Saudade da casa da minha avó
Joaquim de Almeida Mariano
Dois meses que não vejo meu
Rôrrô, Rorró e Tité. Não vejo meu avô Braz também. Rorrô inventou umas cinco músicas
comigo, como fez para a minha mãe. Ele cantava para mamãe quando ela era
pequena:
Xoxa bunda é um feijão que dá no
chão,
essa menina veio do Japão
pra dançá guereiro nas Alagoas.
Tem outra musiquinha que ele fez
para mamãe. Rorrô botava uma bacia no chão do box, sentava ela, ele se sentava
no chão e ficavam era tempo cantando outra
música que ele inventou e que somente tinha um verso:
Sergipe é uma piscina de
pobre!
Ele botou o nome do boneco da mamãe de Torrones e toda vez que passava pelo boneco dizia:
Torrones, Torrones amigo!
Pois é!
Comigo o Rôrrô canta
muito para eu dançar; é uma música e
dança que ele inventou chamada Remerciê. Diz ele que aprendeu com um tal de Rei de
França.
Nunca ele chupou laranja que não
me desse a metade.
Eu tenho saudade deles, da casa,
do homem-aranha, do psi-psi que Rôrrô tem, de escrever no computador dele, do meu teclado que chamo de abici, onde ele
me ensina o alfabeto.
Se eu tenho saudade, avalie Rorró
e o Tité.
Dois meses que não vejo: só por
telefone.
Domingo, mamãe e eu não vamos ver a Rorró!
Sei que tudo dói no Rôrrô, na Rorró e no Tite.
Eu digo: Benção
Rôrrô!
Ele responde: Deus te abenço
cara de boi!
Dois meses, dois meses...