Quando o ano começar
Zuila Caroline Olegário Lima
Estudante do 4º período de
Medicina da Ufal
As promessas
de ano novo tiveram que esperar. Como estudante, o primeiro semestre de 2020
estava reservado à realização de vários trabalhos, pesquisa e escrita de
artigo, mas tudo ficou em segundo plano. Sem nenhuma perspectiva de voltar, a
modalidade de ensino a distância não é uma realidade provável na UFAL devido a
disparidade socioeconômica dos seus alunos. Estou oficialmente em isolamento
desde o dia 17 de março quando o calendário da UFAL foi suspenso. O que parecia
ser o início de um semestre de muitas expectativas deu lugar a frustação de ter
um único dia letivo. Desde então, minha atenção voltou-se as redes sociais e
mídias de informação onde, além das inúmeras informações sobre coronavírus,
tornou-se um ambiente tóxico pela disseminação de “fake News” e rixas políticas
de todas as formas.
Tudo isso
contribuiu negativamente para piorar a situação do isolamento. As notícias
referentes à COVID-19 me tocam de duas formas diferentes: primeiramente, por
ser diabética tipo 1 (insulino dependente) há 6 anos e como a literatura
mostra, sou de um grupo de risco em potencial para ter um quadro grave. A
segunda forma, por ser uma futura profissional da saúde, que apesar de não
estar atuando na linha de frente do combate, enxergo a gravidade da situação
para quem está se expondo bem como a calamidade velada de equipamentos para
proteção individual (EPI) cada vez mais escassos. Desde o início do isolamento,
levei com seriedade essa pandemia e as recomendações do Ministério da Saúde.
Mas o risco de adoecer sempre existiu porque meu irmão, que mora comigo e minha
mãe, trabalha como balconista de farmácia e, mesmo após o decreto estadual,
continuou trabalhando e se expondo.
Logo, o
coronavírus interfere na minha saúde tanto pelo risco de adoecer mesmo em casa
como tendo crises de ansiedade pelo medo iminente. Ao chegar abril, me afastei
das redes sociais e direcionei meu foco para tentar restabelecer uma rotina.
Nesse sentido, fiz um levantamento dos assuntos a serem vistos no período para
ir estudando em casa, me inscrevi em inúmeros cursos online gratuitos,
inclusive para a Olimpíada de História ofertada pela UNICAMP e retornei meus
estudos de inglês. Além disso, participo do DENEM (Diretório Nacional dos
Estudantes de Medicina) que a cada quinze dias são realizadas reuniões online
para discutir alguma pauta pertinente. A verdade é que temos que ressignificar
para viver.
A Semana Santa não teve a família reunida como
nos outros anos. Talvez, se afastar daquele parente tóxico seja o melhor a ser
feito para si nesse momento ou brincar um jogo de tabuleiro via Skype para
animar a família de Fortaleza seja o melhor que você pode fazer no dia. Se
alguém me dissesse em janeiro que as promessas de ano novo teriam que esperar,
teria aproveitado mais o vento no rosto ao andar pela orla, me estressado menos
por besteira e aproveitado mais o convívio de quem sinto falta. Por hoje,
espero que quando o ano começar tenhamos clareza de quais resoluções valem a
pena levar adiante. Que os dias incertos se tornem páginas escritas o mais
breve possível.