioria equivocados,  de nosso tempo. E abalou.

Nossa primeira constatação: pandemias como a  provocada pelo Sars-CoV-2   achatam  a curva do "individualismo de umbigo, do foco no eu sozinha. Recoloca-se no primeiro plano o senso de coletividade. Modula-se uma outra ordem de olhar empático sobre  os corpos e as  coisas “do"  e "no" mundo. 

Foi assim que nós, um casal de lésbicas - Cármen  (mulher branca,  74 anos, penedense, museóloga e professora aposentada da Ufal)  e Cíntia (mulher negra, 52 anos,  paulista, jornalista, doutoranda em Análise do Discurso e hipertensa)-  optamos por atravessar, juntas, o confinamento  e a  única pandemia de nossas vidas. 

Deixamos pra trás  o eco de um fevereiro alegre e carnavalesco. Mergulhamos num mar-ço” sombrio em que o barato" do baseado, outrora passado de boca em boca entre amigues (elas, eles e outros), cedia lugar a um cenário altamente contagioso, em que a máscara, enquanto representação mítica,  é içada à condição de sobrevivência. O mar, antes navegável, foi sugado por um tsunami de fascismo e pesadas ondas  negacionistas.  

Nossa experiencia pessoal, aqui  compartilhada, não foi construída apenas na perspectiva da diferença de gênero, mas também  a partir do acesso a direitos (água, comida, saneamento, moradia e emprego).  É desse lugar privilegiado e socialmente  higienizado"  com álcool  em gel, informação  e teletrabalho que experienciamos o isolamento social.

Nosso "lugar de fala" durante a pandemia não é acessado a partir da exclusão social. Essa é a grande angustia.   Perceber que em nós, e não em todas e para todas as mulheres, o enfrentamento  ao  novo coronavírus se daria de uma varanda suspensa”. 
Essa pseudo assepsia" não nos livra do contágio, do adoecimento e da morte pela Covid-19 que já atingiu nossos familiares. Reconhecemos o quanto nossa condição atual de saúde  não é materializada na perspectiva da desigualdade ou da  vulnerabilidade social.  E que, apesar de todo engajamento à dor e à condição de todos os corpos que estão a  nossa volta, nossa varanda permanece suspensa, longe de gatilhos de violência doméstica e de afetos abusivos. 

Nossa miserabilidade é da ordem do humano. Nossa precarização  é a impotência diante da condição de vidas LGBTQI+ . Nossa máxima ação e empatia,  não livra tantas outras Lésbicas, gays, travestis, mulheres e homens trans que, de terem,  nesse momento, suas rotas alteradase duplamente silenciadas pelo vírus real e pela política de virulência misógina, racista , homofóbica, transfóbica e machista  implementada pelo planalto central,  e que  nos atinge e  mata.

É desse lugar discursivo que enunciamos, choramos e tentamos resistir. Somadas, essas diferenças reorganizaram filigranas de nossa consciência material  e existencial.  Juntas, vislumbramos uma outra ordem de coisas e de humanidades pós pandemia com alcance para muito além de nossa bolha. Precisamos resistir.


Projeto Memória da Pandemia nas Alagoas
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Luiz Sávio de Almeida e José Carlos Silva de Lima
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