UM PACTO PELA VIDA: SOCIEDADE,
CIÊNCIA E UNIVERSIDADES JUNTAS CONTRA A PANDEMIA
José Vieira da Cruz
Professor da UFAL, Doutor em História pela
UFBA, Membro do IHGSE e da Academia Alagoana de Educação (ACALE)
Corona
virus pandemic / Coronavirus pandemie/
pandemia
de coronavirus / pandémie de coronavirus /
pandemia di coronavirus
UN PACTO PARA LA VIDA: SOCIEDAD, CIENCIA Y UNIVERSIDADES JUNTOS CONTRA LA PANDEMIA
UN PACTE POUR LA VIE: SOCIÉTÉ, SCIENCE ET UNIVERSITÉS ENSEMBLE CONTRE LA PANDÉMIE
UN PATTO PER LA VITA: SOCIETÀ, SCIENZA E UNIVERSITÀ INSIEME CONTRO LA PANDEMIA
A população mundial
vive há algumas décadas os efeitos da intensificação da circulação de pessoas e
mercadorias em escala global. David Harvey, crítico dos efeitos da
globalização, em artigo recente, destacou que se vive uma espiral consumista
infinita. Se por um lado, essa espiral gera para uma fração de pessoas ganhos
financeiros sem precedentes, por outro, produz mercadorias e uma escalada
consumista com efeitos sobre o clima e a qualidade de vida no
planeta. Um mundo líquido, assentado naquilo que Zygmunt Bauman,
sociólogo dedicado a estudar a questão do consumismo, da globalização e
das transformações nas relações humanas, definiu pela fluidez do
deslocamento de consumidores individuais que vivem em um mundo sem fronteiras.
Claro que esse maravilhoso mundo novo, para quem tem dinheiro, parecia
infindável.
Neste mundo novo das altas cifras dos
ganhos financeiros, os princípios éticos, científicos, sociais e ambientais são
frequentemente banalizados por governos preocupados com o desempenho das bolsas
de valores e dos interesses de investidores financeiros nacionais e
internacionais. Neste ponto, o Brasil demonstra estar tanto sintonizado quanto
preocupado em se adequar aos ventos conservadores e neoliberais do mercado, da
globalização e do capital financeiro.
Frente aos efeitos desta pandemia e
do seu poder de sobrecarregar os sistema de saúde, fronteiras internacionais
estão sendo fechadas, cidades estão sendo isoladas (lockdown), bilhões
de pessoas estão praticando o distanciamento ou isolamento social, a produção
de mercadorias está sendo interrompida e, consequentemente, começam a faltar
insumos para os sistemas de saúde e outras demandas de consumo.
Neste cenário, em menos de quatro
meses, do registro do novo Coronavírus em dezembro de 2019, ao início de abril
de 2020, o mundo vive uma crise sanitária, econômica e política sem
precedentes. O maravilhoso mundo novo da globalização é defenestrado dia a dia
pela realidade imposta pelo novo vírus. Assim, além das mortes e das
fragilidades dos sistemas de saúde, em particular nos países que descuidaram
dos investimentos em políticas sanitárias e sociais, o Brasil se encontra em
meio a uma disputa política internacional sem igual.
Feita esta introdução, começo aqui a
justificar o título desta reflexão a partir de duas duras constatações: a
persistente diminuição de financiamento desferidas contra à ciência, às
universidades e os institutos de pesquisa públicos no Brasil; e do grave
processo de desindustrialização do país há décadas voltado para exportação
de comodities e pelo favorecimento do capital financeiro. Em
oposição a esta crise e constatações, a alternativa está na sociedade
brasileira, no Sistema Único de Saúde (SUS), na capacidade produtiva do país,
na ciência, nas universidades e nas instituições de pesquisa e formação
públicas. Nestas últimas, é possível contar com seus laboratórios,
pesquisadores, repositórios acumulado de conhecimento e expertises.
Nota-se que nossas universidades
combalidas por anos com cortes no investimento em equipamentos, insumos e
recursos humanos, não têm se furtado ao chamado da sociedade. Porém sua
capacidade de produção é voltada para a pesquisa e não para atendimento de
demandas em larga escala. Neste sentido, cabem ao governo, à classe política e
ao setor empresarial deixar as diferenças de lado, para integrar as soluções da
ciência brasileira à capacidade de produção de nossas indústrias. Não basta
evocar, em tempos de guerra, de crise econômica e de pandemia, o papel do
Estado Interventor, como propõe a Escola Keynesiana. É preciso ir
além, é preciso rever as políticas neoliberais das últimas décadas e investir
de modo continuado, em torno de um projeto nacional e soberano, em políticas
sanitárias, educacionais, sociais e de desenvolvimento científico, de inovação
e sustentáveis.
A ciência, as universidades e
instituições de pesquisas públicas brasileiras têm competência para pensar
soluções, mas precisam de investimentos continuados, com fontes definidas e
sustentáveis. Neste momento, em um mundo com fronteiras fechadas, o país
precisa, nesta ordem, cuidar das pessoas, dos trabalhadores, estimular seus
empresários a investir no setor produtivo e fortalecer a economia e a indústria
nacional. Agora, urge a produção de EPIs e de equipamentos de
cuidados intensivos de saúde. No entanto, o presente aponta para um futuro de
novas demandas geopolíticas, econômicas e tecnológicas imprescindíveis.
Esta matéria foi publicada no suplemento Campus do jornal O Dia (Maceió).
Esta série tem por objetivo publicar depoimentos sobre como se pensa e se lida com o Corona em Alagoas. Está aberta a toda e qualquer pessoa, de qualquer tendência. É uma documentação organizada, sobretudo, para um futuro estudioso de como a epidemia foi vista e vivida em Alagoas. O material será publicado paulatinamente no suplemento Campus do jornal O Dia. Está sendo organizado por Carlos Lima, Mestre em História pela Universidade Federal de Alagoas e Luiz Sávio de Almeida. O blog pode discordar de parte ou do todo da matéria publicada.