Natasha
Wonderfull
Saúde: a
pandemia vista por baixo
coordenado por Bruno Fontan
Eu, Natasha Wonderfull, técnica de
enfermagem, mulher travesti negra, 49 anos, pernambucana, presidente atualmente
da Acttrans- Associação Cultural de Travestis e Transexuais de Alagoas, filiada ao Fonatrans a à Antra. Criadora do
projeto Transhow, um grupo de cultura de travestis com a ideia de ajudar e dar
visibilidade à população trans.
E em 2019 criei o Canal Wonderfull no YouTube
junto com Luan e Valesca, psicóloga com o pensamento de mostrar a vida trans às
pessoas e com o pensamento de transformar o canal em uma empresa e no futuro em
um local de trabalho através de parcerias, como empregos para nosso público
trans.
Atualmente eu trabalho como técnica de
enfermagem no Consultório na Rua de Maceió, e para mim esta época de pandemia
me preocupa muito, porque nossa população trans é muito vulneravel em todas
situações, o exemplo do hormônio por conta própria, fazer programa nas noites e
pelo uso do silicone industrial onde o risco é maior. A situação de pobreza
extrema pela falta de uma qualidade de vida e uma saúde precária. Tem delas que
estão morrendo, tivemos muitas perdas de meninas trans.
E,
pessoas morrem frequentemente e nós da saúde vemos a morte levar as pessoas e
ficamos na luta, e como sou uma pessoa de alto risco por ter 10 litros de
silicone industrial e problemas circulatórios por motivos do produto químico
injetado, fora os hormônios, o amor de cuidar e saber que estou fazendo um
papel de humanização cuidando de outras pessoas, isso me dá forças para
enfrentar esta guerra e luto pra sobreviver e poder contar que sobrevivi mais
uma guerra da minha vida, fora a guerra de 30 anos das noites, das ruas
trabalhando como puta em São Paulo e fora do país.
Tento
me cuidar para não ser mais uma vítima e sim sobrevivente. Esta é minha fala como
uma pessoa travesti no mercado de trabalho, onde é muito difícil uma pessoa
trans ser aceita em qualquer setor de trabalho, principalmente a saúde onde
muitas portas fecharam por assumir um papel de pessoa trans em um nordeste tão
transfóbico