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sexta-feira, 8 de maio de 2020

Luiz Sávio de Almeida. Uma notinha sobre o Reverendo Daniel Parish Kidder



Uma notinha sobre o Reverendo Daniel Parish Kidder 
Luiz Sávio de Almeida 

O Reverendo Daniel Parish Kidder 

Até que a morte nos separe 

O Reverendo Daniel Parish Kidder saiu do Rio de Janeiro em direção às províncias do Norte, na sua missão de divulgar a Bíblia. Era metodista e após o falecimento de sua esposa, voltou definitivamente aos Estados Unidos. Nasceu em 1815 e era um jovem em torno de 21 anos de idade vindo assumir posição junto ao campo missionário, ainda aberto, que era o Brasil; isto acontecia praticamente na mesma oportunidade em que se havia formado na Wesleiyan. Ele não vem, de modo especifico, como o missionário que intentará a nucleação e fundar Igrejas, mas realizar trabalho de divulgação da Bíblia. 

Ele passa por Alagoas, mas não pesa no trabalho da institucionalização de a igreja na Província e o seu propósito não poderia ter sido este; a intensa divulgação que fez com suas viagens, o definiu como dos grandes pioneiros a abrirem caminho para o protestantismo no Império e foi, pelo que é de nosso conhecimento, o primeiro a nos dar testemunho sobre acatólicos nas Alagoas, em um livro que depois vai ser associado ao nome do Reverendo Fletcher (presbiteriano) que, com ele, conviveu. Não temos informações sobre outro missionário neste período a passar por aqui, mas há menção em Alencar de que Henry Koster seria um deles[i]. Os caminhos de Kidder, seus passos estão em dois volumes que contém a sistematização de um diário, 

Ele começa – sem domínio da língua – a fazer distribuição de bíblias e dizia ser livro ainda desconhecido no Brasil ; foi incansável em suas andanças pelo Norte e pelo Sul, saindo abalado com a morte da esposa, quando então, escreveu belíssimo texto na oportunidade de sua partida em diretura à terra onde irá novamente casar-se e continuar sua vida ligada à Igreja Metodista; ao partir, escreve pesado de dor e de um sofrimento que pode ser resumido em uma de suas frases curtas e incisivas: “My wife is no more, and my children are orphans!”.[ii]

Kidder será um polígrafo, como se escrever fosse uma atividade a sustentar sua vida de reverendo e sua literatura, se não é de primeira qualidade, é ligada à ideia de verdade que sempre perseguiu em suas produções; em uma delas, parece procurar no olor da ficção, o que para ele era essencial: o verdadeiro. Trata-se de um de seus livros e intitulado Be True[iii], publicado em 1852, portanto, após a febre amarela ter sido impiedosa com sua família. 

Polemizou e trabalhou um tema que muito terá a ver com as disputas religiosas da época: os Jesuítas[iv], organização sempre evidente como se pode dizer em função do texto de Kidder, que faz um inventário das intervenções dos soldados do Papa em diversas áreas geográficas, como se não fosse possível viver sem tê-los em confronto, o que se passava, quiça, também com os maçons. 

O significado e a importância de Kidder 

Pouco se poderia dizer sobre Kidder, que não fosse sobre sua doação ao trabalho de divulgação bíblica e, portanto, como um dos introdutores de uma novidade na vida do Império. Seus passos dedicados à Igreja Metodista – tarefas especialmente no retorno – foram narrados por seu genro. Sua despedida do Brasil foi melancólica e em frase que muitos diriam clichê –reproduzimos no parágrafo anterior – mostrou a solidão perante a Baía da Guanabara. Aliás, seu genro trata de sua volta, em um capítulo intitulado The Sad Return Home, o que livremente poderia ser traduzido como a Tristonha volta ao lar. 

Parece-nos uma situação inusitada: um homem se destinou a andar e a escrever sua história e, consequentemente, a dos outros, enquanto o desconhecido minava a vida, com sua mulher no vexame da febre amarela; depois, seu corpo indo em busca de alojar-se e sendo levado para o Cemitério dos Ingleses, onde poderia ser hospedado por razão do pacto da transferência da Corte e posto, significativamente, em um Tratado Comercial. 

Foi uma despedida – pelo o que nos interessa –, com dois volumes relativos às viagens que fez, onde os olhos curiosos sobre o mundo que ia vendo e descobrindo, iluminavam o cenário com o foco do que nasceria em seu tempo com o sugestivo nome de destino manifesto. The manifest destiny foi um dos componentes ideológicos a fazer abrir-se um campo americano para as missões que se universalizariam como padrão civilizatório, o que não se pode reduzir ao chamado imperialismo, mas que, sem dúvida e de modo especial, o incorpora na rede fundante de um papel de nação para os Estados Unidos. 

O Manisfest destiny 

A pluralidade protestante e evangélica 

O termo protestante é vago especialmente pela elasticidade de indicações; abriga diversidade denominacional e condições históricas; deste modo, existem diversas formas e modos de ser protestante e a palavra induz a que se dê sentido homogêneo a uma situação que se define como heretogênea. No entanto e para o que pretende esta nota, a palavra contém o poder mágico de identificar – mesmo com sua generalização e possivelmente por causa dela – um universo religioso plural que imediatamente aponta para onde se deseja levar um de seus focos essenciais: aquilo que nega a universialidade e a consistência do catolicismo como resposta à salvação. 

O termo protestante instiga a tentar reduzi-lo em sua amplitude, mas a historicidade do sentido direciona o enfoque; sabe-se sobre o que se está falando e tudo chega imediatamente à raiz de Lutero e depois desdobram-se as definições. Há uma discussão em uma dissertação – e portanto numa versão inicial de discussão –, onde se menciona as dificuldades com as palavras protestante e evangélico, sendo interessante o modo como indica o faseamento histórico nelas embutido; o texto é suficiente para nos deixar em alerta quanto à elasticidade, a pluralidade e a historicidade quando, então, e a nosso ver, persiste a ligação direta com a reforma[v]. Isto se encontra mais esquematicamente ligado à academia segundo o aporte de Lima Neto[vi].

[i] ALENCAR,  Gedeon. Protestantismo tupuniquim. São Paulo: Arte Editorial, 2007.
[ii] STROBRIDGE, G. E.  Biography of the Rev.  Daniel Parish Kidder. New York, 1894. https://archive.org/details/biographyofrevda00stro/page/n3.
[iii] KIDDER, Daniel Parish. Be True. A Story for Litlle and Grown-up  Children. By Mrs. Maxwell. New York: Carlton & Phillips, 1852. http://ufdc.ufl.edu/UF00002019/00001/100x
[iv] Kidder, Daniel Parish. The Jesuits : a historical sketch. New-York : Published by Lane & Scott, for the Sunday-school Union of the Methodist Episcopal Church, 1851. https://catalog.hathitrust.org/Record/008409022
[v] MENEZES, Jonathan. As metamorfoses do sagrado no protestantismo brasileiro:  o caso da Igreja Presbiteriana Independente Filadélfia. Londrina (1972-2008). Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História Social, do Centro de Letras e Ciência Humanas, da Universidade Estadual de Londrina – UEL, em cumprimento às exigências para obtenção do título de Mestre em História. Londrina:  Universidade Estadual de Londrina, 2009, p.
[vi] NETO,   Francisco de Paiva Lima. – crer, aprender e sentir  o tripé estratégico para transmissão de visão de mundo do casal
Kalley, na inserção do protestantismo no Brasil no século XIX.  Trabalho de Tese de Doutorado, apresentado ao Programa de Pós Graduação em Educação Escolar da Faculdade de Ciências e Letras –Unesp/Araraquara, como requisito para obtenção do título de Doutor em Educação Escolar. Araraquara, 2010. 



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