Indesejado encontro
Enio Lins – Jornalista,
chargista, secretário de Estado da Comunicação
Tentei me esconder do coronavírus
por meses, mas ele me encontrou. Nos dias 23 e 24 de maio os exames positivaram
para o Covid19.
Felizmente, as consequências desse
indesejado encontro ficaram no campo da grande maioria, ou seja: sintomas leves
e possibilidade de tratamento em casa.
Provavelmente a covid me chegou
via os documentos que assinava cotidianamente achando que estava isolado. Não
apareceram os tais sintomas típicos, tive estados febris e não febre
propriamente dita, perdi o apetite, mas mantive paladar e olfato, pigarreava ao
falar, mas não tossia, não senti falta de ar, mas a pneumonia viral rapidamente
ocupou 25% dos dois pulmões. Eu me tratei com Azitromicina combatendo a
infecção pulmonar e com remédios simples para os estados febris e eventuais
dores de cabeça e ouvido. O mais marcante, no meu caso, foram duas semanas de
prostração – não tinha disposição nem forças para nada, não aguentava cinco minutos
escrevendo ou desdenhando; qualquer andada de dez metros parecia uma
meia-maratona.
Enfim, coisa de 15 dias depois de
os primeiros sintomas aparecerem, desapareceram. Meu teste sorológico depois da
quinzena viral deu reagente em IgM e IgG – até onde entendi as explicações dos
imunologistas, as defesas internas temporárias ainda estavam alerta (certamente
tentando dar cabo de algum vírus recalcitrante), mas a imunidade específica
contra o coronavírus estava estabelecida. Recebi alta com a recomendação de me
manter em repouso por mais uns 20 dias para ajudar os velhos pulmões a se
recuperarem melhor das cicatrizes deixadas pela covid.
Aos poucos estou voltando às
atividades cotidianas presenciais, ao novo anormal: mascarado e armado com
espargidores de álcool 70%, cumprimentando a cotoveladas e mantendo distância
das pessoas. Seguimos na luta!
Quem é
Atual
secretário de Comunicação do Estado de Alagoas, Enio Lins nasceu e vive em
Maceió, onde se profissionalizou como jornalista na Tribuna de Alagoas, em
1979, abandonando a arquitetura. Arquiteto por formação e engajado na defesa da
atividade jornalística em Alagoas, foi diretor do Sindicato dos Jornalistas
Profissionais e da Sucursal Alagoas da Tribuna Operária, tendo colaborado com
várias publicações alternativas alagoanas.
Na política,
participou de movimentos sociais, foi vereador por Maceió em 1988, primeiro
secretário de Cultura de Maceió (1993-1994) e secretário estadual da Cultura de
1995 a 1996, período em que coordenou, em Alagoas, a programação nacional
alusiva ao Tricentenário de Morte de Zumbi dos Palmares, em novembro de 1995. O
ato trouxe a Alagoas importantes representantes da política de igualdade racial
no Brasil e na África e foi encerrado com grandioso ato afirmativo da cultura
afro-brasileira na Serra da Barriga, em União dos Palmares.
Em 1996,
retomou a atividade jornalística. Trabalhou como editor-adjunto do jornal
Gazeta de Alagoas e coordenador editorial da Organização Arnon de Mello. Nesse
período, escrevia uma página diária de serviços e cultura. Em 1998, retornou à
charge política e ilustrações de humor e em 2000 publicou o livro Miolo de
Pote, uma coletânea de textos e traços publicados no jornal.
Em março de
2016, tornou-se sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas
(IHGAL), do qual era sócio benemérito desde 1997. No mesmo ano, por indicação
do ex-ministro da Defesa, Aldo Rebelo, foi condecorado, em Brasília, com a
Medalha do Pacificador. A honraria é uma das mais antigas concedidas pelo
Exército Brasileiro a civis e militares. Em agosto de 2019, foi homenageado em
sessão solene da Assembleia Legislativa de Alagoas com a primeira Comenda
Jornalista Audálio Dantas, criada pelo deputado estadual Davi Davino Filho, em
2018, para homenagear as personalidades que se destacam na comunicação
alagoana.
Quando foi
acometido pelo coronavírus em junho dete ano, e precisou ficar em quarentena
total, o jornalista Enio Lins adaptou a pauta espontaneamente assumida à
própria convalescença, tornando-se, mais que observador, personagem do assunto
que mobiliza o mundo desde janeiro de 2020.(Elen Oliveira)
Memória da Pandemia
nas Alagoas
Elen Oliveira
Quando eu ingressei na Ufal, em 1991, o professor Luiz Savio
de Almeida já era uma lenda. Nos corredores do antigo CHLA, hoje ICHCA
(Instituto de Ciências Humanas, Comunicação e Arte), ele se postava a dar
conversa a quem se aproximasse com a mesma atenção que dedicava a palestras,
mesas de discussão e entrevistas. Entre 2008 e 2009, trabalhamos junto no
antigo O Jornal, onde ele propôs a abertura de um espaço dialógico da
universidade com a sociedade, por meio da publicação de artigos acadêmicos.
Entusiastas do debate e da pluralidade, o então diretor, Gabriel Mousinho,
e o então editor-geral, Roberto Tavares, cederam espaço ao Espaço,
nome dado ao suplemento quinzenal publicado entre setembro de 2008 e 2012,
quando o veículo foi extinto. À época editora-executiva e de Suplementos,
eu editei a publicação até 2009 com Alexsandra Vieira, que era editora do
caderno de Cultura, o Dois. Reformulado, tornou-se posteriormente Contexto,
no jornal Tribuna Independente, até materializar-se em Campus, o
suplemento semanal que é veiculado no jornal O Dia e reproduzido n’o Campus do Savio, o blog de múltiplas
falas com o qual colaboro esporadicamente.
O longo parágrafo de introdução foi escrito para contar como
chegamos a Jornalistas e a Pandemia, proposto pelo professor Savio
como parte do projeto Memória da Pandemia nas Alagoas, que ele está
a construir desde abril e que reúne relatos vindos de representantes dos povos
indígenas, artistas, intelectuais e integrantes de áreas diversas sobre o atual
momento. Ele propôs, e eu aceitei, que organizássemos uma seção para compor
essa construção feita a muitas mãos. “Quero deixar um imenso painel para um
pesquisador no futuro”, informa o pesquisador, que há tempos constrói
fundamental acervo da memória sobre Alagoas.
O blog pode discordar no todo ou em parte do material que publica