A morte, os coveiros e nossa vida
Luiz Sávio de Almeida
Sem dúvida alguma, Eduardo Bastos é um dos grandes analistas da vida das Alagoas, da mesma forma com o Leo Villanova, que abandonou os amigos e foi cuidar do virus. Neste trabalho, Eduardo conseguiu trazer para nós, a triste e heróica saga dos coveiros que cavam, tiram terra, e ficam naquele insano, pontual, e fantasticamente necessário trabalho de preservar a paz dos nossos mortos, lá em baixo, em sete palmos de cova. Não fosse este coveiro que vive seus dias humildes, cuidando de nossa vida, o que seria de nós? Eu era molecote e li, parece que Mounir, falando sobre a natureza dos trabalhos e a importância do lixeiro vivendo a limpar uma cidade, se se ver constantemente com o lixo. O coveiro não lida com o lixo, mas com algo que, sem saber, vivemos a esperar: o corpo sumindo no escuro que é a cova enfeitada ou rasa: não importa.
Faz pouco tempo, o serviço funerário entrou em crise, Guyaquil. Eram tantos os mortos e tão pouco dos serviços, que corpos apodreciam dentro de casa, outros ficavam na rua. Os caixões de madeira sumiram: os mortos estavam postos em caixões de papelão. O coveiro vê tudo isto; vê as mães sem estar perto dos filhos, o fim dos velórios, da andada solene atrás do defunto levado em segurança, dor e lágrima para seu canto eterno. Poucos são os grandes testemunhos do que seja o drama humano das covas acoronadas. Um dos que conseguem ver o fim, é o coveiro que Eduardo Bastos soube retratar vergado, com o peso das pés que de tantas, são apenas a do momento.