sábado, 14 de junho de 2014
A redescoberta do amor: a mãe e sua filha homo
Texto publicado em Contexto de 1 de janeiro de 2012 em Tribuna Independente. Para este blog, estamos utilizando material digitalizado e com gerenciamento das imagens realizado por Kellyson Ferreira, com a coordenação do Professor Antônio Daniel Marinho.
A redescoberta do amor e de uma filha
Ângela Moysés
Tenho 2 filhas, uma com 24 anos e outra
com 21. Descobri a homossexualidade da mais velha há 8 anos, quando ela
estava com 16 e com um comportamento diferente: estava triste, nervosa,
arredia. Quando eu perguntava o que estava acontecendo, ela me dizia:
“Nada, mãe, estou apenas estressada, muita coisa pra fazer...”
Ela realmente estava estudando muito, Io ano do Ensino Médio de manhã, curso de Inglês à tarde, cursinho à noite, era compreensível que estivesse cansada e nervosa. Pedi-lhe que parasse alguma coisa, que não exigisse tanto de si mesma, mas não adiantou. Ela continuou se “atropelando” (hoje sei o porquê) e ficando cada vez mais nervosa e depressiva.
Uma noite, após pegá-la no cursinho, sentamos para lanchar e eu lhe disse que não levantaríamos da mesa enquanto ela não me contasse o que realmente estava acontecendo com ela. Ela começou a chorar e falou que achava que era diferente, que gostava de meninas e não de meninos. Fiquei muito chocada, não esperava a “novidade”, nunca me passou pela cabeça que ela pudesse ser lésbica. No momento da revelação choramos muito, eu a abracei e me coloquei ao lado dela, reafirmei meu imenso amor por ela, e me senti péssima por não ter desconfiado de nada antes e ajudado minha filha nesse conflito que ela estava vivendo sozinha desde os 12 anos.
Sofri muito pensando na discriminação e no preconceito que ela iria sofrer ao longo da vida, mas decidi que estaria ao lado dela nessa luta, apoiando-a e lutando por respeito. Para nossa grata surpresa meu marido recebeu a noticia com muita naturalidade, e também se colocou ao lado
da filha. Lemos muito sobre a homossexualidade, pesquisamos, aprendemos, pois apesar de nunca termos sido preconceituosos, pouco sabíamos sobre o assunto.
Ela optou por viver de maneira aberta, quis que contássemos aos familiares e amigos, e nós concordamos e contamos para todos. Não gostaríamos que nossa filha tivesse que viver escondida, viver uma vida de mentiras, não, ela iria trilhar o seu caminho verdadeiro, sem disfarces. Essa é a opção dela e a nossa também. Não há vergonha, não há culpa, não há doença. Para nós a homossexualidade é uma condição natural, uma característica individual dela assim como a cor dos olhos, dos cabelos, da pele. Assim como a heterossexualidade da nossa outra filha.
Alguns pais e mães tendem a se esquecer de todas as qualidades de seus filhos/as quando os descobrem homossexuais, não os reconhecem mais. Para mim foi exatamente o contrário, eu descobri minha filha por inteiro quando ela me contou, e passei a admirá-la ainda mais por suas atitudes, sua postura.
Hoje nossa relação familiar é muito melhor do que antes, é verdadeira, conversamos abertamente sobre tudo. Passamos por vários problemas relacionados à homofobia, agressões, ameaças de morte à nossa filha, delegacia, advogados, mas em todos os momentos estivemos juntos, mostrando a nossa cara e dizendo: “sim, ela é lésbica, nós a amamos e vamos brigar pelos direitos dela”.
Ainda não é fácil para a sociedade aceitar um/a homossexual vivendo sua orientação sexual abertamente. Não, para muitos os homossexuais devem ficar confinados em guetos, o assunto não pode vir à tona num almoço de família, e eles não podem dar bandeira. Eu não penso assim.
Ela realmente estava estudando muito, Io ano do Ensino Médio de manhã, curso de Inglês à tarde, cursinho à noite, era compreensível que estivesse cansada e nervosa. Pedi-lhe que parasse alguma coisa, que não exigisse tanto de si mesma, mas não adiantou. Ela continuou se “atropelando” (hoje sei o porquê) e ficando cada vez mais nervosa e depressiva.
Uma noite, após pegá-la no cursinho, sentamos para lanchar e eu lhe disse que não levantaríamos da mesa enquanto ela não me contasse o que realmente estava acontecendo com ela. Ela começou a chorar e falou que achava que era diferente, que gostava de meninas e não de meninos. Fiquei muito chocada, não esperava a “novidade”, nunca me passou pela cabeça que ela pudesse ser lésbica. No momento da revelação choramos muito, eu a abracei e me coloquei ao lado dela, reafirmei meu imenso amor por ela, e me senti péssima por não ter desconfiado de nada antes e ajudado minha filha nesse conflito que ela estava vivendo sozinha desde os 12 anos.
Sofri muito pensando na discriminação e no preconceito que ela iria sofrer ao longo da vida, mas decidi que estaria ao lado dela nessa luta, apoiando-a e lutando por respeito. Para nossa grata surpresa meu marido recebeu a noticia com muita naturalidade, e também se colocou ao lado
da filha. Lemos muito sobre a homossexualidade, pesquisamos, aprendemos, pois apesar de nunca termos sido preconceituosos, pouco sabíamos sobre o assunto.
Ela optou por viver de maneira aberta, quis que contássemos aos familiares e amigos, e nós concordamos e contamos para todos. Não gostaríamos que nossa filha tivesse que viver escondida, viver uma vida de mentiras, não, ela iria trilhar o seu caminho verdadeiro, sem disfarces. Essa é a opção dela e a nossa também. Não há vergonha, não há culpa, não há doença. Para nós a homossexualidade é uma condição natural, uma característica individual dela assim como a cor dos olhos, dos cabelos, da pele. Assim como a heterossexualidade da nossa outra filha.
Alguns pais e mães tendem a se esquecer de todas as qualidades de seus filhos/as quando os descobrem homossexuais, não os reconhecem mais. Para mim foi exatamente o contrário, eu descobri minha filha por inteiro quando ela me contou, e passei a admirá-la ainda mais por suas atitudes, sua postura.
Hoje nossa relação familiar é muito melhor do que antes, é verdadeira, conversamos abertamente sobre tudo. Passamos por vários problemas relacionados à homofobia, agressões, ameaças de morte à nossa filha, delegacia, advogados, mas em todos os momentos estivemos juntos, mostrando a nossa cara e dizendo: “sim, ela é lésbica, nós a amamos e vamos brigar pelos direitos dela”.
Ainda não é fácil para a sociedade aceitar um/a homossexual vivendo sua orientação sexual abertamente. Não, para muitos os homossexuais devem ficar confinados em guetos, o assunto não pode vir à tona num almoço de família, e eles não podem dar bandeira. Eu não penso assim.