A dança macabra do virus em Maceió: o ”suave” do mês de março
Luiz Sávio de Almeida
Uma primeira versão deste texto foi publicada no site Ocho2
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The macabre dance of the virus in Maceió: the "soft" month of March
La danza macabra del virus en Maceió: el mes "suave" de marzo
La danse macabre du virus à Maceió: le mois «doux» de mars
Pequena indicação metodológica
Apesar
de ser trabalhado seriamente, o
Informativo Epidemiológico editado pela Secretaria de Saúde do Município de
Maceió, apresenta alguns pequenos problemas para que se empreenda a condução da
análise dos dados. Estas pequenas dificuldades podem ser agrupadas quanto à
periodicidade, ingresso e retirada de variáveis, bem como formas de anotação. Claro
que elas não são, de longe, suficientes
para arranhar o que se pode extrair de uma fonte extremamente rica para a pesquisa. No entanto, é necessário
fazer esta ressalva, como resguardo do texto, pois em alguns casos tivemos que
realizar interpolações, considerando que na ausência da informação prevalecia a
média entre o dia anterior e o posterior; segundo supomos, alguns dias não
tiveram seus arquivos postos à disposição.
O
primeiro Informe Epidemiológico da
Secretaria de Saúde do Município de Maceió,
data de 15 de março de 2.020 e ele consignava que haviam sido realizadas
cerca de 56 notificações de casos, com
37 considerados suspeitos e dando-se a confirmação laboratorial de apenas 1, com
descarte de 22 e 14 estando sob investigação. O Informativo trazia indicações sobre o que vamos considerar como variáveis
operacionais: sob investigação,
confirmados, descartados e excluídos e apresentava, também, a totalização dos dados de tais categorias. Ao longo da
série publicada, foram realizadas mudanças, especialmente a partir de abril. Evidentemente, as mudanças podem e devem
acontecer, mas – quem sabe ? – deveria ser dada a devida informação ao
usuário. Isto possibilitaria melhor
entendimento do que vinha acontecendo; a retirada de um dado, por exemplo, implica para o pesquisador realizar diversas
perguntas sobre a razão da exclusão. Contudo,
nem de longe invalida o essencial que a Secretaria fornece e tudo deve ter
acontecido em busca de ajustar um bom padrão de informação.
Neste nosso trabalho, o objetivo
é, apenas, o de trabalhar uma série histórica, para entendermos, um pouco,
sobre o avanço do virus na cidade. E faremos , então, um estudo preliminar da
distribuição de variáveis operacionais e fundamentais do boletim mencionado,
primeiro verificando o que se deu com dois dados essenciais: os casos
confirmados e os óbitos. O trabalho constará de três etapas. A primeira é
verificar o que havia sido informado sobre o mês de março, espécie de antessala
para a confirmação do porte do virus em abril e sua fortíssima caminhada durante
o mês de maio. A segunda seria verificar o crescimento em abril e maio em busca
dos
confirmados e, dentre eles, os óbitos. A
terceira etapa de nosso trabalho é ligada à duas condições essenciais: o que
ocorre como distribuição territorial do virus e indicações de caracterização
social das pessoas que foram infectadas. Para efeito do exame do processo, lidaremos com
a periodicidade de sete dias a partir do 1º de abril. Supomos que em uma semana
periodicamente, tenha-se a possibilidade de ir acompanhando o ritmo de
transformações que vão acontecendo sobre o comportamento do virus no maior
centro urbano de Alagoas e cabeça de uma área metropolitana de peso na
composição do Produto Interno Bruto e parcela significativa da população do
Estado de Alagoas.
Um mar de aparente bonança
No
seio da tempestuosa passagem do virus em Maceió, o mês de março poderia ser
considerado como “suave”, dando-se no último dia, o primeiro registro de óbito.
Fica este marco trágico, no 31 daquele mês. O primeiro caso oficialmente conhecido de
óbito vem do mês de março, conforme se
pode ler no Informativo nº 1 da Secretaria Municipal de Saúde. É daí que
evoluem os registros oficiais. Há matéria de 8 de março, publicada no portal G1
que se reporta à infecção em pessoa que veio da Itália e que se encontrava em casa.
A manchete destaca a Itália: Homem que veio da Itália é o primeiro caso
confirmado de coronavírus em Alagoas, diz Secretaria. É por aí que acontece, oficialmente, o começo
e a multiplicação de resultados, de ataques.
Não é viável afirmar que os casos nasçam desta contaminação, desta
primeira, como se todos os outros a continuassem, mas o registro vem daí; é daí
que evoluem e trafegam por nossa cidade e andam “suavemente” pelo mês de março,
no sentido de que suas proporções ainda não eram as que serão vistas dois meses
depois, em maio, apesar de que se tinha alta velocidade em demanda de
investigação, como se pode verificar no Gráfico n.º 1. Aliás, até o dia 26 de
março, a curva assume todas as características de uma exponencial, havendo uma queda e uma retomada. Este
comportamento das investigações significava que se encontrava instalada uma
necessidade de esclarecimento crescente e que a população iria, cada vez mais,
demandar por aclaramento de diagnóstico.
Gráfico n.º 1 – Investigações realizadas no âmbito da
Secretaria de Saúde do Município de Maceió no período de 15 a 31 de março de
2.020
A
pressão por esclarecimento a partir das investigações deveria ser forte sobre a possibilidade de resposta municipal, valendo considerar que o retardamento e a
subnotificação poderiam estar ocasionando a maximização do que vamos chamar de
casos invisíveis e que não seriam apenas os assintomáticos. O volume da
subnotificação, segundo alguns levantamentos que circulam, é altíssimo. Procurar
saber, diagnosticar o caso, estava sendo
uma preocupação a ganhar corpo. O fato básico é que se parte de 12 investigações no início da quinzena e atinge-se
no fim do mês a 212, um notável crescimento pois o último dia do mês de
março era 15 vezes maior, estando em vigor o decreto do
isolamento.
O Decreto não teria sido lançado
ao lado de um estadual, se não tivesse sido realizada uma severa avaliação do
que estava acontecendo e do que poderia se desenvolver. Apesar de estar levando
em conta o impacto na economia, a escolha foi realizada. Não resta dúvida de
que aconteceria impacto na ordem econômica, mas era necessário resguardar a
população do contágio, inclusive para diminuir o impacto futuro sobre os
serviços. Projeções, cenários sobre o
que poderia acontecer com Alagoas, começavam
a serem produzidas e isto levava
a se pensar em maior nível de
acautelamento. É que a partir de 18 de março, começava a se esboçar a escalada
dos casos confirmados, cujo vigor de crescimento pode ser visto no Gráfico n.º
2.
Gráfico n.º 2 – Casos confirmados em Maceió pelos dados da
Secretaria Municipal de Saúde, no período de 15 a 31 de março de 2.020
Evidentemente, o comportamento da série de confirmações
teria de ser diferente do que se teve para as investigações. A correlação entre
as duas variáveis praticamente não deve ser explorada; são duas ordens de
crescimento diferentes: o avanço na linha das investigações jamais poderia
estar altamente relacionado ao avanço dos casos confirmados. Observe-se, que ambas têm elevadíssimo
coeficiente de expansão e atingem no dia 31 de março, um patamar inúmeras vezes
mais alto do que esteve no dia 15 do mesmo mês, data de publicação do
Informativo Epidemiológico n.º 1. A diferença do crescimento das duas
categorias fica clara no Gráfico n.º 3, onde se tem os valores diários
expressos em percentual sobre o dia 15 de março que seria, então, a base. No
último dia desta escalada, surge a
primeira morte alagoana, registrada como sendo da responsabilidade do
Coronavirus.
Gráfico n.º 3 - Índice de crescimento com base em 15 de março
de casos confirmados e investigações