O começo e a razão deste projeto
Luiz Sávio de
Almeida
Começamos com
esta postagem, uma série sobre o Corona virus e o mundo artístico do que vem
sendo chamado de periferia. A nossa parceria, entre Will Grind e eu, vem de
tempos e começou quando ainda era mantida uma coluna em O Jornal – intitulada Espaço –que depois se transformou em Contexto, em a Tribuna Independente; hoje é Campus, no jornal O
Dia. Em nosso percurso inicial foram
publicadas diversas matérias sobre a vida da periferia de Maceió, especialmente
com a colaboração de Viviane Rodrigues e Railton da Silva. Na verdade, esta nossa parceria com Vivi e
Railton, nos levou a publicar sugestivos trabalhos sobre a riqueza cultural da
periferia, sendo, sem dúvida, uma importante fonte documental para estudos no
âmbito da história e das ciências sociais. Talvez seja o mais importante
conjunto documental produzido sobre e com a periferia de Maceió àquela época,
inclusive por depoimentos sobre a história do hip em Alagoas. Infelizmente, não
realizamos a série sobre grafite e
reggae.
É
difícil dizer quais os trabalhos que foram mais importantes, eleger os que
merecem realce, pois cada um no seu cada um, trouxe uma contribuição de
primeira linha. Todos os três suplementos entraram por este mundo que era
considerado como espécie de segunda categoria cultural, quando, na verdade, era
e é de uma riqueza extraordinária, como
é a poesia dos mcs, de difícil
comunicação para quem não vive aquele universo cultural que não é hermético,
mas que exige, no mínimo, cumplicidade com a estética e o entendimento de que o
outro, o diferente, é bom, criativo, inteligente e capaz de produzir uma beleza
rica em seus detalhes, especialmente quando se lida com uma nova descoberta do
poético a expressar cotidiano e aspirações.
Os
suplementos Espaço, Contexto e Campus
sempre estiveram abertos para a incorporação desta diferença e, também, sempre
foram agradecidos à confiança que a periferia teve para com eles. É de supor que a seriedade de nosso esforço e
de nossos colaboradores sempre foi entendida e reconhecida pois, caso
contrário, seria impossível realizar o trabalho que fizemos e estávamos
inquietos para retomar, fazendo uma nova abordagem com o Will Man, com o Boka e a um homem de extrema importância
em nossa percepção de produção na cultura da periferia, residente na Grota da
Alegria: Seu Djalma. Passado um bom tempo, como estariam? O que houve de mudança
na história de vida deles? E tantas e tantas outras pessoas que nos levaram à
publicações, contribuindo para uma nova
visão do mundo das grotas e suas histórias.
Muitas
transformações aconteceram e, no fundo,
era todo um processo de circunstâncias que se fazia: o mundo sobre o qual fomos
buscar a história – especialmente, nesta
área, com a ajuda de Viviane e Railton – e sua atualidade com o Will Grind, tinha de
mudar. O poeta e músico também teria
mudado e, neste contexto, sempre uma
pergunta martelava: o que aconteceu com
o mundo do Hip-hop? E com o artista? Agora Will Grind é um professor de matemática,
mestre em meteorologia e doutorando na mesma área científica: o mc está em plena carreira acadêmica e ainda pensaria
em escrever suas rimas? Hoje é Mestre pela Universidade Federal de Alagoas, um
centro de peso na área científica de sua escolha, graças, inclusive à dedicação
do Lima que estruturou os começos do bacharelado e é onde se encontra, ainda,
um dos grandes amigos meus: Ricardo Amorim.
Certa feita
nos falamos e, então, ou ele estava no
caminho para a Federal em Campina Grande ou estava de saída para suas aulas.
Não me lembro bem e não deu tempo para fechar o circuito. Apenas, senti que seu tempo havia mudado e
lamentei não renovar a antiga entrevista que com ele realizei e que gerou, pelo
menos, dois números de Espaço. Aliás,
devo dizer agora, que Espaço existiu por conta de Gabriel Mousinho e Ellen
Oliveira.
Passa tempo e
recebo uma mensagem sua sobre um vídeo e começamos a conversar, foi quando
nasceu a ideia deste projeto; eu já estava associado a José Carlos da Silva
Lima na operação de um outro que
consistia em obter documentação e depoimentos sobre o virus em Alagoas. Foi feita a proposta para a parceria e ele de
imediato aceitou, nascendo um material que, graças a ele, começa a ser
divulgado, quando então, a pandemia passa pelas mãos de mcs de Alagoas, dando
margem a que falem sobre o que vivemos. O doutorando IWLDSON GUILHERME DA
SILVAS SANTOS tem a mesma simplicidade das raízes de seu tempo; neste e em
outros sentidos, é um homem admirável. A sua grande inteligência redirecionou a
sua vida, mas não retirou a alegria de fazer as suas rimas e de conviver com o
mundo dos mcs.
E as primeiras
rimas que publicaremos são justamente de Will Man.
Quem é quem!
IWLDSON GUILHERME DA
SILVAS SANTOS – WILL MAN
Professor
de Matemática e mestre em Meteorologia pela Universidade Federal de Alagoas e
atualmente discente de doutorado em Meteorologia pela Universidade Federal de
Campina Grande no Estado da Paraíba. Vocalista da Babylon Fya (Rap com banda), pai de dois garotos (Ítalo e Arthur
Guilherme) e morador do Benedito Bentes. Começou a fazer música alternativa na
pista de skate do Biu, primeiramente com
a banda regional Anônimos da Sociedade
Underground (ASU); com a música
Folguedo Popular de sua autoria participou do FEMUSESC. Após um determinado
período, com a parceria do Allan FDC e algumas bases produzidas pelo Zazo no Kzebre Studio, lançou um CD de RAP com
o título Procurados e Armados
manipuladores de palavras com rimas gravado no Studio QG dos Manos. Este CD foi gravado de forma independente e
vendeu mais de 500 cópias pelas periferias de Maceió. Participou do Coletivo Popfuzz, associação cultural independente de Alagoas
que promoveu o Festival Maionese e Grito Rock com eventos e shows
memoráveis.
MCs contra o covid-19
A pandemia na periferia quem
diria que na temperatura do Nordeste este vírus não se cria.
Não é Fake News espalhada por
todo o Brasil a quantidade de mortes já passa dos mil.
Este messias não faz milagre nem
faria se fosse um padre mas tem o veneno do peixe bagre.
Expresse-se, aja como um
presidente ajude a nossa gente começando pelos mais carente.
Auxilie a linha de frente de
combate contra o Covid-19 sem EPI sofre, morre e nos comove.
Doença de rico direto do
estrangeiro sem preconceito mata pobre, preto até atleta brasileiro.
Cova rasa e pessoal o cemitério
não comporta, vala grande, funda em fila no mínimo conforta.
Aprender mais com o erro dos
outros vamos seguir o exemplo dos países mais desenvolvidos.
Crescimento exponencial,
estatisticamente falando não passamos por uma crise semelhante.
Número de infectados eixo das
ordenadas (y) número de leitos do SUS eixo das abscissas (x).
Infelizmente a quantidade de
casos indicam muito mais que uma gripezinha ou resfriadinho.
Álcool em gel o valor que se
eleva ao céu demanda e procura capitalismo e sua face cruel.
Dever de todos não deixar que a
curva de infectados iguale-se a curva do número de mortes.
Quem acreditar jornal, internet,
presidente, governador ou cientistas eu acredito na ciência.
No momento que vivemos não
importa se este vírus veio do morcego ou laboratório chinês.
Corona Vírus mata mais que a
guerra do Vietnã mente sã reza por dias melhores no amanhã.
Proteja-se, higiene-se, lave suas
mãos com água e sabão fique em casa stay home meu irmão.
Neste momento é mais evidente o colapso
total, a beira do caos nada normal apocalipse now.
Brasil sendo Brasil justiça
investiga superfaturamento de mais de 60 mil respiradores artificiais.
Cuidar um dos outros e de nós
mesmos, sabedoria, empatia são as armas contra a pandemia.
Nosso blog e o suplemento Campus do jornal O Dia agradecem a Will Man por ter tirado um pedaço de seu tempo de pesados estudos, para nos ajudar a divulgar as rimas de nossos mcs. O projeto sobre a memória da pandemia nas Alagoas é realizado em parceria entre José Carlos da Silva Lima e Luiz Sávio de Almeida. No caso dos mcs, a coordenação é feita por IWLDSON GUILHERME DA SILVAS SANTOS – WILL MAN.