Uma visão macro a partir de uma experiência individual
Pei Fon
Texto e fotos
2020 não começou com todos
gostariam.
Todo mundo teve que desfazer suas programações em virtude do novo, do desconhecido, de algo assustador que se espalhou pelo mundo.
A pandemia do coronavírus não viu conta bancária, posição social, religioso, sexual, nada.Como morada do famigerado bairro do Pinheiro, já convivia com o medo do desconhecido (pessoas) e com a indignação de erros humanos cometidos no passado.
Nesse presente, conviver com medos distintos, me fez observar mais para dentro do que o mundo externo. E essa visão, a partir da minha casa, não é acolhedora, nem motivadora.
Observar meu vizinho deixar o seu lar, não foi nada reconfortante. Ele olha para a sua casa em pedaços na certeza de que, para onde ele for, não será a mesma coisa. Ele escolheu onde morar e decidir sair, em meio à pandemia, não foi uma das tarefas mais fáceis.
E não tem sido nem para mim. Todos os dias surgem curiosos e pessoas que tentam subtrair o que foi deixado para trás. Ou tentam entrar nas casas vizinhas para levar o que não é seu.
Esse medo é mais um capítulo da
indignação que todo morador do Pinheiro sente. Sinto-me refém em minha própria
casa. Um lugar de refúgio se tornou uma prisão.
Diante disso, é preciso manter
a esperança de que dias melhores possam vir e que, ao menos, sejamos reparados
materialmente. Muito embora, o verdadeiro bem, o que não é palpável, não tem
preço, é a memória afetiva. Essa, definitivamente, nunca será reparada.
Enquanto isso, todos da minha
casa se preparam emocional e psicologicamente para abandonar o lugar de nossas
mais belas memórias.
Sinto-me na obrigação de intervir neste trabalho, por ele mostrar como a arte é capaz de expressar a densidade de um drama humano e, por outro lado, de uma cidade. Pei Fon consegue transformar a dor do Pinheiro em símbolo das dores de Maceió e a sua própria na de todos os abalados pela tragédia que roubou sonhos, momentos na tempestade do tempo que se formou de virus e de destruição.