domingo, 26 de julho de 2020

Mãe Mirian. Ilé N’ifé Omi Omo Posú Bétá (A Casa das Yabás)





Ilé N’ifé Omi Omo Posú Bétá (A Casa das Yabás)

Mãe  Mirian

(Yabinan de Nanã e Oxum)
Estamos passando por um momento difícil de uma pandemia mundial (Covid 19) infectando milhares de pessoas doentes, milhares que morreram e morrem todos os dias e aí vem o desemprego, a fome, o medo, o estresse, o desassossego, as dúvidas. 

Empresas fechadas, indústrias, escolas, comércio, as pessoas em quarentena sem poder respirar o ar livre de nossas belas praias. Outros morrem sem assistência médica, porque a saúde no estado de Alagoas não tem suporte para atender todos os contaminados pela Covid-19.

Essas doenças do século passado voltando com vários sintomas e nomes diferentes, sem escolher a quem atingir, pobre, ricos, brancos, pretos, independente de posição social. Mas como sempre os humildes são os mais atingidos, são os filhos da miséria de uma pais que desce ladeira abaixo.

Considero essa calamidade revolta da natureza, pelos erros dos homens que não tem respeito a Deus, ou desconhece essa poderosa força e fazem o que querem, mas tenho certeza que tudo isso vai passar.

A própria natureza adverte ao homem o princípio de um fim que deve está próximo, mas não sabemos o momento exato, ainda temos tempo de praticar o bem nesse planeta. Estamos tristes e pensativos!

Como pedir aos "DEUSES" para acalmar essa situação?

Nossos templos fechados, privados de atendimento ao público, nossas obrigações, nossos cultos, nossas festas, trabalhos espirituais, nossas curas aos necessitados com nossas ervas medicinais, banhos, chás, xaropes de folhas, raízes, sementes, entre cascos e a fumaça do nosso cachimbo ou gaita para afastar ventos ruins para aqueles que nos procuram.

O que fazer?

Enfim, meu dever, juntamente com os meus filhos, é, a princípio, colocar nossos joelhos sobre o solo sagrado ou colocar nossa cabeça (Ori) sobre a terra, receber a energia que nos contagia, nos regem e fazer nossas preces.

Toda segunda-feira, rezamos pela madrugada e, ao amanhecer, saímos em peregrinação pelas ruas da cidade de Maceió com os balaios de Doboruns (pipocas), nossas baianas, acompanhadas com o nosso Ogã, saem jogando as flores para o grande rei da terra,

Orixá responsável pela doença e a cura, em pedidos de perdão e assim continuamos apenas com 3 ou 4 pessoas, com afirmações de pontos, rezas, oferendas de paz, jejuns as sextas-feiras e assim seguimos com o cumprimento do decreto governamental sem a abertura da nossa casa.

Vamos vencer sim, somos de fé, resistentes e confiantes que chegará a vacina para esse vírus, creio que até dezembro. Teremos bons resultados que serão frutos de um grande reforço para além da nossa fé. Continuem usando máscaras, lavando as mãos, pois o vírus está em todos os lugares e a prevenção ainda é o melhor remédio.

Respeitosamente Mãe Mirian.
(Yabinan de Nanã e Oxum).


Arroboboi!! 
Pandemia e Cultos de Matriz Africana se configura como um espaço democrático para a expressão das diferentes perspectiva sob as quais os povos de terreiros e seus sujeitos vivenciam e compreendem este momento singular de isolamento social e enfrentamento da COVID-19.

Nesse sentido, apresentaremos artigos escritos pelos próprio atores e atrizes sociais que protagonizam o cotidiano dos terreiros alagoanos em suas práticas litúrgicas, saberes e fazeres cotidianos. São Yalorixás, Babalorixás, Ogãns, e Ekedes, além de Yaôs que trazem a público sua visão de mundo construída com base em sistemas culturais particulares, onde a circularidade, a reciprocidade e a celebração da vida como sagrada predominam.

Esses Xangozeiros e Xangozeiras, dispersos por todos os rincões de nossa anfíbia terra, trazem com suas vozes, cânticos e contos, valores e princípios que podem ressignificar a tragédia pandêmica e nos revitalizar a esperança de dias melhores. Na ótica do Axé, nada se esgota em si, tampouco se explica por si, pois natureza, ser humano e sagrado se interconectam como um só. Ao desfrutar desses textos, portanto é possível que nossos leitores e leitoras reavivam sentidos já esquecidos para a suas existências e, talvez, aprendam com os terreiros que a  verdadeira magia é o mistério renascer em vida.  

                                             Arapiraca, Julho de 2020, ano da Pandemia


                                        Odé Akueran Ibadan / Prof. Dr. Clébio Correia
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