Ilé N’ifé Omi Omo Posú Bétá (A Casa das Yabás)
(Yabinan de Nanã e Oxum)
Estamos passando por um momento difícil de uma pandemia
mundial (Covid 19) infectando milhares de pessoas doentes, milhares que
morreram e morrem todos os dias e aí vem o desemprego, a fome, o medo, o
estresse, o desassossego, as dúvidas.
Empresas fechadas, indústrias, escolas, comércio, as pessoas
em quarentena sem poder respirar o ar livre de nossas belas praias. Outros
morrem sem assistência médica, porque a saúde no estado de Alagoas não tem
suporte para atender todos os contaminados pela Covid-19.
Essas doenças do século passado voltando com vários sintomas
e nomes diferentes, sem escolher a quem atingir, pobre, ricos, brancos, pretos,
independente de posição social. Mas como sempre os humildes são os mais
atingidos, são os filhos da miséria de uma pais que desce ladeira abaixo.
Considero essa calamidade revolta da natureza, pelos erros
dos homens que não tem respeito a Deus, ou desconhece essa poderosa força e
fazem o que querem, mas tenho certeza que tudo isso vai passar.
A própria natureza adverte ao homem o princípio de um fim que
deve está próximo, mas não sabemos o momento exato, ainda temos tempo de
praticar o bem nesse planeta. Estamos tristes e pensativos!
Como pedir aos "DEUSES" para acalmar essa situação?
Nossos templos fechados, privados de atendimento ao público,
nossas obrigações, nossos cultos, nossas festas, trabalhos espirituais, nossas
curas aos necessitados com nossas ervas medicinais, banhos, chás, xaropes de
folhas, raízes, sementes, entre cascos e a fumaça do nosso cachimbo ou gaita
para afastar ventos ruins para aqueles que nos procuram.
O que fazer?
Enfim, meu dever, juntamente com os meus filhos, é, a
princípio, colocar nossos joelhos sobre o solo sagrado ou colocar nossa cabeça
(Ori) sobre a terra, receber a energia que nos contagia, nos regem e fazer
nossas preces.
Toda segunda-feira, rezamos pela madrugada e, ao amanhecer,
saímos em peregrinação pelas ruas da cidade de Maceió com os balaios de
Doboruns (pipocas), nossas baianas, acompanhadas com o nosso Ogã, saem jogando
as flores para o grande rei da terra,
Orixá responsável pela doença e a cura, em
pedidos de perdão e assim continuamos apenas com 3 ou 4 pessoas, com afirmações
de pontos, rezas, oferendas de paz, jejuns as sextas-feiras e assim seguimos
com o cumprimento do decreto governamental sem a abertura da nossa casa.
Vamos vencer sim, somos de fé, resistentes e confiantes que
chegará a vacina para esse vírus, creio que até dezembro. Teremos bons
resultados que serão frutos de um grande reforço para além da nossa fé.
Continuem usando máscaras, lavando as mãos, pois o vírus está em todos os lugares
e a prevenção ainda é o melhor remédio.
Respeitosamente Mãe Mirian.
(Yabinan de Nanã e Oxum).
Arroboboi!!
Pandemia e Cultos de Matriz
Africana se configura como um espaço democrático para a expressão das
diferentes perspectiva sob as quais os povos de terreiros e seus sujeitos
vivenciam e compreendem este momento singular de isolamento social e
enfrentamento da COVID-19.
Nesse sentido,
apresentaremos artigos escritos pelos próprio atores e atrizes sociais que
protagonizam o cotidiano dos terreiros alagoanos em suas práticas litúrgicas,
saberes e fazeres cotidianos. São Yalorixás, Babalorixás, Ogãns, e Ekedes, além
de Yaôs que trazem a público sua visão de mundo construída com base em sistemas
culturais particulares, onde a circularidade, a reciprocidade e a celebração da
vida como sagrada predominam.
Esses Xangozeiros e
Xangozeiras, dispersos por todos os rincões de nossa anfíbia terra, trazem com
suas vozes, cânticos e contos, valores e princípios que podem ressignificar a
tragédia pandêmica e nos revitalizar a esperança de dias melhores. Na ótica do
Axé, nada se esgota em si, tampouco se explica por si, pois natureza, ser
humano e sagrado se interconectam como um só. Ao desfrutar desses textos,
portanto é possível que nossos leitores e leitoras reavivam sentidos já
esquecidos para a suas existências e, talvez, aprendam com os terreiros que a verdadeira magia é o mistério renascer em vida.
Arapiraca,
Julho de 2020, ano da Pandemia
Odé
Akueran Ibadan / Prof. Dr. Clébio Correia
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