O novo coronavírus nos dobrou, como nenhuma guerra fez
Carlos Madeiro
Jornalista formado pela Ufal e atua na rádio Difusora e no portal UOL.
A missão de um jornalista não é das
mais fáceis em crise algum. Na história recente, onde tem problema, é para lá
que fomos. Sempre tive uma relação muito próxima com o jornalismo. Umbilical,
diria. Uma paixão que tenho desde a infância e que não consigo mais separar de
mim, o ser humano.
Essa é a primeira vez, porém, que não
vamos para cima do problema.. Estamos presos, em casa. Nunca imaginei viver
isso.
A experiência não está sendo das mais
fáceis. São muitas as dificuldades: uma doença nova (que agora tem mais
perguntas que respostas); uma prisão forçada; um medo diferente.
No meio disso, teríamos a ciência
para nós salvar... Teríamos, não tivéssemos eleito um homem anti ciência.
Some-se a isso os ataques diários que o jornalista sofre só por… informar. Ou
seja, o cenário é hostil. Hostilidade que cresce a cada dia.
São dias de aparente paz, num momento
de guerra. Ficar em casa é desafiante. O instinto nos joga para cima do
problema. Queremos ir lá, ver como estão hospitais, cemitérios, ruas. Ouvir as
pessoas. Mas a prudência -e as empresas- nos manda ficar quietos.
É um sentimento contraditório, ao
mesmo tempo desafiante. Como, de casa, buscar histórias e relatos em meio ao
trancafiamento?
Em meio a isso, temos as redes
sociais, que ajudam e atrapalham. Elas fornecem fontes, revelam histórias e
personagens, mas tem suas armadilhas. As fake news são como minas de guerra. Um
erro ao pisar é fatal.
O cuidado é ainda maior, mas a
vontade de ajudar também. Seguimos trancados para nós salvar. E daqui vamos
desafiando os incrédulos, seguindo com a missão de informar, de salvar aqueles
que querem luz em meio à escuridão. O isolamento mudou a forma de fazer, mas
não a essência de contar histórias e revelar verdades. Investigamos, cobramos.
E apanhamos por nosso dever.
Mas não, amigos, os loucos não vão
nos vencer. Eles estão nas ruas, soltos como animais em busca de alimento. O
ódio que estimula a fúria pelo remédio que não serve. Ela também. E estimula a
escrever.
A pandemia e o isolamento nos fizeram
também ter contato com histórias tristes, desoladoras. Mães que enterram filhos,
médicos que escolhem quem vive ou morre. Gente que passa fome e busca comida.
Negócios que quebram em meio da tragédia sanitária.
Por mais que o momento parecesse de
união, a hora parece ter nos desunido mais. Parece que decidimos passar pela
fase da maneira mais difícil, com uns contra os outros. Brigando. Sempre (ou
quase) desnecessariamente.
Vejo isso de casa, onde já tive
crises de tristeza, de esperança, de medo, de cansaço. Há um misto de sensações
que nos toma e nos faz refém.
Uma das coisas que mais nos desafia
nesse isolamento é a incerteza. Até quando vamos? O que será do mundo depois?
Vamos sobreviver?
Para quem é jornalista, e sempre
busca respostas incansavelmente, não é fácil não ter nada nesse momento.
Atento, tento aprender com os cientistas, que têm calma e resiliência para
achar o resultado. Nós, não! Temos pressa! A internet nos cobra; nosso cérebro,
sempre acelerado, nos pressiona isso. Mas não adianta, não temos resposta
agora. É difícil, mas aceitamos.
Então é seguir a vida, porque não
temos outra opção. Aquilo que não tem remédio, remediado está. Há quem chore de
dor pela perda. Há quem lute para ajudar. E há aqueles que vieram ao mundo só
para desafiar o bem.
Mas venceremos. Sempre o bem vence,
leve o tempo que levar. O certo é que o mundo pode até não ser melhor depois
disso, mas muitos de nós seremos melhores uns para os outros. E vamos nos
aproximar e tornar nossa realidade mais feliz e leve. É isso que espero
aprender.
Projeto Memória da
Pandemia nas Alagoas
Coordenação
Luiz Sávio de Almeida
e José Carlos Silva de Lima
O blog pode concordar
ou não, em parte e no todo, com a matéria publicada
Nosso objetivo é
deixar um painel diversificado sobre a pandemia nas Alagoas