Mesmo sem saber para
quando, os planos estão aí
Teresa Cristina
– Jornalista, coordenadora de Redação da
Secom Maceió
Quatro meses e a contar...
Poderia dizer que hoje é só mais um dia, mas li na Internet e concordei que o
otimismo manda avisar que é um dia a menos. E assim tem sido o meu exercício
diário: reforçar um otimismo que há dentro de mim desde sempre, mas que tem
fraquejado ao longo desta loucura toda.
Antes de tomarmos pé da pandemia,
localmente falando, vivi a pior dor da vida, com a perda do meu pai no mês de
fevereiro. Um mês e poucos dias depois ficamos anestesiados com a notícia de
que teríamos de trabalhar de casa, evitar encontros, abraços e usar máscaras.
Mas eu, otimista, não acreditava que isto ia durar tanto, mesmo sabendo do que
estava acontecendo na China e na Europa. Falando no Velho Continente, tenho
amigos e parentes por lá, e as notícias eram as piores possíveis chegando
também por meio destas pessoas tão queridas.
Encomendei máscaras, coloridas e
alegres, pra trazer alguma cor para este momento. Falando nisso, o primeiro dia
que fui ao supermercado perto de casa após a obrigatoriedade do uso de máscara,
pelo decreto governamental, foi um choque. Senti um nó na garganta ao ver as
pessoas usando no caminho até lá, que é bem curtinho, menos de cinco minutos a
pé. Esta agonia me tomou também quando vi a nossa orla tão linda toda gradeada.
Para o teletrabalho, organizei
uma mesinha, geralmente usada para colocar bebidas e petiscos em dias de petit comité para os amigos aqui em
casa. Meu companheiro notebook de 10 anos trabalhou bastante neste período, mas
agora ganhou uma folga. Esta nova maneira de exercer a minha profissão também é
desafiadora. Sento diariamente em frente ao computador e nem vejo a hora
passar. Nas primeiras semanas, finalizei minhas missões diárias muito além do
horário que costumava ter presencialmente. Ao terminar, meu objetivo é me
desligar porque, como jornalista, termino vivendo esta pandemia cada segundo do
dia. Não tenho conseguido, apesar de me prometer isto cada dia ao acordar. Ah,
sobre a mesinha de trabalho, deixei-a perto da janela da sala, de onde posso
espiar o mar, que é o meu lugar favorito no mundo.
Para o mês de abril, tinha uma
viagem para São Paulo com dois dos meus melhores amigos. Foi adiada. Íamos
comemorar o aniversário de um deles. O outro amigo deveria se mudar para
trabalhar em outro estado e eu já sofri de pensar que não conseguiria abraçá-lo
na despedida.
Sinto muita falta de tudo, da
minha família (quase todos fizeram aniversário neste período e é triste que não
pudemos comemorar), dos meus amigos, do trabalho presencial e da minha rotina.
Nos primeiros dias em que não tinha academia pra ir às 7 da manhã ou os
preparativos para sair de casa e trabalhar no segundo horário, tentei manter a
mesma programação de antes. Treinos com muita motivação em casa e tudo o que se
seguia até a hora de me encaminhar para a redação. Mas o tempo vai passando e
as boas novas não chegam, pelo contrário. Passei a acordar mais tarde, tenho
feito o treino por obrigação, muitas vezes para cumprir tabela. Fiz umas aulas
para melhorar o meu Inglês e participei de uns desafios. Deu certo, estava
motivada. Comecei a estudar Francês, deu preguiça, mas voltei e agora parece
que estou empolgada de novo.
Não sei cozinhar, mas preciso
porque moro sozinha. Tenho me arriscado com umas coisas mais simples e
saudáveis (para compensar que as minhas refeições estão todas desreguladas) e
amo cada vez mais a minha airfryer (apenas tenham também). De vez em quando
tomo um vinho rosé frisante bem gelado ou uns drinks que tenho inventado. Tenho
visto séries e filmes, mas muito de vez em quando.
E tenho me estressado muito,
muito além do usual com a falta de responsabilidade e cuidado das pessoas.
Chorado também. Já briguei pelas redes sociais e com pessoas próximas. Baixei
um aplicativo de meditação para me ajudar nesta missão de abstrair as coisas que
não posso mudar, mas também abandonei. Vou retomar!
Chamada de vídeo é o novo normal
igual ao uso de máscaras. Pode parecer impessoal no começo, mas não há outro
jeito. Já fiz inúmeras e sigo fazendo, sejam de trabalho ou até para jogar “Eu
nunca”, com cada um no seu quadrado.
Mas mesmo diante de tudo isso e
sem saber quando teremos nossa vida de volta (já que depende da vacina), tenho
me sentido muito acolhida, porque isto nunca teve a ver com presença física
(sempre tive certeza disso).
Fortaleci alguns laços e criei novos
também. Tenho recebido afeto de longe e de muito longe (e tenho gostado) pela
tela do celular e sou feliz por isso. Recebi bolo e pudim em casa. Tenha amigos
e pessoas que gostam e se importam com você, seja lá onde elas estiverem. Agora,
mais do nunca, isto não importa, já que relações não são apenas físicas mesmo.
Semana passada, após quatro
meses, fui à praia, porque, com todos os cuidados, o acesso foi liberado. Eu,
que amo o mar, fiquei meio encantada de ver aquilo ali de novo. Estranho, mas
foi bem assim.
Tem um monte de coisa que quero
fazer depois que isso passar. Sim, tenho planos e eles são a maneira de
reforçar em mim que tudo vai ficar bem e até lá, a gente precisa segurar a
onda, mesmo quando parece impossível.
Quem é
Teresa Cristina é
jornalista formada pela Universidade Federal de Alagoas e pós-graduada em
Assessoria de Comunicação e Marketing pelo Cesmac. Atuou no jornalismo impresso
e online. Atualmente é uma das coordenadoras de redação da Secretaria Municipal
de Comunicação de Maceió. (Elen Oliveira)
Memória da Pandemia
nas Alagoas
Elen Oliveira
Quando eu ingressei na Ufal, em 1991, o professor Luiz Savio
de Almeida já era uma lenda. Nos corredores do antigo CHLA, hoje ICHCA
(Instituto de Ciências Humanas, Comunicação e Arte), ele se postava a dar
conversa a quem se aproximasse com a mesma atenção que dedicava a palestras,
mesas de discussão e entrevistas. Entre 2008 e 2009, trabalhamos junto no
antigo O Jornal, onde ele propôs a abertura de um espaço dialógico da
universidade com a sociedade, por meio da publicação de artigos acadêmicos.
Entusiastas do debate e da pluralidade, o então diretor, Gabriel Mousinho,
e o então editor-geral, Roberto Tavares, cederam espaço ao Espaço,
nome dado ao suplemento quinzenal publicado entre setembro de 2008 e 2012,
quando o veículo foi extinto. À época editora-executiva e de Suplementos,
eu editei a publicação até 2009 com Alexsandra Vieira, que era editora do
caderno de Cultura, o Dois. Reformulado, tornou-se posteriormente Contexto,
no jornal Tribuna Independente, até materializar-se em Campus, o
suplemento semanal que é veiculado no jornal O Dia e reproduzido n’o Campus do Savio, o blog de múltiplas
falas com o qual colaboro esporadicamente.
O longo parágrafo de introdução foi escrito para contar como
chegamos a Jornalistas e a Pandemia, proposto pelo professor Savio
como parte do projeto Memória da Pandemia nas Alagoas, que ele está
a construir desde abril e que reúne relatos vindos de representantes dos povos
indígenas, artistas, intelectuais e integrantes de áreas diversas sobre o atual
momento. Ele propôs, e eu aceitei, que organizássemos uma seção para compor
essa construção feita a muitas mãos. “Quero deixar um imenso painel para um
pesquisador no futuro”, informa o pesquisador, que há tempos constrói
fundamental acervo da memória sobre Alagoas.
O blog pode discordar no todo ou em parte do material que publica