Como será o novo normal?
Cícero Ferreira de Albuquerque
A humanidade está vivendo duas grandes novas experiências: a
pandemia da Covid-19 e o advento de um grave problema global. Há algo de
extraordinário em tudo isso! Como nunca antes, temos um tema, um problema, um
desespero e uma necessidade comuns. Precisamos
construir saídas comuns.
A pandemia causada pela Covid-19 provoca milhões de
adoecimentos, milhares de mortes e exige da humanidade três grandes atitudes. Resignação
e resiliência são as primeiras. Chamamos de resignação a capacidade de saber
enfrentar os sofrimentos que a vida inflige, dos quais nem sempre podemos escapar; e de resiliência a habilidade de se adaptar
às adversidades, de superá-las e de tirar lições das experiências dolorosas.
Resignação e resiliência são chaves através das quais indivíduos e coletivos
melhor lidam com perdas e dores que não foram evitadas em tempo hábil ou que
são inevitáveis.
Ante a ameaça e a efetiva perda de vidas, outra atitude tem sido muito
comum nos dias que correm: a esperança, força
vital de mobilização individual e coletiva. Quando de boa origem religiosa, ganha
expressão nos clamores por força para enfrentar
a dor e o sofrimento desse momento e brota nas preces por luz e sabedoria para
encontrar saídas.
A ciência é outra fonte de esperança. Centenas de estudos
estão em curso, diversos pesquisadores buscam soluções que previnam do vírus e
curem a doença. Só no Brasil, conforme dados da Associação Nacional dos
Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES), em 46
universidades federais, apesar dos cortes de recursos para pesquisas feitos
pelo governo Bolsonaro, estão em curso 823 pesquisas que visam mapear o novo
coronavírus e encontrar uma vacina para a Covid-19. É muita balbúrdia!
A razão científica não é mágica, nem pode
tudo, mas através dela encontraremos saídas para os desafios impostos pela
Covid-19. Essa pandemia, em breve, será apenas mais um registro trágico na
história da humanidade. Porém, enquanto tempos gratos não chegam, o certo é que
nos encontramos diante de muitas questões, entre
elas: como será o mundo depois que a turbulência da pandemia passar?
Há quem afirme que o mundo sairá pior do que entrou na
pandemia, que será mais injusto e desigual, e que o
capitalismo se mostrará ainda mais infame. Mas
há também quem defenda que o mundo sairá melhor dessa pandemia, com valores de
empatia e solidariedade renovados. Se isso acontecer, a humanidade terá
aprendido com a dor e com o sofrimento, buscará novos sentidos para a sua
existência, sentidos mais respeitosos com as infinitas
outras formas de vida e regidos por princípios de tolerância e de justiça
social.
Muitas serão as lições. O
maior drama da humanidade hoje não é a Covid-19, mas
a dificuldade de prevenir e de atender plenamente os que adoecem. Muitas
mortes, talvez a maioria, acontecem por falta de assistência adequada. Sem um
rígido distanciamento social, os sistemas públicos e privados de saúde não terão
condições de atender a todos os contaminados. Os países que não têm um bom sistema
público de saúde estão sendo mais castigados pela Covid-19.
A crise atual revela mais uma vez quão perverso é o capitalismo
de cunho neoliberal. O sistema privado de saúde é um mercado mais que cruel. Quem
pode evitar ou moderar a mercantilização da saúde é o Estado, mas não tem sido
assim. É mentira que a Covid é uma doença democrática. Os pobres são as suas maiores
vítimas. No Brasil, como em nenhum outro momento, apesar das sabotagens há
muito enfrentadas, reafirma-se a
imprescindibilidade do SUS na vida do país. Mais, cresce a exigência social de
fortalecimento do SUS. Há uma mudança de patamar na nossa reivindicação de mais
SUS e melhor SUS.
Resignação, resiliência e esperança não são valores que,
necessariamente, geram amoldamentos e conformismos. Bem orientados, eles nutrem
a nossa capacidade de resistir e compreender que certas circunstâncias são
inerentes à vida e que não devem paralisá-la. Tudo isso promove vínculos que
não cabem nas perversas lógicas de mercado, nem nas ideologias filosóficas e
políticas que impulsionam o egoísmo e o ódio
social. Assim, aqui estamos, assustados e temerosos, mas convictos de que a superação dessa pandemia ou será
uma conquista do mundo todo ou não será de ninguém. Que assim seja o novo
normal!
Projeto Memória da
Pandemia nas Alagoas
Coordenação
Luiz Sávio de Almeida
e José Carlos Silva de Lima
O blog pode concordar
ou não, em parte e no todo, com a matéria publicada
Nosso objetivo é
deixar um painel diversificado sobre a pandemia nas Alagoas