domingo, 15 de junho de 2014
Meu velho diário e a macumba nas Alagoas
Luiz Sávio de Almeida
Texto publicado em Contexto de 04 de março de 2012 em
Tribuna Independente. Para este blog, estamos utilizando material
digitalizado e com gerenciamento das imagens realizado por Kellyson
Ferreira, com a coordenação do Professor Antônio Daniel Marinho.
UM PEQUENO BILHETE SOBRE MACUMBA NAS
ALAGOAS
Continuamos o texto que foi publicado na
edição de. É uma pequena notícia de um tempo e do que restou dele em meu
arquivo. O que e poderia dizer?
Teria sido um tempo de perseguição e
também de afirmação? Como é que a história vai se acumulando nos terreiros e
como vai sendo a torma deles lidarem com o rastreamento do passado? Eu gostaria
muito de saber como esta ideia de tempo é vista e compreendida pelos terreiros;
penso, no mais que li, que, normalmente, o tempo é abstraído por um corte
epistemológico que ancora o terreiro e nisso futuro e passado vão embora. Será que isso faz
sentido? Bom, tá aí mais uma parte de um mero depoimento em cima de velhas anotações.
As fotos foram tiradas na Festa de lemanjá e são de nossa autoria.
Saravá que eu vou de banda!
Sávio de Almeida
Meu velho diário e a macumba nas Alagoas
Luiz Sávio de Almeida
INTELECTUAIS
A área da chamada ciência social demorou
a ficar clara em Alagoas; e, em grande parte, isso somente aconteceu quando a
Universidade ingressou na pós-graduação. Somente a partir dai, é que Alagoas
vai conhecer a especialização de antropólogos, sociólogos e outras categorias,
inclusive beneficiando-se de alguns profissionais que vinham de outros Estados
e passam a incorporar a produção e discussão à nossa. Anteriormente, o
intelectual provinciano espelhava-se no beletrismo e tendia à universidade
enciclopédica. Na área social, destacavam-se o historiador e o folclorista. A
história de um era a história do outro, o folclore de um era o folclore de
outro. A diferença estava simplesmente em ser bom ou não, mas a produção girava
em torno do mesmo eixo.
História e folclore eram tudo e a
síntese de tudo. Não estou minimizando o que foi produzido, estou somente pondo
na mesa o fato de que tínhamos dois modos de saber da sociedade e o tom
monocórdico de tratamento. Há uma possibilidade de diferenciação em trabalhos
de Sant’Ana e colocações relativas sobre método, aqui e ali, feitas com um
gosto naive, como se nota em passagens de Theo Brandão. Nisso, dois outros
nomes obrigatoriamente devem ser
contemplados: Félix Lima Júnior e
Abelardo Duarte. O forte do Félix era a percepção do cotidiano, a construção da
crónica, o almofadinha e a priminha urbana, com o negro indo para o escaninho
dos tipos populares e sempre tratados com afabilidade. O forte de Abelardo
Duarte era a tentativa de chegar às raízes. Essa diferenciação que ele vive
dentro do conjunto é acompanhada pelo trato do negro, não importa o viés
assumido.
Parece-nos imprudente afirmar que
inexistiu produção sobre o negro; o que sempre existiu foi o negro na condição
de uma temática periférica ou subordinada e não tratado como um sujeito
político. Na verdade, contudo, a religião passou de raspão nesse conjunto.
Continuidade do preconceito? Jamais se poderia seguramente afirmar tal coisa,
mas jamais poderíamos deixar de considerar dois pontos básicos: em primeiro
lugar, existem as opções pessoais de eleição de campos de investigação e, em
segundo, a sociedade continuava escondendo o mundo religioso negro, até mesmo
pelo fato de que a gente da macumba estava a viver submersa, a não ter presença
marcante na sociedade civil por onde uma representatividade política se poderia
fazer. A “ciência” não a pretendia descobrir, encontrar. O chamado Quebra já
havia indicado a sua colocação no universo da barbárie. SantAna em diversas situações trabalha o negro, mas preferencialmente
na sua condição de escravo, situado portanto na ordem econômica da produção.
Theo Brandão vê negro, mas especialmente no contexto do folguedo, dos contos:
era o negro-folclore. Abelardo Duarte está bem mais próximo da questão
religiosa, ele de fato, ensaia passos, mas sempre a arquitetura dos textos
funda- -se na perspectiva do folclore, fazendo parte da montagem de um campo
científico próprio.
O que seria folclore? No fundo, a
ausência da especialização e a herança histórica do açúcar e que junto à
história davam conta da sociedade e da cultura.
Talvez, como é de praxe, eu esteja sendo
absolutamente simplista. Entendo que nenhum dos grandes folcloristas de Alagoas
daquela época seria capaz de discutir, teoricamente, o campo, e ele, o campo,
era uma imposição. Não é que não tivessem suficiência pessoal, mas havia uma
severa falta de formação específica; então, a coleta era ótima e o trato ficava
limitado, pois o marco teórico não era aprofundado; da geração da Escola de
Viçosa, três eram médicos; Theo, José Maria e o Pimentel. Isso não implica em
que existisse um mau trabalho; pelo contrário, Alagoas se representava muito bem
no ambiente nacional do folclo- rismo, mas faltava-lhe a base antropológica e
fundamentação historiográfica.
Via de regra e ressalvadas as exceções,
os historiadores estavam presos ao heróico para aconstrução de uma história do exemplar,
enquanto os folcloristas pagavam o preço de suas origens intelectuais e
sociais, devendo ainda ser levado em conta que havia regra para validar o
intelectual provinciano; ele deveria parecer com os demais, repetir a ordem
emanada de um espelho posto em duas grandes instituições de notáveis, espécies
de templo onde cabiam as sumidades - ditas “assumidades” no linguajar coloquial
das Alagoas dentre os não muitos afeitos ao trato da inteligentzia.
AS DOENÇAS DO FOLCLORISMO
Uma velha anotação que realizei, informa
sobre uma conversa que tive com o Theo Brandão na casa dele. Estava havendo um
encontro e fui convidado para falar: a temática era algo como o Ciclo do Gado.
Telefonei para o Theo, vi que estava disponível. Para testar se ele estava com
tempo para perder comigo, eu sempre me anunciava no telefone como Pedro II. Se
ele respondesse que era o Marechal Deodoro, iríamos conversar e eu sempre
lucrava com isso. Eu disse que não sabia nada sobre ciclo e nem era vaqueiro
para entender de boi; começamos a rir e a conversa foi derivando para o que me
interessava.
Aí, o Theo Brandão foi audacioso: “Sabe
de uma coisa, não fale sobre esse negócio não. Fale sobre nossa conversa”.
Alinhamos o que passamos a chamar, talvez por influência dele que era médico,
as cinco doenças do folclorista, coisaque parece havia sido tocada por um
folclorista americano, do qual não recordo o nome, gente da UCLA. Dito e feito.
Dei o recado com a empáfia afrontosa da juventude calçada pela autoridade do
“mestre”. Nas doenças estavam o memo- rialismo e as atitudes de classe. A velha
anotação me trouxe saudade, mas vou continuar lendo e comentando o que está no
meu Diário sobre o assunto, em uma anotação sobre o que seria o folclorismo nas
Alagoas.
O grande modelo do folclorista era dado
pela escola de Viçosa, expressão que segundo me consta foi criada pelo Manoel
Diégues Júnior em tom de brincadeira, mas que deve ser explorada em
profundidade. Manoel Diégues Júnior nunca abandonou Alagoas, apesar de ter
mudado daqui, como saíram Aurélio Buarque de Holanda, Jorge de Lima, Graciliano
Ramos, Humberto Bastos... Uma vez, em jantar na casa do Diégues no Rio de Janeiro,
perguntei a razão de ele ter ido para o sul e a resposta foi óbvia:
oportunidade, não teria condições de viver em Maceió.
Anotei que a idéia do Doutor Diégues não
era a existência de uma Escola de Viçosa, no sentido usual que o termo carrega
acadêmico; era a de que os folcloristas se escolarizavam na Viçosa. Nada a ver
com a educação formal; é uma imagem que leva à ideia de organicidade, escola
como referência ao orgânico. Nunca conversei com o Doutor Diégues sobre isso e
arrependo-me. Mas foi assim, que o assunto foi parar no meu Diário: o que se
encontrava em evidência era a circunstância de Viçosa e que ela havia permitido
a safra representada pelo Theo, pelo Zé Aloísio Vilela, pelo Doutor José Maria
de Mello, continua- dores de uma geração anterior de intelectuais, brutalmente
confrontada por Otávio Brandão e possivelmente oriunda de Alfredo Brandão.
Jamais os componentes da Escola poderiam
fugir do fato de serem Mello, Vilela e Brandão que plantaram costados na mata. O
lastro da Baixa Funda e outros estavam presentes e eles, os folcloristas, não
escondiam essa vinculação açuca- reira e nem tinham razão para esconder. O Theo
e o Doutor José Maria de Mello se urbanizariam, mas manteriam a ideia de uma
raiz no rural da mata; Zé Aloísio continuaria agarrado nas canas da Boa Sorte
(não sei se inventei o nome).
O lastro do Doutor José Maria continuava
como se pode ver nos seus trabalhos literários e sobre folclore. Era um homem
afável, comedido, sério, desviado de uma carreira mais numerosa em livros pela
atividade política, engenho e sua medicina. Era aparentado e amigo do meu pai.
Certa feita, eu estava no Instituto Histórico e ele conversou um bom tempo
sobre este relacionamento.
Nessa circunstância, ser folclorista era
bem mais do que trabalhar o que se consideravadentro da área do folclore; era uma
indicação que remetia à mata, ao açúcar, á Baixa Funda, Boa Sorte... Eram
espelhos, a gente olhava para eles como verdadeiros exemplos e não posso
esquecer o terno branco de linho que o Doutor José Maria gostava de usar,
engomado, passado, vinco nas calças, tudo emoldurando um sorriso simpático.
Além do mais, todos eles eram acolhedores, rião se furtavam à rapaziada, apesar
de gente da Academia Alagoana de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico de
Alagoas. Gente consagrada, de alto prestígio social e cultural.
Como se fosse um passe de mágica e por
serem espelho, Boa Sorte e associados arrastavam a todos nós que não tínhamos
outra opção para estudar Alagoas: folclore. Não posso deixar de dizer sobre
minha expectativa, quando pelas mãos do Theo fui ser membro da Comissão
Alagoana de Folclore, coisa ainda do tempo do Doutor Renato de Almeida e do
Vicente Salles, gente do Pará que havia ancorado na Comissão Nacional de
Folclore e com quem passei a manter contato constante, época em que conheci e
papeava com o Edson Carneiro, eu ainda molecote, menino que não havia tirado
o cheiro da urina.
Então, a circunstância de Viçosa invadia
o anseio da molecoreba que via e podia conviver com os grandes. No meu caso, ainda
havia o peso da herança dos Almeidas da Capela; meus pais a não deixarem de
lado as origens rurais na cabeça do filho. Então, pra mim, foi um encontro
pessoal, o mergulho no folclore. Theo andou lendo Redfield e começou a falar de
comunidade folk e coisas afins. Falava de Chã Preta e esse foi meu primeiro
destino: mergulhar em Chã Preta, lá pelos lados do Cavaleiro, subida bem após a
Baixa Funda quando ainda havia ladeira a considerar, carro bambeando na lama a
quase derrapar para o precipício.
Chã Preta era a continuidade de Viçosa e
de lá surgia um extraordinário Professor Pedro Texeira, costados na Medina,
filho de Seu Al e que se considerava um homem folk. Andei muito na Medina e por
toda Chã Preta, acompanhado às vezes pelo Netinho, chafurdando no engenho do
Benedito, conversando com os povos daquelas bandas. Devo imensamente ao Theo e
ao Professor Pedro Texeira.
Essas coisas lidas no velho Diário
(todos os dias continuo a escrita, vício que aprendi com o meu pai) falam um
pouco do que era o universo intelectual nas Alagoas do meu tempo de menino e,
se a gente pensar direitinho, tudo interferia no campo dos estudos das
religiões afro-brasileiras.
Pelo que deve ser notado, o folclore era
uma espécie de terra sem fronteira, possivelmente, pelo fato de que nascia no
vácuo de uma tradição antropológica nas Alagoas. Apesar dessa abertura, ele
envolvia o seleto que se lastreava, dentre outros pontos, nas origens do próprio estudo do folclore no Brasil,
tradição de Silvio Romero, João Ribeiro e outros pais fundadores. Pelo que
entendo, o folclore é anterior à antropologia no Brasil. Por outro lado, em
razão derivada em grande parte das ligações históricas, tinha-se a procura
pelas origens das manifestações (como eram chamadas) folclóricas, dando-se o
com- parativismo e privilegiando-se Portugal e o que nele se fazia naquilo que
era chamado, à época, de etnografia do além- -mar e necessariamente bisonha.
Acredito que ao folclore se incorporava basicamente o senso ibérico.
O mais importante, contudo, é que privilegiava
o quadro agrário, que transparece na existência de uma Escola de Viçosa. Aí,
pontos devem ser considerados, já que estamos falando de macumba. Em primeiro
lugar, convém lembrar que a macumba era vista no urbano e não no rural. É claro
que era difundida no território, mas as referências eram sempre urbanas, pelo
menos, conforme anotei; em segundo lugar, havia um sacrário onde estava a
religiosidade católica apostólica romana e tudo passava a girar em torno dela,
usando-se a interessante expressão: catolicismo de folk. Nesse contexto da
religiosidade, jamais poderia ser construído uma religião afro-brasileira-folk.
Semelhante ao isolamento policialesco havia o isolamento teórico, a não
constituição de um campo, matéria tão a gosto dos intelectuais rigorosos e
ciosos, aos quais invejo pela tanta ciência que conseguem.
Aprisionado pelo preconceito, perseguido
e desamparado de campo de investigação, somente poderia acontecer o que se deu.
Theo reclamava negligenciamento; nas minhas velhas anotações está escrito
impossibilidade. Somente quando Maceió adquire o quadro urbano de hoje, quando,
inclusive, aparece o negro como movimento, é que se pode pensar em
modificações. A quebra do círculo passa pela Marilu de Gusmão, embora
episódico. Do século passado, há material na literatura de Pedro Nolasco
Maciel; em nosso século é no contexto do período em que se escuta a queixa do
Theo, que ai aparece um texto chamado “Tambores de Ponta Grossa” (citado de
cabeça e, portanto passível de equívoco) de Lindalvo Lins e não conheço algo
mais, embora, seguramente, deva existir.
Voltando ao início, não tenho qualquer
intenção de chegar a conclusões. Penso, apenas, que dei uma contribuição e que
ela poder ser insti- gante com a relação ao tema. Há um grande espectro que se
abre sobre o assunto, indo da construção da sociedade ao campo científico. No
entanto, muito deve ser pesquisado. Acredito que as anotações velhas e
amareladas tenham contribuído com alguma coisa. Continuamos sabendo de nossa
posicao: o cerco ao afro- brasileiro era global.
E necessário esclarecer o universo:
estamos diante de associados de uma organização chamada Federação dos Cultos
Afro-Brasileiros de Alagoas. Nada pode garantir, embora a hipótese caiba, sobre
estarmos diante de uma amostra efetivamente representativa do conjunto dos
cultos nos finais da década de sessenta do século XX. Gostaria que durante toda
a leitura desta parte do meu Diário, esse fato estivesse evidente. No entanto,
desejo afirmar que os dados sugerem um quadro possivelmente colado às
características do conjunto; devem ter aigum nível de representati- vidade.
Então, o texto do Diário, suas
anotações, deve ser entendido como abertura de pistas, informações sugestivas
sobre o universo a partir do que se pode observar em cima de uma simples
listagem de endereços. Recordo-me que fui ajudado, na coleta dos endereços, por
dois estudantes de medicina: Terezi- nha e Júlio. Agradecido agora, como
deveria ter agradecido antes, caso eu realmente tivesse estudado o assunto. A
listagem era preparatória para que eu fosse visitar e entrevistar os diversos
centros. Não foi possível.
A GEOGRAFIA URBANA DOS CULTOS
Lins (com
quem convivi) que era jornalista penso que do Jornal de Alagoas, percorreu
inúmeros terreiros de Maceió. Sabia que eles funcionavam nos mais diversos
bairros da cidade, mas frisava a concentração na Ponta Grossa. De fato,
dizia-se que na sexta-feira, os sons dos toques tomavam conta do bairro. Na
realidade, conforme anotei, em diversas ruas da Ponta Grossa se tinha os
terreiros em culto, mas eles se universalizavam pelas áreas pobres da cidade.
Não se escondiam e nem podiam; o traçado urbano os enfiava no meio das casas. A
Ponta Grossa, o Prado, o Vergel do Lago englobavam cerca de 31% (n=185) dos
casos, formando o que poderia ser considerado como o complexo Sul do Xangô em
Maceió.'
Essa concentração ocupava uma imensa
área da cidade, mas os bairros de maior densidade xangozeira eram Ponta Grossa,
Ponta da Terra, Prado, Bebedouro, Jacintinho e Vergel do Lago. A porção norte
era xangozeiramente menor. Eles se destacam, o que deve decorrer, em parte, do
tamanho e da densidade de ocupação. O fato é que se poderia ouvir toque por
todos aos cantos, nos dias normais, nos dias de festa, nas Salvas de Exu que
sempre eram ditas perigosas. Uma boa Salva de Exu é impressionante e hoje, no
peso da Umbanda, a Pomba Gira, seu Zé Pilintra, Tranca Rua dão as cartas.
Aliás, tenho amizade com o Zé Pilintra e
com o Tranca Rua, mas tenho, também, amizade com o nagô do Tiriri, parebetile
de nanan, Exu Tiriri! É a amizade com os homens. Anotei a participação em duas
dessas salvas, onde baixavam os mais diversos Exús atrás de cabeças, dando
preocupação aos Pais e Mães de Santo - expressões nem sempre bem recebidas
pelos Ialorixás e Babolorixás além de abrirem margem para a possibilidade de
uma intervenção policial pela cachaça que um Zé Pilintra entorna. Um deles quis
se engraçar comigo, certa feita, cheio de cana, mas eu saí de banda que não sou
besta e soube reconduzir a conversa, levando as baforadas de um charuto na cara. Foi o Tranca Rua,
depois um bom amigo quando viu que eu não reagia, mas não esfriava.
Parece-nos possível afirmar que a
Federação espalhava a sua atuação e que apesar de estar sediada na Ponta
Grossa, conseguia atuar em toda a cidade de Maceió, além de ter alguns poucos
inscritos em outros Municípios. O número de entidades do interior era
estatisticamente insignificante.
Fora um único no Jacintinho, justamente
o Ijexá do Celestino, eu frequentava a porção Norte, talvez pelo fato de que a
maioria dos amigos morava naquela parte da cidade, talvez pela concentração,
talvez por ser o local da sede da Federação ou por conta da junção em todo ou
em parte desses elementos. Pelo Diário, a minha intenção era familiarizar-me
com uma área central dos cultos, esperando que ali estivesse refletindo o geral
da cidade. Demorava-me mais no terreiro do Luiz Marinho, pois objetivava
conhecer um núcleo a chamar-se Nagô em maior profundidade, para sair comparando
e perguntando. São anotações dessas perguntas e dessas comparações que se
encontram perdidas. Luiz Marinho achava que eu era Filho de Santo do terreiro
dele e eu nunca contradisse. Jogou os búzios e me deu Xangô de frente (Eiô,
Cabecinha).