segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Luiz Sávio de Almeida: Rio São Francisco e seus lugares: canoas da foz no Piaçabussu

sábado, 24 de maio de 2014

Rio São Francisco e seus lugares: canoas da foz no Piaçabussu

Rio de São Francisco.
Landscape. People. Everyday life.
Quem nunca pisou
em Piaçabuçu,
Não sabe onde fica o Norte
E não sabe onde fica o Su!





Sempre se pode andar sobre as águas!
Os barcos sempre estão à espera e são primos das parcas e irmãos das barcas de Gil Vicente!

   
 
Subindo o rio, é onde primeiro se chega antes de estar no pátio do Penedo.
Piaçabuçu é uma cidade que viveu com medo de cheia e é cheia de barcos, alguns deles rumando para a pesca do camarão em alto mar; outros que são pequenas canoas ficam 
mesmo na espreita das... 
 
Pílombetas; 
muitas lanchas levam e trazem gente, inclusive para uma visita aos lados da Foz.
Quem olha para os lados da Foz, jamais esquecerá.
Foi neste barco, que ela pela primeira vez pensou no destino! Sentou e teve medo. Suspirou quando viu o balanço da canoa, a refrega do vento na vela que passava.











Luiz Sávio de Almeida. O Rio São Francisco e seus lugares: Penedo circa 2012

 

O Rio São Francisco e seus lugares: Penedo circa 2012

postagem maio 2014

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Novamente Penedo vem à tona. É parte de minha vida, Não sei pensar e nem viver sem que Penedo aflore nas mais diversas lembranças. Olho para a cidade como se procurasse o tempo que não perdi, que não sei onde guardei mas sei que existe. Será que é um tempo místico ou mítico? Não sei: é meu tempo mas às vezes não tenho qualquer intimidade com ele.
Toda vez que fotografo Penedo, fica uma dúvida: fotografei a cidade ou a mim mesmo?  Sei que sou mais do que eu mesmo, pois o rio me faz maior e, assim,  saio somando tudo, inclusive a torre das Igrejas.

Seria falta de educação ver uma cidade adormecer?


Começar a remexer na cama e pensar no que viveu durante o dia?


Quando a cidade se recolhe, o rio acompanha, pudicamente  acompanha!

Pois a sombra começa  a sombrear e a luz continua a alumiar!
E a noite vai chegando, o sol atravessa para Sergipe!
 E a cidade começa a se cobrir!
Penedo vai dormindo!

A cidade dorme!

Enquanto ela dorme, eu fico acordado e esperto nesta casa onde morei até a avançada idade de seis anos. Cajueiro Grande. Depois é que fui morar na Rua da Penha. E fiquei tão esperto, que encontrei a casa de minha primeira professora: dona Maria José.

E
 enquanto durmo, a cidade recomeça a acordar!


Luiz Sávio de Almeida e José Almeida dos Santos. Bar da `Pata

Ovolúsia: a fundadora

Terei coragem? 
É trabalhoso, é chato mas vale a pena estar com os amigos, fazendo uma espécie de diário, documentando e falando um pouco da vida.
Por onde recomeçar? 


Uma visita aos bares tradicionais de Maceiórepresentados pelo Bar da Pata, estabelecimento que resiste anos a fio, sendo uma referência da vida boêmia da cidade. A visita foi realizada na companhia do Professor José Almeida dos Santos.








Uma visão do bar





Esta é Socorro, a atual proprietária

Esta e a pata do Uça, uma iguaria fina. Veja a delicadeza com que a casca é quebrada, para facilitar o trabalho. Não existe aquele ritual macabro de porrada com um pauzinho.





O caldinho da pata








Este é o camarão da receita do Bar das Ostras





Pedro Cabral. O castelo de areia pronto, imediatamente desconstruído













Esta matéria foi publicada no número 61 de O Dia, correspondendo à semana de 27 de abril a 3 de maio de 2014.



Pedro Cabral




       Dois dedos de prosa.   Eu conversaria horas sem parar com Sereníssima, a mulher que se revela na harmonia de um rosto quase em levitação. Sereníssima se faz em mim, mas a Bandinha da Viçosa carrega-me para ela. Descubro que sou móvel e descubro também, que a pintura de Pedro Cabral é feita de revelação sobre o mais comum do que existe no universo: o cotidiano. Mas é também um excelente tempo de permanente descoberta.
           Pedro Cabral é professor universitário, mestre na área acadêmica, arquiteto de prancheta cheia de ângulos e contra-ângulos, quase Quebrangulos – embora ele seja de outro lugar –, de uma versatilidade imensa pois é poeta, contista e homem da comunicação.  Toda esta riqueza seria um denada se ele não fosse pessoa muito querida.
          Todos os nossos momentos são bons, desde nossa faixa incolor  do Karate- Dóiiiiiiiiiiiii à corda de caranguejos que ele soltou em um ônibus, meia noite, que vinha do Recife para Maceió. Contei estas coisas para que se saiba: que dentro do pintor mora um anjo e é, para meu orgulho, um anjo de minha guarda.
          Pedrinho esta não é uma homenagem a você e nem à sua pintura. Nem de longe Campus chegaria lá. É apenas um tributo aos seus olhos e seu carinho vendo Alagoas, vendo a nossa gente.

  Luiz Sávio de Almeida



Nasci às margens da Lagoa Mundaú. Por isso, sou formado em vida. Depois virei arquiteto. Por isso, sou formado em sonhos. Depois resolvi ser professor. Por isso, sou estudante. Perambulo pelas cores. Por isso, sei da escuridão. E vez em quando escrevo ideias. Nem por isso sou poeta. Pedro Cabral



O castelo de areia pronto, 
imediatamente desconstruído
         
Pedro Cabral

1.      A arte: primeiros olhares, primeiros sentimentos

 
  
Se você me provoca, amigo Sávio Almeida, acerca da arte em minha vida, o pouco que tenho a dizer derramarei aqui. Não sei se foram os lápis-de-cores ou se foi um quadro na parede o responsável pela primeira percepção do que hoje eu chamo de arte. Só sei que quando meus pais me trouxeram de presente uma caixa de lápis e papel de desenho eu me encantei pelo colorido. O amarelo e a cor laranja, os dois tons de verde, o vermelho, os dois tons de azul, o marrom, o roxo, o preto e o branco, sim, o branco. Mas pra que o branco, se o papel já era branco? Seria essa a primeira percepção da arte? E a sensação do prazer de toda criança em desenhar casinhas, o sol e a lua, árvores, ruas, crianças e carros. Desenhar aquele mundo do nosso olhar.

Não me recordo se este sentimento antecede ao quadro exposto na parede da pequena mercearia dos meus tios Eraldo e Emerita que mostrava a Divina Comédia de Dante. O Inferno, na parte inferior da tela, com suas cores vermelhas, sorrisos sarcásticos, corpos doloridos, danças prazerosas, a meu ver. No meio da tela um lugar curioso: o Purgatório, à meia altura de uma montanha. Um lugar nem lá nem cá. Sem cor definida. Talvez um verde tímido de esperança. Talvez o lugar mais otimista que se conhece. Engraçado, parece-me que Nietzsche dizia ser a felicidade aquela paradinha no meio da montanha e não a chegada ao topo. E, finalmente, no topo, o doce, puro e delicado azul do Céu, com aquela paz celestial; paz demais. Hoje o que tanto procuro. Só sei que este quadro me atraía fortemente, tanto pela mensagem disciplinadora, quanto pelo colorido. Creio que o artista caprichou no Inferno, pois havia algo animado nas ruas que hoje sonho pintar. Ou seja: ruas precisamente alegres com música, algazarras e tudo mais. Sim, o vermelho forte e primário do fogo abrasador, o amarelo das ruas movimentadas, ligadas às farras. Essas cores do quadro que me levavam à ideia de Inferno, hoje eu as quero no meu Céu. 


E sabia das esculturas religiosas que adornavam retábulos da Igreja. Mas as entendia mais como algo sacro do que artístico. E sabia das artes em ferro que meu pai habilmente transformava em algo útil, criando, torneando e soldando um portão metálico com belas figuras geométricas ou desenhando um carrinho de rolimãs para eu bagunçar o silêncio da vizinhança. A foto de Getúlio Vargas na parede e a do casal emparelhado que não sorria, eram para mim apenas uma lembrança na parede não vinculada à arte. 

Nada disso eu entendia como arte. Arte até então era a pintura, mesmo sendo uma reprodução em série de um quadro naturalista, a representar a paisagem primaveril colorida de um lugar longínquo que vez em quando eu me pegava olhando, comprado por meus pais na loja 4-400. O meu conceito intuitivo de criança para o que eu poderia chamar de arte era algo feito diferentemente da função utilitária. Mas artista mesmo era o cantor ou o ator de cinema. Meu mundo sem lições era assim. E a infância e adolescência conviveram com essa limitada compreensão. Hoje, entendo haver arte também no poema. Só não chamo o poeta de artista porque me agrada mais a palavra poeta.

Foi preciso uma convivência acadêmica em arquitetura para ouvir sobre Estética, sobre o Belo, a Harmonia. Sobre a riqueza e a versatilidade da arte e seu papel transformador da sociedade. Foi preciso ler História escrita no Chão, de sua autoria, amigo Luiz Sávio Almeida, para me conscientizar que folclore, feito da veia popular não é mito. É tão história dita verdadeira quanto à registrada nos livros de História, que, aliás, nem sempre trazem a veracidade dos fatos. Foi preciso ler Edgar Morin para entender que arte não pode ser dualizada em erudita e popular. Tudo é arte. E notar, muito tempo depois, visitando um museu árabe, que artesanato é tão arte quanto um quadro de Monet. 
 
2.      Os primeiros impulsos artísticos ou botando a mão na massa


A arte não me apareceu como profissão. Não me sentia capaz, mesmo se procurasse uma escola de arte com um pintor renomado. Até hoje ainda me sinto assim. Talvez por ser um autodidata e pensar ser necessária uma formação acadêmica. Será mesmo que é assim? Tantos tiveram formação superior e nada produziram. Quantos outros foram ou são grandes profissionais providos da genialidade das grandes obras, sem a necessidade da Academia? Minha história caía numa geração que exigia ser médico ou engenheiro. Ser arquiteto foi um desapontamento para os meus pais, que investiram toda a sua pobreza financeira, vivendo espartanamente, para me dar nome. Ser arquiteto foi um passo para me aproximar fortemente da arte.



 Enveredei profissionalmente pela arquitetura, mas na condição de professor. Oportunidade dada por um concurso público federal para se alcançar certa segurança na vida. Vez em quando, elaborava ou elaboro projetos demandados por clientes gentis que me ajudavam e ajudam, nessas práticas, a compartilhar melhor meus ensinamentos com meus alunos. E enquanto exercitava arquitetura, ensaiava desenhos tímidos a bico de nanquim, na intenção mais de praticar o traço, presentear colegas ou ornar as paredes nuas da casa de um recém-casado sem dinheiro para comprar obras de arte.


O começo foi mais de observações, de leituras, de visitas sonhadoras a museus e galerias. E o tempo passou, com a teoria acercando-me mais do que a prática. Medo maior: a busca desesperada por um estilo e o desconhecimento de técnicas de pintura a óleo.

 

Projetar e construir a sua própria casa é um grande alento. Pode-se executar seu sonho sem ter medo de uma reclamação do cliente que lhe paga. E feita a casa, sente-se obrigado a ter suas paredes cobertas por obras de arte coloridas. Foi o que aconteceu, mestre Sávio, depois de muita labuta. E mais uma vez sem medo de expor em sua casa suas próprias obras.

E assim, eu me vi, nos anos 90, pintando a tela incólume. Aquele branco virginal. Aquele branco aterrorizador a ser enfrentado sem base técnica e apenas se alimentando do colorido e composições guardados na memória de tantas belas obras de arte de tantos fabulosos e consagrados pintores. Em quem basicamente se inspirar? No impressionismo, no neoimpressionismo, expressionismo, no fauvismo. Em nenhum artista especificamente. A corrente era mais importante do que o artista. Os princípios de cada escola. E, sobretudo, o colorido que anima paredes. Vi nos fauvistas essa força. A princípio, uma tela era uma escola. Ali, havia um desesperado caminho de extremada limitação a respeito de um Matisse ou de um Derain.


E os primeiros filhos, digo, telas, foram surgindo. E sempre o mais novo trabalho era o mais querido. Até ter uma meia dúzia e deixá-los num baú de amadurecimento. E quando a mente descansada os retomava, o olhar fazia uma nova valorização do que foi concebido. E havia um ou mais onde o capricho foi mais forte. E em outros, a criação se perdeu na esquina de uma rua. Alguns desses trabalhos foram repintados várias vezes. Era uma forma de autocrítica. Camadas e camadas de cores e traços. A pintura a óleo permite isso. Ufa! Tenho pena de jogar uma tela fora, mesmo que o trabalho seja sofrível. Meu amigo arquiteto Alex Barbosa me sugeriu, certa vez, que fizesse uma exposição com não mais de 30 quadros. E que não tivesse pena de esquecer algumas telas pintadas. Isso me lembrou de uma conversa de Hemingway com Gertrude Stein, que li em Paris é uma Festa, quando ela chamou de inaccrochable um conto dele, ao explicar que o termo significava uma situação em que o pintor não tem coragem de pendurar ou expor um quadro seu. Nem um pretenso comprador também o fará, pois não terá coragem de pendurá-lo. 

Mas antes da coragem de dizer que estava pintando ou quisesse expor, a velha e rigorosa autocrítica me alertava, como a Senhora Stein fez com o grande escritor: certamente, nada que eu dissesse claramente: está a contento. Inda mais imaginar: é um Pedro. Oh! Quanta pretensão minha, amigo meu. E o quanto isso me angustiava – e ainda me angustia - não ter um estilo - leia-se identidade -, sentimento que logo passava ao me apaziguar com o fato de que todos os pintores tiveram suas escolas, suas influências e nada acontecia de primeira. Tudo é um processo. Mas não era a teoria que garantiria isso? Pura balela. Sem praticar, nada se completa. Hoje, mesmo sem estilo, já não tenho medo de expor meus trabalhos. Não por domínio da arte, mas porque não tenho nada mais a perder.

 
3.      Onde pousa o olhar agora

 Enquanto não vejo os quatro cantos da tela pintados não sossego. Antes, pintava num só fôlego. Telas grandes num só dia.  Menos afobado, já dedico dois ou três dias a uma tela. Claro, e há aquelas que, passando por elas, timidamente caladas, sinto a necessidade de me envolver de novo, repintando-as. Ainda tento me inserir numa escola. Pintar 13 telas para interpretar os poemas de poetas alagoanos musicados por Mácleim, que ilustraram o CD dele, me possibilitou enveredar por várias escolas. A cada poeta e respectivo poema, eu atribuía uma cor predominante, uma tendência artística ou identificação com um artista. Desse modo, fiz um pop art do meu jeito para um poema de Paulo Renault, e assim por diante. O arranjo da música me apontava o sentimento das cores.

 

Essa experiência aliada a um estudo na arquitetura sobre desconstrutivismo me levou a pensar em adotar seus princípios na pintura. É o que estudo agora. E como faço isso? Parto do figurativismo e, mediante os traços adquiridos na escola de arquitetura, juntamente com as cores vibrantes, eu tento desconstruir o real, na busca por um ponto situado nos limites entre dois mundos: o figurativismo simbólico e o abstracionismo que tenta simbolizar o mundo real. Essa desconstrução lembra o mesmo gesto de uma criança que monta seu castelo de areia e, de repente, intempestivamente, ela o destrói, gerando um novo desenho. Esse figurativismo tematicamente está baseado em desejos de gente alegre nas ruas. Tem algo mais descontraído do que passear de bicicleta à toa vendo a paisagem urbana? Gosto da alegria, apesar de também pintar a denúncia da injustiça.



 E por que uso esse conceito? Por entender que muitas vezes é preciso transformar essa realidade que caminha sem o nosso sentimento de que a vida da sociedade vai a contento. Algo construído precisa ser refeito. Se não posso transformar o mundo com meus gritos, o faço na pintura. Pinto a realidade e a refaço, ou a desfaço em meus sonhos. Sei que não é o mundo de todos. É o meu, mas é pensando em tudo e em todos.