Niviane |
Raissa |
Lições de
força e coragem – reinvenção na pandemia
Niviane Rodrigues e Raíssa França
– Jornalistas e
cofundadoras do Portal Eufemea
A vontade de empreender e de criar algo que
fizesse a diferença nas nossas vidas e nas vidas das outras pessoas veio antes
mesmo da pandemia. Sabíamos que queríamos algo voltado para o jornalismo e
também para algo que entendíamos: o ser mulher. Entretanto, mesmo com nossos
sonhos se entrelaçando antes do isolamento, foi apenas três dias após o decreto
governamental em Alagoas que o Eufemea nasceu.
Estávamos na nossa primeira e última reunião
presencial com as nossas mentoras da Arca para Mulheres. Não imaginávamos que o
Eufemea nasceria naquele dia. Tão cheio de força. Foi amor à primeira vista.
Somos o primeiro site de conteúdo feminino do Nordeste. Com o lema ‘nós
sabemos’, entendemos que naquele dia 12 de março, a nossa vida mudaria.
Fazíamos planos de trabalho e de como tocaríamos
o projeto dali para a frente. Saímos da reunião saltitantes de tanta
felicidade, afinal víamos se concretizar aquilo que conversávamos por alguns
meses até aquela data. Para a semana seguinte, programamos fazer uma sessão de
fotos, um book nosso que seria utilizado na divulgação do trabalho, em todo o
conteúdo digital, no mídia kit e nas campanhas que pretendíamos fazer dali para
a frente.
Programamos ainda um encontro com a empresa que
iria fazer o nosso site, já que o projeto consiste em convergência de mídias.
Todos os conteúdos são postados nas redes sociais Instagram, site, Twitter e
Facebook, que caminham juntos. O encontro presencial com os responsáveis pela
empresa também não foi possível. Veio a pandemia e tivemos que cancelar as
fotos, a reunião com a empresa de site, os encontros com nossas mentoras e o
lançamento presencial do portal. A pandemia mudou tudo e tivemos que nos
readaptar.
Nem mesmo os brindes que havíamos programado para
distribuir com nossas seguidoras e potenciais clientes puderam ser feitos como
programamos. Com o fechamento do comércio, lojas não conseguiram repor estoques
e os mimos por nós escolhidos já não estavam mais disponíveis no mercado. Foi
preciso pensar em uma nova forma de dizermos que estávamos lançando nosso site.
De repente, nós duas precisamos transformar o
nosso dia a dia em milagres diários. Precisamos adaptar o nosso novo modo de
vida com o que a pandemia nos privava. Precisamos nos reinventar: utilizar as
mídias sociais para nosso lançamento virtual, as reuniões online e até os
vídeos que fizemos foram à distância.
Também precisamos correr contra o tempo para a
produção das matérias, as entrevistas e reportagens, já que não poderíamos mais
ter o contato presencial com nossas fontes. As ferramentas utilizadas teriam
que ser totalmente digitais. Recorremos ao WatsApp, direct do Instagram e email para enviar as perguntas e receber as
respostas, fotos e todas as imagens usadas nas nossas postagens.
Assim foi também com as nossas mentoras, que
passaram a nos atender, orientar e tirar dúvidas por chamada de vídeo,
inclusive na elaboração da planilha de postagens, até a conclusão da
consultoria, que durou três meses.
Mudou tudo em nossa vida e nos planos, mas não a
determinação de seguir, de concretizar o sonho. No dia 17 de junho, por meio
virtual, lançamos o www.eufemea.com. Com o tempo, e o
avanço da pandemia, as matérias naturalmente acabaram tomando o direcionamento
da informação sobre os casos. Como nosso conteúdo é voltado para o público
feminino, é nas mulheres que concentramos as histórias de luta contra a
Covid-19, de superação, mas também de dor e perda, que têm sido muitas.
Com o tempo, e a aprovação ao nosso trabalho, tem
sido cada vez mais frequente que mulheres nos procurem solicitando espaço para
falar de suas alegrias e dores na pandemia.
Uma das nossas primeiras matérias foi com uma
médica recém-formada que colou grau antecipado em uma instituição em Maceió. A
matéria da Jade inspirou muitas mulheres, já que uma menina nova, médica,
estava indo para a linha de frente. Entrevistamos enfermeiras que relataram a
dor de um plantão exaustivo e que carregavam consigo as marcas no rosto.
Choramos com relatos de pessoas que contavam como era ser contaminado pela Covid,
como era trabalhar na linha de frente ou perder alguém.
Tiramos da pandemia algumas lições. Tivemos altos
e baixos, mas não perdemos a vontade de crescer, de contar histórias, de fazer
a diferença. Das lições da pandemia, destacamos duas: você não sabe como será
seu próximo segundo, então viva o agora; e reinvente-se, saia da sua zona de
conforto.
Quem são
Niviane Rodrigues é jornalista
pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal), com ampla experiência em
reportagem e assessoria de imprensa. Cofundadora do portal Eufemea, trabalhou
como repórter de Política do jornal Gazeta de Alagoas e como assessora de
comunicação no Governo de Alagoas.
Raíssa França é jornalista pelo
Centro Universitário Tiradentes (Unit), com experiência em assessoria de
comunicação, marketing, redes sociais e redação. Cofundadora do portal Eufemea,
também escreve contos e crônicas no blog www.omundoderaissafranca.com
Memória da Pandemia
nas Alagoas
Elen Oliveira
Quando eu ingressei na Ufal, em 1991, o professor Luiz Savio
de Almeida já era uma lenda. Nos corredores do antigo CHLA, hoje ICHCA
(Instituto de Ciências Humanas, Comunicação e Arte), ele se postava a dar
conversa a quem se aproximasse com a mesma atenção que dedicava a palestras,
mesas de discussão e entrevistas. Entre 2008 e 2009, trabalhamos junto no
antigo O Jornal, onde ele propôs a abertura de um espaço dialógico da
universidade com a sociedade, por meio da publicação de artigos acadêmicos.
Entusiastas do debate e da pluralidade, o então diretor, Gabriel Mousinho,
e o então editor-geral, Roberto Tavares, cederam espaço ao Espaço,
nome dado ao suplemento quinzenal publicado entre setembro de 2008 e 2012,
quando o veículo foi extinto. À época editora-executiva e de Suplementos,
eu editei a publicação até 2009 com Alexsandra Vieira, que era editora do
caderno de Cultura, o Dois. Reformulado, tornou-se posteriormente Contexto,
no jornal Tribuna Independente, até materializar-se em Campus, o
suplemento semanal que é veiculado no jornal O Dia e reproduzido n’o Campus do Savio, o blog de múltiplas
falas com o qual colaboro esporadicamente.
O longo parágrafo de introdução foi escrito para contar como
chegamos a Jornalistas e a Pandemia, proposto pelo professor Savio
como parte do projeto Memória da Pandemia nas Alagoas, que ele está
a construir desde abril e que reúne relatos vindos de representantes dos povos
indígenas, artistas, intelectuais e integrantes de áreas diversas sobre o atual
momento. Ele propôs, e eu aceitei, que organizássemos uma seção para compor
essa construção feita a muitas mãos. “Quero deixar um imenso painel para um
pesquisador no futuro”, informa o pesquisador, que há tempos constrói
fundamental acervo da memória sobre Alagoas.
O blog pode discordar no todo ou em parte do material que publica