segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Música, periferia e poesia: 33


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Periferia: encantos e desencantos do Boka!

Quem é quem!
Fellype Boka  terminou a licenciatura em Química na Universidade Federal de Alagoas, poeta gangsta e morador no Santos Dumont.

DOIS DEDOS DE PROSA

Esta é mais uma entrada de Campus no mundo da periferia e, no caso, vamos para a  transição de um poeta que está na periferia, para um licenciado em Química por uma Universidade Federal. É um discurso de quem, deseje ou não,  está em interlocução com uma das máquinas do sistema de produção de licenciados, bacharéis, especialistas, mestres, doutores... Vamos ver parte do que ele pensa, ensaia e diz.

Nesta caminhada, fomos novamente parceiros do jornalista Railton Teixeira da Silva  que, aliás, coordenou os trabalhos que resultaram nesta edição.

Vamos ler!

Um abraço

Sávio de Almeida
 
I - Cidade, periferia e poesia
Luiz Sávio de Almeida e Railton Teixeira da Silva

 

O perfil da distribuição populacional atual de Maceió começa a ser esboçado em um processo de urbanização “caótico” e de inchaço, que vai acontecer especialmente a partir da década de 60, com a transferência de pessoas do meio rural e de pequenas cidades do interior, motivada pelos desacertos estruturais de nossa economia que persistia no processamento do agrarismo de matriz colonial, pela forma que se estabeleceu e desenvolveu o mando político e a dominação correspondente em nosso Estado, fundada na relação direta entre poder e propriedade de terra.

A palavra caótico, no contexto deste artigo, é tomada em sentido a bem dizer  figurado, pois este caos é aparente: a desordem visível é a ordem desejada, no sentido de manter a linha divisória do poder no encaminhamento do capital na principal cidade do Estado. É a mesma divisória que está na base dos desacertos estruturais que mencionamos. A nossa condição urbana, portanto, mantém uma “desordem” na paisagem e uma ordem na sua lógica.

É claro que a relação poder e propriedade é também explicita no urbano. A extensão, a localização e a fertilidade das terras rurais que atribuíram valor à propriedade, passam a ser substituídas pela qualificação que o mercado vai atribuir às áreas urbanas. É assim, que o movimento espacial do capital urbano vai fundando a correspondente distribuição geográfica da riqueza. Então, aparece o chão de casa para os pobres, expressão riquíssima a indicar uma etnografia da relação entre possibilidade e desejo. O pobre, portanto, não enxerga a casa, enxerga o chão onde poderia tê-la. Nas grotas, a modernização das relações vem chamando de lote, como se ali houvesse o mesmo loteamento que é lançado nas áreas de maior concentração de renda, numa atitude que talvez venha a realçar uma busca de “legitimação” da propriedade.

A cidade de Maceió – no seu matizamento atual – é fruto de uma dinâmica de desacerto econômico nas estruturas rural e urbana, na ligação entre ambas. As crises resultam a expulsão da população do interior, que antes destinava-se, mormente, ao sul do Brasil e, nesta oportunidade, passa a radicar-se em boa parte em Maceió, na busca de renda e sustentação de vida. A população encontrava, internamente, um ponto significativo de destino e, com isto, os que chegavam encontravam os desajustes existentes, interagindo com eles e, então, amplia-se a desigualdade que nos caracteriza.

Ao chegarem, precisavam de renda e não encontraram uma taxa de geração de emprego capaz de formalmente situa-los na economia; nem mesmo, esta taxa de emprego chegava perto do crescimento vegetativo da população economicamente ativa. Como gerar, então, a renda? Tenha-se em conta que os ingressos monetários são fundamentais e esta população teria de buscá-los, devendo ser levado em consideração que a vida só é possível no sistema capitalista, mediante a compra de mercadoria. Era necessário encontrar forma de maximizar a viabilidade da venda da força de trabalho, que poderia resultar em salários diretos e indiretos, na atividade de pequenos serviços, do pequeno comercio, na venda de raspadinha, flau, peito de veia, quebra-queixo e o que fosse possível obter para comercializar, para que a sobrevivência fosse possível. Daí a população em torno do Mercado, o encanador a fazer biscate e situações semelhantes. Parece frase de efeito, mas examinada com cuidado, indica o drama de vida deste cotidiano exigido pelo processo: o pobre tem de encontrar a sua estratégia de pobre para viver no espaço em que pode manobrar a sua subsistência.

ma riqueza de modos e formas de sobrevivência vai aflorar neste contexto indo desde a marginalização integral até a um dialogo com o poder em busca de ter, no mínimo, casa e comida, pois a tendência seria a pratica política negar-lhe a satisfação de outras necessidade como educação e saúde. Com isto muitos se aproveitaram para exploração política e o reforço de uma pedagogia da opressão, sem dúvida, desqualificante da organização de uma sociedade civil e resistente, portanto, aos encaminhamentos feitos pelo Estado.

Ao chegarem à cidade, as pessoas tiveram de ir procurando onde construir suas casas. Isto demandava o encontro de locais com terrenos de baixo valor ou ocupáveis, mediante legitima expropriação e combatida pelo poder. Houve época, em que as pessoas chegaram a migrar de área pobre para área mais pobre; isto era sinal de que se poderia afundar, mais ainda, no modo de acumulação urbana em Maceió.

Foi daí, que começou a surgir o tipo de distribuição atual da pobreza na cidade, por esta lógica que espelha o imobiliário. Foi desta forma, que se fabricavam áreas para esta pobreza estar, nesta ingente geopolítica que se praticava, incrementando a diversidade de cidades em uma só. Estamos diante de uma rota urbana de acumulação, onde a exploração imobiliária foi superior, na condução da economia, à capacidade de geração de emprego e renda. Isto retardou e praticamente impediu a expressão da distribuição de benefícios para a população, confirmando esta Maceió “desajustada” que temos e de difícil reorganização, pois teria de superar a força histórica do padrão de acumulação, gerada por interesses econômicos e não ponderando o interesse desta população pobre.

Deve ser notado que a cidade foi dividida em, pelo menos, três regiões de pobreza. Duas delas situadas ao norte, com uma correspondendo às grotas em face das elevações, e, outra correspondendo à pobreza que vai localizar-se em tabuleiros, em boa parte engessada em conjuntos habitacionais desleixados pelo poder. A terceira área pobre corresponde ao território mais antigo de Maceió, iniciado antes da cidade ter subido para o Jacutinga, estendendo-se, sobremodo, no grande entorno da Lagoa, onde se tinha os extremos do Trapiche da Barra e do Bebedouro. Era uma espécie de cinturão pobre que se formava entre esses dois pontos, passando pela Levada, uma das grandes áreas de problema do assentamento da cidade como seu próprio nome revela. Haverá pobreza, também para os lados do Poço e de Jaraguá, mas o grosso estaria correspondendo à Orla Lacustre.

Esta urbanização “caótica” e de inchaço provoca o aparecimento de novas áreas pobres e consolida as antigas e, então, ela é, na verdade, uma acumulação constante de pobreza e numa visão, praticamente, geométrica. De tal forma este processo é conduzido, que hoje se tem gerações de pobreza assentadas em regiões da cidade, um denso pardieiro com marchas de riquezas devidamente protegidas pelo poder, ao encontrar, por exemplo, a grande formula dos condomínios verticais e horizontais, com muros que parecem sugerir pluralidade de feudos ao longo do território, com fossos e mais fossos resguardando a riqueza desta pobreza que incomoda, mormente, quando a ela é imputada a razão da violência.



Maceió foi pensada na direção Leste/Oeste, basicamente na articulação de Bebedouro e Jaraguá, estrada e porto. Maceió não tem apenas ruas, mas, também, ruas-estradas como Rua do Comercio, a que vai da Cambona para Bebedouro, a Avenida Gustavo Paiva... Somente na década de 50 do século XIX é aberto com clareza o eixo que teria a Rua do Livramento como ponto base e dirigindo-se ao Trapiche, cuja área leste correspondia, em parte, à densas dunas que foram danificadas pela construção do porto.

Muito depois é que vem o eixo do Jacutinga e a partir dele, onde era possível ser pobre, os pobres foram ficando, abrindo-se o norte como a grande faixa do lucro na fabricação de novos locais, igualmente pobres, dos quais, as grotas ao invés de serem centro de marginais, são, na realidade, centros de resistência da pobreza urbana e fabricados pelos construtores destas cidades diferentes. A altura para o rico é a altura do andar do seu edifício; a altura para os pobres é a subida da escada descurada pelo poder. Ao invés de marginalidade, nas grotas o que se tem é a poderosa força de resistência dos pobres, a partir, inclusive, da não submissão às posturas municipais que, essencialmente, as inviabilizaria.

O sentido da palavra grota mudou. Perdeu-se o angélico da Boca da Grota, onde estava a paisagem, para ter-se a imputação infernal de culpas lançadas sobre os empobrecidos que pouco têm o que comer, pouco que estudar, pouco o que ter de saúde, configurando um tipo de sociedade essencialmente diferente, por exemplo, da orla. É uma sociedade da carência, ou daquilo que falta, posta em face de uma sociedade da abundancia, ou seja: do que sobra. A carência de um é a sobra do outro.

A orla é a Maceió rasa, distante da normalidade dos padrões da formação histórica, resultando de um padrão de apropriação da paisagem e do ambiente pelo capital, ao se transformar em uma produtora de renda que de fato não está associada integralmente à cidade, embora esteja e seja na cidade. As praias de Maceió demonstram a diferença do raso, onde as pessoas do profundo vendem raspadinha, água de coco e o mais que der o trocado do dia, ao contrário da Maceió rasa imponente nos seus edifícios, cometendo, muitas vezes, seus próprios crimes como se pode ver nas dezenas de operações da Polícia Federal, mas sem ter seu território ocupado na presunção de que cada habitação é um antro. Tudo é decente.

Esta Maceió rasa é a Maceió de fora, constituindo uma cidade cujos limites se estendem nas pressuposições do turismo, a norte e sul. Onde der a venda do ambiente, onde puder se agregar desejos, a Maceió rasa se estende. A Maceió profunda é a Maceió de dentro, apertada, enlatada, sem a fantástica possibilidade de expansão que a de fora mantém. É exatamente nesta Maceió de dentro, ou Maceió profunda, que se encontra a periferia. É preciso discutir o que vamos chamar de periferia, termo novo associado ao nosso urbano e utilizado quando vem a noção perfeita de que se esta na Maceió profunda. Desta forma a noção de periferia associada à noção de profundo é política e gerada quando, de dentro, é fortalecida a ideia do partilhamento de uma situação dominada, pelo que é raso e pelo que é de fora, associado, às vezes, à forma de controle tradicional.

Como se pode notar não estamos dizendo que o fora e o dentro sejam isolados; pelo contrário, mantém relações e são elas que fortalecem o conjunto de partilhamento de situações e circunstancias que formam, inclusive, a periferia que somente existe, por existir um centro de poder e, assim, é muito mais do que uma noção geográfica cartesiana: a periferia é fundamentalmente uma noção de política.

Ao longo da história, esta periferia foi criando as suas próprias formas de expressão, transformando em algo seu, até mesmo o que vinha de fora e assim que penetrava e fundava raízes, passava a ser, inexoravelmente, de dentro. Por outro lado esta periferia monta e vive uma intensa ordem cultural, geralmente invisível para Maceió de fora, salvo quando o de fora deseja acumular. Ai, o que era do povo vira espetáculo mau remunerado, como aconteceu com a domesticação do boi, que era movimento de rua e terminou concurso de prefeitura.

O perigoso tornou-se fantástico. É como aconteceu com o coco, que, erroneamente é pensado somente como rural. Hoje virou concurso. As quadrilhas saíram dos salões tradicionais de Maceió e foram para os bairros: viraram concursos, demonstrando que a Maceió rasa praticamente, nada produz de efeito “popular” e, por isso, tem que nutrir-se do que o povo produz na rasa.

Nada contra a modernização das formas. Isso demonstra que existe uma circularidade nas relações das formas culturais, mas até hoje nunca se conseguiu reduzir o hip-hop e o reggae. Onde está o concurso público do hip-hop, forma de má remuneração? Onde esta o concurso público do reggae? A tentação é dizer que eles não se reduzem pelo fato de que a marca negra é inconfundível nesta circularidade, independente de ser produzido pela cor do artista: é negro, por que é pobre e por que conseguiu no meio pobre seu próprio mercado de consumo. Não são consumidos, nem por concursos na orla que é o raso. E para certos grupos, o rap e o reggae não pretendem esta relação.

Voltamos a afirmar que nada temos contra as manifestações do boi, das quadrilhas, do coco, nem mesmo contra as relações delas com o Estado, e, diretamente com o próprio capital. Apenas desejamos dizer que na ordem das relações internas da periferia, elas cumprem um papel diferenciado. Por outro lado, deve ser considerado que o rap vive também seus problemas de relação urbana e de identidade, discussão sobre o que apresentar e representar, havendo correntes, formas de expressão de estética e conteúdo. Não é algo homogêneo, mas sem dúvida ainda mantém características de diferenciação que podem ser vistas.

No caso o artista que estamos apresentando é de tendência gangsta: o Fellype Boka. O que ele escolhe para falar sobre a vida, o leitor de Campus deve escutar e, por isto, este suplemento traz uma pequena entrevista com o Boka e publica uma das suas poesias.

O leitor pode concordar ou não com o que ele diz, mas sem duvida deve saber o que ele diz, pois é um dos tipos de voz que fala do lugar da periferia e, por tanto, sobre o cotidiano, as valorizações, as criticas e as aspirações que circulam no dia a dia.




II – A fala de Fellipe Boka

Estou naquele molejo para não perder a bolsa. Terminei as disciplinas do curso de Química, licenciatura. Estou ai só para colar grau; esse é o corre final. Atualmente estou tendo algumas experiências como professor em uma escola no bairro do Barro Duro, estilo um projeto. Vivo batalhando na vida, pagando aluguel, alimentos, sempre na correria. A sociedade vê a gente como hippie, maconheiro, tudo relacionado com esse negócio assim. Tipo um ladrão, ta ligado não? O primeiro impacto quando vê a pessoa assim... Tem essa visão... A galera pensa que temos formação de gangue. É criminoso. Que é bandido, que tem doideira!

Morro no Santos Dumont, mas nasci em São José da Lage e com dois anos vim para Maceió com a minha família. Meu pai estava sem emprego, era fotografo neste tempo. Só que essa profissão neste tempo já estava em declínio; me lembro que era por volta de 1992. Ai ele chegou e disse que a gente ia para a capital. Todo mundo naquele êxodo rural. Aí viemos para Maceió. Arriscamos a vida aqui no Tabuleiro. Sempre morei aqui, na parte alta da cidade.

A universidade é muito contraditória. Muitas questões, assim, voltada ou contextualizada para o pobre aprender, para o povo aprender são muito diferentes. Esses conceitos de saber dividir as coisas, que cada aluno tem seus problemas pessoais, suas particularidades, ta ligado? Que vem de casas diferentes, culturas diferentes, religiões diferentes... Na teoria, a gente vê isso aqui, mas não vê os professores daqui fazer isso, não vê nem nos professores que saem daqui. E quando você vai para as escolas, você vê que não dá para fazer um trabalho do jeito que você possa contextualizar e trabalhar uma coisa diferente, doido. Você tem que fazer aquilo que é mandado. Tem que da esse assunto e pronto. Não podemos falar das coisas que achamos importante para a formação do homem, mas tem que apenas dar o assunto da prova do ENEM, tem que passar no ENEM, tem que passar no IFAL... A maioria dos professores da UFAL não sabe da realidade da rede pública de ensino. Eles nunca passaram por lá. São poucos os que de fato já deram aula na periferia. A contradição começa que poucos professores são daqui mesmo do Estado, a maioria de fora, vem do sul. Com outras cabeças, com outros conceitos que a gente não sabe. Diferente.

Mas, é tipo um filme. Chega um aluno louco que não sabe nada e de repente começa tudo do zero. Parecendo um boxeador, vai treinando e derrubando os caras.  Para a minha família, eu sou o primeiro cara formado; é massa! É um status social massa. A família, o pai do cara bota uma fé. Mesmo sabendo que o cara fuma um, mas ver que o cara estuda. Já aqui na faculdade, o cara via que alguns professores reagiam: ‘poxa que massa, esse bicho estar aqui’. O cara via que eles estavam alegres. Mas tinha uns que não ficavam não, velho. A depender do professor! Tem uns reaças mesmo, mas também tem uns que me apoiaram. Porque também, quando eu cheguei aqui foi doideira, eu pensava que era como o ensino médio, na escola. Já cheguei logo com a camisa do Azulão, caderno velho do 3º ano ainda, uma teia de aranha desenhada na cabeça. O primeiro dia de aula o cara tem que vir no estilo, quando cheguei aqui, a galera era outra performace. Não foi eu que mudei; eu continuei sendo o mesmo aluno que era no ensino médio. Extrovertido, mangador, não sei o que...

Quando cheguei aqui, tudo era diferente. Uma piada aqui não tem graça, velho. Levei umas trombas no começo, repetindo tudo, mas depois eu disse: ‘meu irmão eu tenho que conseguir’. Para mostrar para muitos por aí. Provar para amigos, para família, todo mundo fica no pé do cara. Mesmo os caras que não sabem nem o que é faculdade, lá nas quebradas do cara: ‘eita esse bicho, oia, fuma maconha, mas é estudioso. Vai na onda do Boca!’. Os caras não sabem nem o que é isso, mas ficam no pé do cara. ‘Eae, terminou meu irmão?’. Todo mundo querendo ver o cara dizer ‘terminei meu fio, terminei já!’. Família, amigos e represento para todo mundo, eu acho, que a galera bota uma fé. É massa.

E Boka é um apelido de infância. Da periferia. Acho que em todas as quebradas têm Boka. É um apelido bem comum, como: Magro, Galego, Negão. São apelidos comuns, pronto um cara comum da periferia, desde pequeno esse apelido, ai foi. Foi seguindo a vida toda. A galera só me conhece como Boka.   

 

    

III - Música – O QUE MAIS QUERO
Felipe Boka e Invasor (Família 33)


BOKA

Me diz quem não quer um AP pra morar? Um carro e dinheiro pra gastar, poder contemplar a luz do luar, a brisa do mar, uma gata pra amar?

[...]

INVASOR

Me diz quem não quer morar num lugar, poder desfrutar de tudo que há de bom na vida, poder trabalhar, os filhos criar, voltar a estudar? Me diga ladrão que bom seria! Um dia o jogo vira irmão, pra que tanta pressa? Vamos viver um dia por vez, a cara é essa. 33 nós espera paciente o alvará, que na rua nós não quer aguardar a vitória chegar. Espera uma pra se jogar, fraco de arma nas horas mais difícil é preciso ter calma; não vou só ficar rimando só os traumas,as derrotas, se eu contar as trombas que nós leva irmão, ai nem rola, é muito melhor falar das nossas conquistas, das forças da ascensão das ideias que instiga. Vida preta mais lida, não vai esquecer da noite de hoje que amanhã quer me ver.

BOKA

[...]

Lá vão as pessoas com suas vidas, nada sadias, no pulso da hierarquias, à procura do seu espaço, um emprego um salário, altos cambalachos para achar. Caboclo também quer gastar, descer para o shopping Center. Umas pratas, uns pingentes, dinheiro faz os pretos virar clientes. Estão vendo como as coisas muda? Antes me chamava de fila da p.. agora engula suas palavras feias, foi assim que eu sonhei uma vez, fiquei adormecido,  dinheiro é prestígio. Até o meu sonho sabia disso, como viver o amanhã se o hoje ta rolando? foi assim que falou  o meu brother, que pode nos corres. Só você um simples sonhador .

INVASOR

[...]

Hum, pode crer rapaz... Família 33...  Ta ligado, que amor não mata fome. É por isso que estamos atrás dos potes premiados, é desse jeito rapaz, o que mais quero: mais justiça e liberdade.