sábado, 14 de junho de 2014
Texto publicado em Contexto de 23 de dezembro de 2011 em
Tribuna Independente. Para este blog, estamos utilizando material
digitalizado e com gerenciamento das imagens realizado por Kellyson
Ferreira, com a coordenação do Professor Antônio Daniel Marinho.
A redescoberta do amor e de um filho
Graça Cabral
Eu
sempre admirei seu jeito de ser, seu gosto apurado pelas artes, pela
boa música e isso sempre lhe rendeu críticas e discriminação nos lugares
por onde ele circulava. Um amigo meu, daqui de Maceió, chegou a me
dizer um dia: “Você precisa colocar seu filho pra jogar futebol, lutar
Karatê”. Eu achei aquele comentário extremamente preconceituoso e
machista. Meu filho tinha que fazer o que fosse de seu agrado e não o
que a nossa sociedade de machos espera de um menino. Como me orgulho de
ter criado meu filho e minha filha desse jeito, com respeito pelo que
elas admiravam!
Meu filho foi crescendo e se isolando cada vez mais. Eu sentindo a sua tristeza e a sua solidão. Aquilo me consumiu por muito tempo. Via um adolescente lindo, inteligente, sem amigos e infeliz. Eu sabia o motivo exato de sua infelicidade. Sabia que a sua orientação sexual era diferente da que a sociedade e a igreja impõem. Mas, achava que ele é que tinha que descobrir e aceitar Um dia recebi uma carta sua, a qual, ele também enviou pra sua irmã e seu pai. Ao lê-la, ao contrário de muitas mães que conheço, senti um alivio enorme e uma emoção muito grande, pois sabia que daquele momento em diante, meu filho poderia ser feliz. E não foi diferente. Ele tinha a família do lado dele, e sem o rejeitar. A nossa relação mudou completamente, a relação dele com a irmã, também e com o mundo. Claro que não é fácil você imaginar que um filho seu poderá ser vítima de preconceitos e de discriminação ou alvo de chacotas por parte da sociedade em que vive. O meu filho é uma pessoa linda, generosa, criativa, inteligente. Um filho maravilhoso. Sempre conto com ele pra tudo na minha vida.
Só me dá alegria. Tenho orgulho de ser sua mãe.
Comecei a ter contato com uma mãe, a Angela Moysés, que é a facilitadora do GPH - Grupo de Pais de Homossexuais, em Brasília. Decidi que eu queria contribuir com a causa LGBT, lutando contra a homofobia. Daí até chegar à campanha “Mães da Igualdade”, muita coisa aconteceu. A princípio, tentamos formar um grupo de mães de homossexuais. Este grupo cresceu e virou um grupo de mães e de filhas. A proposta seria um grupo independente de combate a homofobia. Depois virou um grupo de estudos. Enfim, somos pessoas que buscam dar um basta a essa doença terrível que é a homofobia e que culmina nos crimes de ódio. Abrimos a 2a Marcha Nacional de Combate a Homofobia, em Brasília
Alagoas hoje é o primeiro estado que mais mata por homofobia. As famílias devem se unir e ficar ao lado de suas filhas lésbicas e de seus filhos gays. Ninguém faz “opção” de ser discriminado. É necessário que a sociedade acorde e respeite as pessoas que se relacionam afetivamente com pessoas do mesmo sexo. É necessário dar voz à essas mães que clamam por justiça, pelo fim da violência e pela igualdade de direitos.
Tudo que mais quero é que meu filho seja feliz com a pessoa que ele escolheu. Assim como quero o mesmo pra minha filha heterossexual que também amo do mesmo jeito.