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quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Ivanilson Martins dos Santos. A PANDEMIA DO NOVO CORONAVÍRUS: ENTREVISTA COM O PAJÉ JAIR XOKÓ

 


A PANDEMIA DO NOVO CORONAVÍRUS:  ENTREVISTA COM O PAJÉ JAIR XOKÓ

Ivanilson Martins dos santos – Xokó        

                                                              Graduado em História - UFAL, Técnico em Agroindústria - IFS, ativista em defesa dos povos indígenas.

 Escrevi a pouco tempo, precisamente no dia 04 de julho de 2020, um sucinto artigo que foi publicado no blog Campus do Sávio Almeida, cujo título foi “Até o Nosso Ritual, o Ouricuri, tem que Esperar: a pandemia do novo coronavírus (Covid-19)”. Devido aos relatos, não só por mim, como também de outros indígenas da nossa região sertaneja, achei importante escrever outro texto, agora em formato de entrevista com o meu Pajé Jair Acácio da comunidade indígena Xokó, da Ilha de São Pedro, Sergipe.

A pandemia até o momento, meados de agosto de 2020, só avança, não tivemos ainda uma redução de contágios nas aldeias, falo em uma perspectiva geral. Nós indígenas, temos uma cosmovisão sobre os acontecimentos, no meu entender, e do meu Pajé, isso tem um motivo, vamos entender o porquê dessa pandemia que extermina vários povos. Conosco, não foi diferente. No dia 18 de julho 2020, busquei umas respostas para esse vírus invisível que mata milhões de pessoas no Brasil e no mundo: falei com o meu Pajé Jair Acácio Xokó sobre a COVID-19. Essa entrevista, aconteceu remotamente, considerando as orientações da OMS, Ministério da Saúde e Secretarias Municipais de Saúde Pública, para evitar novos contágios do Novo Coronavírus.

 

Ivanilson Martins Xokó:

Primeiro, queria perguntar ao Pajé o nome completo e a função na comunidade. Boa noite Pajé?

Pajé Jair Acácio Xokó:

— Boa noite Vanicinho, aqui é o Pajé, né? sou daqui da aldeia Ilha de são Pedro, município de Porto da Folha, do estado de Sergipe, e, além de ser Pajé eu sou agente comunitário de saúde aqui do município de porto da Folha, né? Faço as duas funções no momento da pandemia, é, tanto na área da saúde, e como Pajé, é, eu tava cuidado dos meus parentes, aqui, a, muitas vezes é a parte psicológica, muitas vezes, agente como Pajé ajuda, né? Essa força que acreditar no pai Yandêrú, e da Natureza.

Ivanilson Martins Xokó:

Como Pajé, poderia falar um pouco do porquê dessa pandemia está existindo no mundo?

Pajé Jair Acácio Xokó:

— É, na minha opinião, no meu ponto de vista, eu acredito que, desobediência! Né? Desobediência da humanidade, é, o homem tentando destruir a natureza, e com certeza, esse negócio forte que tá vindo de forma como ensinamento pra humanidade inteira. Eu acredito assim.

Ivanilson Martins Xokó:

— Pajé, acha que essa pandemia, por exemplo, nessa questão medicinal, a medicina indígena nesse momento, ajudaria essa pandemia em algumas curas nos parentes? Como o senhor observa isso?

Pajé Jair Acácio Xokó:

— É, realmente, as plantas medicinais, ela com certeza, nos ajuda bastante na prevenção do nosso povo, como esse vírus aí que é realmente muito sério, né?  É, a COVID-19 veio pra ensinar a humanidade inteira, e, eu acredito com as plantas medicinais nos ajuda bastante na prevenção pra combater esse vírus.

Ivanilson Martins Xokó:

Eu vou fazer logo as perguntas, e aí o senhor me reponde direto para adiantar logo. A primeira pergunta é: 1. O que fazer e como fazer para proteger o povo dessa pandemia? 2. Nesse contexto da pandemia, o que a comunidade Xokó recorre para se proteger?  Por que e como recorre?

Pajé Jair Acácio Xokó:

  Boa noite, Vanicinho, sobre a pandemia, eu acho que o primeiro ponto, é que orientamos aqui na aldeia, é, que não saia para a cidade sem nenhuma necessidade, que, se sair,  que saia pra comprar comida, e num banco, e,  cumprir com a distância, e usamento de máscara, e, a outra, é que a gente primeiro tem que ir sempre na cultura do povo,  pedi, sempre ao nosso pai a proteção, que dependente de agente não podemos aglomerar, mais que, além das plantas medicinais tem que ser tomada para se proteger desse mal, e através  das orações pedindo ao nosso pai, essa proteção que vem do céu para que a gente se proteja e passe por esse mal.

Ivanilson Martins Xokó:

  Pajé Jair, eu só queria agradecer pela entrevista, finalizo a entrevista aqui, às 19 horas e 46 minutos, e queria agradecer pela oportunidade e pela disponibilidade desse momento. Eu só queria pedir agora autorização para publicar essa entrevista, então vou mandar o áudio pedindo essa autorização. Pajé Jair, o senhor autoriza eu fazer essa publicação, é, dessa entrevista?

Pajé Jair Acácio Xokó:

  Obrigado, Vanicinho, e na hora, é, sempre tô assim, no momento que você solicitar, com muito orgulho, ne? Autorizo essa publicação e agradeço por você está divulgando esse momento, que é, com certeza, importante esse trabalho que você está fazendo.

Registro esse momento como historiador, e, como tal, afirmo a importância para nós indígena esse tipo de diálogo, seja em formato de entrevista, ou mesmo sem intenção acadêmica. O cuidado em registrar os momentos da história, nos ajuda a entendê-la e a não projetar futuramente. O Pajé Jair Acácio Xokó, também já foi nosso cacique em outros momentos. Suas falas, demostram o cuidado conosco, percebemos que a todo o tempo, o Xokó foi bem orientado para não aumentar a propagação do Novo Coronavírus na comunidade indígena da Ilha de São Pedro do povo Xokó.

Fica a lição de que uns dos motivos para o que estamos vivenciando nesse momento de catástrofe sanitária, é como afirma nosso Pajé: “desobediência da humanidade”, a COVOD-19, seria uma espécie de ensinamento para os povos. Precisamos pensar e repensar nossas ações, o mundo está nos ensinando. A chance é agora. Avante! 

 


 

 

Índios e  pandemia 

coordenador Prof. Amaro Hélio da Silva

 

 

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