domingo, 19 de julho de 2020

Carolina Sanches. Aprendizado




Aprendizado
Carolina Sanches
 – Jornalista. Repórter da TV Gazeta e do G1 Alagoas

 O trabalho durante a pandemia tem sido desafiador. Ao mesmo tempo em que estamos buscando manter as pessoas bem informadas sobre a doença e as formas de contágio, nos vemos em meio ao risco e às incertezas de algo que nunca imaginamos.
Com as primeiras divulgações, já começamos a receber orientações para a forma com que iríamos trabalhar diante do novo coronavírus. Inicialmente, o uso da máscara não era recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Fazíamos a higienização do equipamento e mudamos o formato das entrevistas, que passaram a ser feitas com dois microfones para que o do repórter não fosse o mesmo do entrevistado.
 Em meio às pautas, estivemos em centro de triagem, unidades sentinelas destinadas ao atendimento exclusivo da Covid-19, coletivas de imprensa do governo e do município e hospitais. O álcool em gel se tornou inseparável. Os hábitos mudaram. As pessoas vinham cumprimentar com aperto de mão e tínhamos que recusar.
Por causa do trabalho e do contato com muitas pessoas, mesmo que distante, deixei de ir à casa do meu pai, que é do grupo de risco. E a rotina se tornou de casa para o trabalho, com exceção da ida ao supermercado, que se tornou um momento de muita tensão e cuidados.
Com o passar dos dias e o aumento do número de casos, tive que trabalhar a ansiedade em muitos momentos em casa. Porque costumava acompanhar o boletim diário de casos e quando as mortes aumentaram, a preocupação crescia também. Teve mudança nas orientações. A máscara se tornou obrigatória durante as entrevistas, mas não no vídeo. Isso aconteceu alguns dias depois.
   Nas entrevistas com especialistas, conseguia tirar dúvidas, mas nem eles tinham a certeza de como a doença se comportava, era tudo muito novo.
   Algumas matérias me marcaram mais. Uma delas foi de duas famílias que tiveram os corpos dos parentes que morreram de Covid-19 trocados no necrotério do hospital. um chegou ao ponto de ser enterrado por engano. Ver a dor das famílias era como ver algo que pudesse acontecer com qualquer um. Neste mesmo dia, enquanto entrevistava uma das filhas do senhor que morreu, jovens conversavam em uma praça em frente. Sem máscara e aglomerados, eles nem sequer sabiam o que acontecia tão perto. E quando comentamos, não deram ouvidos.
   Depois do primeiro decreto do Governo do Estado, em março, teve início o isolamento social e com ele, muitas mudanças. Ruas vazias em horários de pico, comércio com lojas fechadas e praia com grades para proibir o acesso.
Aos poucos, apesar dos números continuarem crescendo, muitas pessoas voltaram às ruas. Quando começou o distanciamento controlado, alguns estabelecimentos reabriram e encontramos o comércio lotado, pessoas sem se preocupar com a doença.
    Em muitos momentos ouvi relatos que me deixaram triste e com medo, principalmente de pessoas que perderam familiares. E histórias inspiradoras de quem conseguiu vencer a doença.
   Ainda estamos na pandemia, não temos nenhuma certeza de quando ela vai passar. Mas eu sei que esse período que estamos vivendo é algo que vai nos marcar para sempre. Seja de forma positiva, na luta pela vida, nos profissionais que se arriscam para salvar quem nem conhecem, ou pela solidariedade; ou negativa, no descaso e egoísmo. Não sei como vamos ficar depois que tudo acabar. Mas tenho certeza de que teremos muitos aprendizados e espero poder levar isso de forma positiva para minha vida.


 Quem é

Carolina Sanches é jornalista pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Atua na área há 14 anos. Já trabalhou em O Jornal, em assessoria de imprensa e como editora de conteúdo do G1 Alagoas. Atualmente, é repórter da TV Gazeta e também trabalha para o G1 Alagoas. Como repórter, conquistou prêmios de jornalismo estaduais e regionais, a exemplo do Braskem, Octávio Brandão e Banco do Nordeste de Jornalismo. 


Memória da Pandemia nas Alagoas

Elen Oliveira 

Quando eu ingressei na Ufal, em 1991, o professor Luiz Savio de Almeida já era uma lenda. Nos corredores do antigo CHLA, hoje ICHCA (Instituto de Ciências Humanas, Comunicação e Arte), ele se postava a dar conversa a quem se aproximasse com a mesma atenção que dedicava a palestras, mesas de discussão e entrevistas. Entre 2008 e 2009, trabalhamos junto no antigo O Jornal, onde ele propôs a abertura de um espaço dialógico da universidade com a sociedade, por meio da publicação de artigos acadêmicos. Entusiastas do debate e da pluralidade, o então diretor, Gabriel Mousinho, e o então editor-geral, Roberto Tavares,  cederam espaço ao Espaço, nome dado ao suplemento quinzenal publicado entre setembro de 2008 e 2012, quando o veículo foi extinto. À época editora-executiva e de Suplementos, eu editei a publicação até 2009 com Alexsandra Vieira, que era editora do caderno de Cultura, o Dois. Reformulado, tornou-se posteriormente Contexto, no jornal Tribuna Independente, até materializar-se em Campus, o suplemento semanal que é veiculado no jornal O Dia e reproduzido n’o Campus do Savio, o blog de múltiplas falas com o qual colaboro esporadicamente.
O longo parágrafo de introdução foi escrito para contar como chegamos a Jornalistas e a Pandemia, proposto pelo professor Savio como parte do projeto Memória da Pandemia nas Alagoas, que ele está a construir desde abril e que reúne relatos vindos de representantes dos povos indígenas, artistas, intelectuais e integrantes de áreas diversas sobre o atual momento. Ele propôs, e eu aceitei, que organizássemos uma seção para compor essa construção feita a muitas mãos. “Quero deixar um imenso painel para um pesquisador no futuro”, informa o pesquisador, que há tempos constrói fundamental acervo da memória sobre Alagoas.
 
O blog pode discordar no todo ou em parte do material que publica