E agora
Bolsonaro?
Esta matéria foi publicada no Suplemento Campus do Jornal o Dia (Maceió). Aquarela de Eduardo Bastos.
Luiz Sávio de Almeida
Professor Emérito da Universidade Federal de Alagoas e Dr. em História
Bolsonaro, o
Presidente, passa por uma pesada avaliação interna e externa. Pelo menos dois
importantes órgão da imprensa internacional foram impiedosos na avaliação que
realizar. Um deles foi o ultra diabólico-comunista The Washington Post e o outro foi um jornal de alta
evidência na Itália: Corriere della
Sera. Ambas as matérias foram comentadas
por outra terrível comunista: A Revistas Veja. Quanto mais o bolsonarismo não
faz uma reflexão sobre as críticas que recebe, quanto mais fica difícil
manter-se na política brasileira sem ser um bolsão à parte, não se integrando
de fato à normalidade democrática que o país deve seguir. E sinceramente, não estou pensando
partidariamente, até mesmo por não pertencer a algum; somente pertenci ao
Partido Socialista Brasileiro quando o
Presidente era um amigo: o Senador Jamil.
Ele não é um
grupo que está para fora, habilitado a fazer alianças; ele é um grupo para
dentro e parece interessar-se apenas por um núcleo e devora-se para manter o
bolsão, sabendo Bolsanaro com quem pode ou não mexer. No entanto, por mais para
dentro que seja, a sua natureza de governo está escancarada nesta condução da
pandemia. Não me interessa analisar isto em profundidade, pois não cabe aqui, o
que eu faria tranquilamente numa mesa de debate em uma discussão acadêmica
pois, aí, é meu mundo. Não define minhas posições, o fato de que Bolsonaro representa posições de direita.
Ainda sinceramente, a esquerda não tem monopólio de decência, honestidade e capacidade.
A mim, no jogo político, competiria combater as propostas, discutir,
preparar-me com as devidas cautelas para uma disputa eleitoral.
Muitas pessoas
voltaram em Bolsonaro por não encontrarem alternativa, outras pela diabolização
do PT que, por sinal, tem culpas a serem ponderadas e ele sabe disto. Outras por achar que ele legitimamente
representava seus interesses. O que me incomoda politicamente é o bolsão e a
diabológica como ele opera, dando-se ao termo, uma aproximação ao que escreveu
Poliakov. Mandetta foi bem mais
inteligente do que o bolsão e foi um conservador extraordinariamente
subversivo, pois demonstrou o bolsão na sua pior face: a intolerância numa
época de hecatombe nacional que chega a passar por cima de renda e classe, a todos atingindo, embora
seja mais do que sabido, a pobreza que se segure agarrada não sei em quê.
Foi nesta
oportunidade que Bolsonaro se perdeu na peleja
com Mandetta e a demissão do deputado tem consequências muito
graves: é quando se nota a força do bolsão. Acontece
que, talvez, quanto mais Bolsonaro força o bolsão, mais se encolhe. Suas perdas
são mais do que sensíveis, dentre os seus eleitores que não são bolsonistas;
basta ler as pesquisas, pensar no que elas vêm apontando. Se Mandetta esteve
com algum jogo político, na certa venceu: o bolsão encolheu-se bem mais e
inclusive, em termos da opinião pública, algo difícil a definir no Brasil. É
que Bolsonaro parece armar uma estratégia que a longo prazo não será eficiente
e tudo tem a ver, a todo o momento, com a próxima eleição para a presidência. Parece-nos que ele nunca está agora e sim no
que vem e, por outro lado, tem de destruir para ter força, como seu próprio
partido foi destruído. Ele não é um arquiteto do caos, mas, apesar disto, pensa
que poderá ordená-lo.
A sustentação
do bolsão levou à perda de aliados sérios, como o Governador Caiado, peso de
referência no que poderia ser chamado de direita agrária, embora modernizante
na produção, típico defensor do agronegócioa, mas que não teve condições de
aceitar as tiradas do Bolsonaro sobre a epidemia. Caiado é homem de ligação com
Mandetta, como Mandetta é com o Presidente do Senado e o da Câmara
Federal. Não se pode adivinhar qual a
posição do Bolsonaro, mas Mandetta que se prepare: o que haverá de acusações
por parte do bolsão será algo imenso e, possivelmente, Bolsonaro na sua tática
de atuação, ira aparentar seguir as ideias que eram apresentadas, para acusar
Mandetta e afastá-lo cada vez mais, logo ele, o conservador que se tornou
subversivo. Inclusive, por falta de jogo de cintura; note-se quantas vezes,
usou o pronome eu e quantas vezes usou o substantivo governo. Político que
perde, vira casca de pereba e ele vai ter que mergulhar, pois é difícil um
derrotado ter aliados. Derrota, é
possivelmente, um dos maiores e mais terríveis inimigos de uma carreira
perdida. Aliás. Ônix já começou com suas alfinetadas na direção do descrédito
de Mandetta e vai ficar cada vez pior, ele que diss da fraqueza de Bolsonaro,
aproveita a oportunidade e desce de escafandro, novamente, no bolsão.
Quem será o
próximo candidato a Oswaldo Cruz? O que Bolsanaro irá pedir dele? Eis o
mistério. Mandetta não tem alternativa, mesmo com 80% da população contra sua
saída. Ficam os 20% do bolsão, um quinto dos eleitores e Bolsonaro irá tentar
aumentar este percentual, se bem que se coloca em dúvida a capacidade de Guedes
conduzir a recuperação por dois motivos: a) o fato de Bolsonaro não saber e não
querer construir aliados e b) a insuficiência de seu liberalismo, da sua
divinização do mercado contra a diabolização do estado; teses aliás, destruídas
no que vivemos onde, sem estado, a crise social, econômica e política já teria
avançado a patamares inusitados.
No meio disto
tudo, Bolsonaro consegui um feito: ser pior do que Trump, o que digamos, é algo
difícil de se conseguir. O site Rede Brasil Atual comentou um editorial do The
Washington Post cujo título era espantoso: “ Leaders risk lives by minimizing
the corona virus. Bolsonaro is the worst”. Ele está sendo internacionalmente
acusado de colocar em risco a vida do povo e o editorial é severo em seu
julgamento: é o pior de todos. O jornal acompanhava o cotidiano de
Bolsonaro, os riscos em que
colocava população. E aconselha a que se
veja o próprio Trump, quando mudou de orientação e esteve partilhando da ideia
de isolamento. Na data de hoje, o mesmo jornal fala da disputa do Presidente
com Mandetta. Mas o Corriere dela Sera
entra por linha semelhante e foi comentado no site da Revista Veja. O jornal estudou a posição
de dez lideres internacionais e a pior
nota foi Bolsonaro. Claro que se trata de um jornal comunista; se não fosse,
não iria reduzir a tal ponto a cotação do Mito.
Realmente não
se pode entender que a posição de Bolsonaro não tenha causado impacto em
setores da população pois, afinal de contas, não era um mero cidadão e sim, um
Presidente da República. Se é verdade o
que as pesquisas revelam sobre a contaminação e aumento de casos e pressão
sobre o sistema de saúde, ele tem, de alguma forma, que ser responsabilizado. O que não posso falar é sobre o tamanho desta
responsabilização e o que dirá o Supremo Tribunal Federal, que tomou decisão
contra medidas que se choquem com as aconselhadas pela agência especializada da
ONU, aquela que Trump está tentando acabar. Se uma voz de peso se levantar no
Brasil contra o que Bolsonaro fez o8 ocasionou, a coisa fica feia.
Esta série tem por objetivo
publicar depoimentos sobre como se pensa e se lida com o Corona em
Alagoas. Está aberta a toda e qualquer
pessoa, de qualquer tendência. É uma documentação organizada, sobretudo, para
um futuro estudioso de como a epidemia foi vista e vivida em Alagoas. O
material será publicado paulatinamente
no suplemento Campus do jornal O Dia. Está sendo organizado por Carlos Lima, Mestre em
História pela Universidade Federal de Alagoas e Luiz Sávio de Almeida. O blog
pode discordar de parte ou do todo da matéria publicada.