A
pandemia, a quarentena e há mares, há lagoa
Marcos Farias
Natural de Maceió/Alagoas, é cantor e compositor, graduado em História e Gastronomia, servidor do TRT/AL.
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Esta foto é de autoria de Pablo de Lucas |
Leituras, filmes,
reflexão e muita música. Tem sido essa a minha rotina em tempos de quarentena. Preparar
as refeições também tem feito parte do dia a dia. Aproveitei o momento de maior
disponibilidade para realizar um desejo antigo: compor uma música com temática
local. Abordar as raízes e o folclore das Alagoas. Eis um momento mais que
oportuno e necessário para elevar a nossa autoestima e a nossa alagoanidade.
Em meados de fevereiro
passado, debrucei-me a escrever um poema sobre um povo esquecido: os moradores
ribeirinhos das lagoas das Alagoas. São eles pescadores, marisqueiras e
rendeiras. O pescado, o artesanato, o sururu e o marisco são fontes de
sobrevivência para esse povo. Mesmo à margem social, não desiste de lutar pela
própria dignidade.
Ao invés do tão usual e
hegemônico bordão “Terra dos Marechais”, procurei fazer o resgate dos
esquecidos. Assentei um registro aos sofridos filhos da terra, os nativos
Xucurus-Kariris. Também trouxe à memória o maior personagem negro da
historiografia brasileira, o palmarino Zumbi. Na pauta do poema, dois dos
maiores patrimônios históricos das Alagoas.
Nas emblemáticas Lagoas
Mundaú e Manguaba, com suas abundantes riquezas da fauna e da flora,
representei o complexo lagunar do estado de Alagoas. O manguezal é vida, a lama
é boa e gera sururu, pescado, caranguejo, alimenta e mantém a sobrevivência de
ribeirinhos. Das margens das lagoas às feiras, o sustento de alijados sociais.
Em pleno período de
quarentena, fim de março ao início de abril, obedecendo aos critérios
amplamente divulgados pelas autoridades de saúde, produzi o single ‘Há mares, há lagoas’. Porém não o
fiz sozinho. Com a observância da distância necessária – a maior parte do
processo desenvolvido com o auxílio da internet – contei com a participação de
excelentes profissionais, pelo que transmito meus sinceros agradecimentos. Van
Silva pela produção musical e, também, Jair Donato, Nyron Higor e Pablo De Luca.
Esta série tem por objetivo
publicar depoimentos sobre como se pensa e se lida com o Corona em
Alagoas. Está aberta a toda e qualquer
pessoa, de qualquer tendência. É uma documentação organizada, sobretudo, para
um futuro estudioso de como a epidemia foi vista e vivida em Alagoas. O
material será publicado paulatinamente
no suplemento Campus do jornal O Dia. Está sendo organizado por Carlos Lima, Mestre em
História pela Universidade Federal de Alagoas e Luiz Sávio de Almeida. O blog
pode discordar de parte ou do todo da matéria por ele publicada.