terça-feira, 2 de junho de 2020
Eliane Cavalcanti. O meu caminhar nos anos setenta. Memória das artes em Alagoas
UMA BAILARINA E SEU TEMPO
Quem é quem
Eliana Cavalcanti
Este material foi publicado em Campus/O Dia em 18/06/2015
Bailarina,
professora de ballet, coreógrafa e Mestra em Literatura (UFAL).
Estudou balé
em Recife- 1958 a 1973. Fundadora do Ballet Eliana Cavalcanti (1973), 1ª escola
de balé de Alagoas. Diretora do Ballet Íris de Alagoas (1981- 2002). Diretora
da Escola de Dança do Centro de Belas Artes de Maceió. (1987). Diretora da Fundação Teatro Deodoro (1988).
Sócia
efetiva da Academia Alagoana de Letras e
Academia Alagoana de Cultura. Sócia
Honorária da Academia Palmeirense de Letras, Ciências e Artes. Diversos prêmios
e distinções.
Imagens do Íris.
50 anos de plié- Memórias de uma alabucana.
Gota d’água- o abuso do poder e a eloquência múltipla da palavra.
Ballet Eliana Cavalcanti- 40 anos de uma bela história.
Participou, com três contos, do livro Para além da leitura, organizado por Arriete Vilela.
Eliana Cavalcanti vem marcando a vida cultural de
Alagoas, mormente no que se refere ao ballet, atividade que é difícil pensar,
em Maceió, sem os seus passos, suas
marcas, seu devotamento. Além do mais,
como se pode ver em seu texto, é excelente memorialista, o que já havia ensaiado
em livro.
Todas as qualidades estão juntas neste trabalho, que é um depoimento sobre os anos setenta,
escrito especialmente para Campus. O jornal agradece e compartilha o texto com
os amigos.
Um abraço grande Eliana
Luiz Sávio de Almeida
Medalha Jorge de Lima
(Governo de Alagoas-1995). Prêmio
Concorrência FIAT/1990 com espetáculo “Certas Emoções”. 2º lugar em coreografia
( II Festival de Dança do Mercosul /
RS-1995). Diploma de Benemérita das Artes (Secretaria da Cultura-
2001). Comenda Mário Guimarães (Câmara
dos Vereadores de Maceió-2002). Diploma
de Construtores da Dança em Pernambuco (Conselho Brasileiro de Dança/
Recife-2004). Membro da Ordem do Mérito dos Palmares (Governo de Alagoas –
2008). Comenda Senador Arnon de Mello
(Instituto Arnon de Mello - em 2008).
Comenda Nise Magalhães da Silveira (Governo de Alagoas -2014).
O
meu caminhar nos anos setenta
Eliane
Cavalcanti
Não devo dizer que me arrependi de ter
feito a escolha de morar em Maceió, pois o fato
é que o cenário artístico da cidade, no início da década de 70, era promissor.
Muitos planos foram elaborados em função de uma vontade férrea e uma crença de
que as coisas dariam certo. Eu tinha três nítidos sonhos: constituir uma
família, ter uma escola de balé muito séria e dirigir uma companhia de dança.
Os dois primeiros foram realizados, mas, o
terceiro... Hoje, tenho plena consciência de que realizei um bom trabalho,
venho colhendo muitos frutos, mas, com relação ao meu terceiro sonho, foi uma decepção atrás da outra. Quantos
projetos debaixo do braço, correndo atrás de empresas, instituições, pessoas
físicas etc.! O Ballet Íris de Alagoas (grupo
formado pelos melhores alunos do Ballet Eliana Cavalcanti) foi criado em 1981 e
extinto em 2002. O grupo, ou companhia, como é mais comum se chamar nos dias de
hoje, produziu trabalhos que honraram a nossa cultura, dançando inúmeras vezes,
não só dentro de Alagoas, mas, principalmente, fora dos nossos limites, quando
desempenhou um papel de destaque no cenário nacional.
Nossa meta era
transformá-lo em uma companhia profissional de grande projeção. Passados seis anos de sua extinção (por desânimo pessoal e
forças esgarçadas), eis que surge uma luz no fundo do túnel, com a possível
criação de um corpo de baile do Teatro Deodoro. O Complexo Cultural Teatro
Deodoro, idealizado pelo presidente da DITEAL (Diretoria dos Teatros de
Alagoas), Juarez Gomes de Barros, inaugurado em 2014, foi planejado para
abrigar, entre outras coisas, uma orquestra e um corpo de baile. Passei seis anos (de 2008 a 2014) sonhando e prestando
consultoria à DITEAL sem nada cobrar, alimentada pela possibilidade de um desenvolvimento
e maior visibilidade da dança em nosso estado.
O Complexo foi inaugurado no apagar das luzes
do governo de Teotônio Vilela Filho. Uns meses antes, durante uma solenidade na
qual recebi a Comenda Nise da Silveira (penso que foi prêmio de consolação),
questionei ao governador, com veemência, sobre a demora em inaugurar o Complexo
que, àquela altura, fim de mandato, se arrastava
com lerdeza como o bicho preguiça. Disse eu: “O
senhor vai colocar a placa com seu nome no dia da inauguração, mas o espaço
estará sem alma, pois bailarinos e músicos não serão
contratados a tempo”. As fotos daquele dia me retratam como uma bruxa atacando
a um cordeirinho indefeso.
Comentários de pessoas
de dentro do novo governo me dizem que não há verba para tal investimento
cultural e que o corpo de baile e orquestra não acontecerão. Essa minha luta de
sempre me faz hoje, vésperas de completar 65
anos, uma pessoa desalentada com relação à cultura da minha terra. Falta
dinheiro? Sim, é verdade. Mas, efetivamente, falta vontade política, respeito
aos nossos artistas. E essa história, como dizemos em terras olindenses, “é
mais velha que a Sé de Olinda”.
Exageros à parte, realmente todo o trabalho que aqui desenvolvi
estava traçado
para a velha “Marim dos Caetés”. Mas o destino
me pregou uma peça ao me fazer namorar, noivar e
casar com um alagoano. Eu não ignorava que as
pessoas aqui em Maceió, em termos de balé, pouco sabiam. Três exemplos podem
ser aqui contados: 1º− Ainda solteira e adolescente,
vim com a minha escola de balé dançar em Maceió,
e o pessoal técnico do Teatro Deodoro, inocentemente, encerou o palco
para nos receber. Tomamos um susto.
Foi preciso raspar o
palco para que pudéssemos dançar. 2º− Também, por essa época (eu ainda não
ensinava balé), recebi um convite para dar aulas,
no terraço de uma casa na Avenida Tomás Espíndola, para
uma moça que era apaixonada por balé. Eu estava de férias, hospedada no Farol,
na casa de minha avó Elisa, e minha tia Jandira me falou de uma sobrinha da
atriz e escritora Anilda Leão, que fazia balé no Conservatório de Música,
dirigida pela inesquecível maestrina Venúsia de Barros Melo, recentemente
falecida.
À medida que fui lhe
passando os exercícios, seus olhos brilhavam. Ao final do curso relâmpago,
creio que umas três aulas, ela me pediu que, por favor, viesse morar em Maceió e ensinar balé por aqui. Imagino que eu devia
ter uns 14 anos, pois aos 15 comecei a ensinar
no Recife, na escola da minha professora. 3º− A sociedade alagoana via o balé
como lazer, algo de fácil aprendizado, ou seja,
uma arte pouco exigente. No dia do meu primeiro
ensaio geral, aquele que antecede à estreia, com figurinos, cenários etc., as
famílias das alunas compareceram em massa (pais, irmãos, empregadas, avós,
papagaio e periquito).
Fizeram uma festa no
Deodoro. Tagarelavam eufóricos, e crianças
corriam entre as poltronas, ou mais em cima, nas frisas, camarotes e torrinha,
sem que os pais se abalassem. Acostumada com a clássica e espartana disciplina
do balé, dei um grito que deve ter abalado as estruturas do teatro. Deu-se um
silêncio mortal, pois todos se calaram. Percebia ali que teria de educar
aquelas pessoas presentes para a importância da arte e o respeito pelos
artistas. E que o balé, no nosso caso específico, era uma arte dificílima e
extremamente exigente. Poucas pessoas tinham essa noção. Exceção, diríamos,
para aquelas mais cultas, por estarem permanentemente
viajando e assistindo a grandes espetáculos fora de Alagoas.
Temos de
considerar a pouca idade do balé no país. Lembremos que a fundação da primeira
escola oficial de balé do Brasil, vinculada ao Teatro Municipal do Rio de
Janeiro, só aconteceu em 1927, quando de lá sairiam, alguns anos depois,
bailarinos formados por aquela escola que se dispersaram pelo Brasil; entre eles, a minha professora de balé, que passaria a residir e lecionar balé em
Recife, em 1957.
Em agosto de 1973, eu pertencia ao Grupo de
Ballet do Recife, dirigido por Flavia Barros. E foi assim que, às vésperas do
meu casamento, dancei no Nosso Teatro (minha despedida de solteira como
bailarina no Recife), teatro que, mais tarde, viria a se chamar Valdemar de
Oliveira. Eu era 1ª bailarina do grupo e, portanto, assumia os papéis mais
difíceis e importantes. Ensaiava muito, dava aulas aqui em Maceió desde o ano
anterior (Colégio Santíssimo Sacramento), e em Recife (Curso de Danças
Clássicas Flavia Barros), e preparava o casório.
Minha mãe chegou como
convidada, pois todos os detalhes tinham de ser resolvidos por aqui mesmo,
como: igreja, bufê, ornamentação etc. Só o meu vestido de noiva foi desenhado e
confeccionado no Recife. Tive seis damas de honra, e a
igreja foi decorada pela floricultura da senhora Ilma Vilela com cravos nas cores branca e rosa. Por uma decisão nossa (minha
e do Carlinhos) casaríamos em Maceió, pois era
aqui que havíamos escolhido para morar e, além do mais, a maioria da nossa
família aqui residia. De Recife veio um ônibus, locado especialmente para a
ocasião, trazendo uma turma incrível: amigos de Olinda e Recife, padrinhos do
casamento e a minha diretora e professora de balé, Flavia Barros. Aqui estava
selado o meu destino.
No
enxoval para a lua de mel estavam incluídos:
vestidos “tubinho’, calças “bocas de sino”, cintos largos, batinhas, blusas
“cacharrel’ e sandálias “plataforma”. Escolhemos Garanhuns: Monte Sinai e
Tavares Correia, dois dias em cada um desses hotéis. Meu pai escreveu em seu
diário: “Tive lágrimas nos olhos algum tempo, recordando os tempos de Eli,
dançando. Tudo passa depressa!”.
Transcrevo
aqui um trecho do livro 50 anos de plié − memórias de uma alabucana, de
minha autoria e lançado em 2008:
“O
Jornal de Serviços (Maceió − março de 1973) publicou uma entrevista feita pela
colunista Lilian Rose, ocupando meia página, com uma foto minha: ‘Eliana veio
transmitir a arte da dança’. Uma outra matéria de página inteira do Jornal de
Alagoas, datada de 29 de julho de 1973, com texto de Cavalcanti Barros,
comprova que nós já havíamos saído do Colégio Santíssimo Sacramento e alugado
um espaço maior, situado na rua Senador Mendonça, nº 211, 1º andar, Centro de
Maceió. A reportagem, com quatro fotos, mostra um número crescente de alunas.
Considero, portanto, a criação do Ballet Eliana Cavalcanti, meados de 1973.
Contávamos com o apoio de uma pianista acompanhando as aulas. A última que
ficou conosco mais tempo foi D. Zezé de Almeida, uma artista que havia tocado
durante as apresentações de cinema mudo e que também tocava à noite nos
restaurantes dos melhores hotéis de Maceió. D. Zezé ficou conosco até quando
construímos a nossa sede definitiva e ela alegou estar muito cansada para ter
de subir para o bairro do Farol. O fato de a D. Zezé tocar nas noites a fazia
cochilar ao piano. Enquanto os alunos se esforçavam num adágio, ela dava um
cochilo e retornava numa mazurca, ou eles estavam saltando com um ritmo 2x4 e
ela passava a tocar uma valsa brilhante. A moçada ria contidamente para que ela
não percebesse, pois respeitavam o seu cansaço”.
Para não sucumbir à falta de apelos instigadores
ao meu desenvolvimento profissional, passei a viajar muito para o eixo Rio/São
Paulo à cata de mais conhecimentos, ideias e amizades com pessoas que falassem
a mesma língua que eu, ou seja, a língua dos baletômanos. Carlinhos costumava
frequentar o Estádio Rei Pelé (Trapichão) aos domingos e, quando retornava, me
trazia os jornais Folha de São Paulo e Jornal do Brasil. Eu esperava por esses jornais ansiosamente, para saber o que estava
acontecendo em termos de arte no Rio e em São Paulo. Dependendo do que estava
em cartaz, já comprávamos nossas passagens e saíamos
de Maceió com os ingressos garantidos.
A criação do videocassete, que começaria a
ser comercializado em 1972, dando inicio à distribuição em massa de filmes e
documentários, também ajudou, sem dúvida, o meu caminhar. Lembro que em 1974 ou
75, ganhei do marido, a obra O Lago dos Cisnes, em VHS. Daí em diante, não parei mais, comprando outros vídeos. As músicas
para as minhas coreografias, quando não encontrava na Eletrodiscos, no centro
de Maceió, pedia socorro ao Dr. Raimundo Campos ou ao Dr. Ismar Gatto, ambos médicos e possuidores de rico acervo de músicas
de alta qualidade.
Em 1977, eu estava no
Rio de Janeiro, quando tive a oportunidade de assistir à peça Gota d’água,
escrita por ele em parceria com o dramaturgo Paulo Pontes, à época casado com
Bibi Ferreira. Bibi encarnava, magistralmente, a personagem Joana, a Medeia
brasileira. A obra tem uma intertextualidade explícita com a tragédia grega Medeia,
escrita por Eurípedes em 431 a.C. e é considerada por Aristóteles “a tragédia
das tragédias”. Fiquei encantada com a peça, mas não
percebi a profundidade das entrelinhas do texto. O que me marcou foi, tão
somente, a beleza artística do musical: interpretação, direção, cenários,
iluminação etc. Os dois autores, jovens
conectados com os problemas nacionais, revitalizaram Medeia, transformando-a na tragédia
da história brasileira.
A obra Gota d’água
nos convida a uma discussão que inclui a política habitacional
do governo (BNH), o autoritarismo e conflitos gerados pela disparidade do poder
econômico. Daí que, mais de trinta anos depois, escolhi Gota d’água como objeto de estudo do meu Mestrado
pela UFAL. E só então, a partir da leitura
minuciosa da peça e com o olhar mais experiente, atrelado ao trabalho de
pesquisa, pude acrescentar àquela visão ingênua de outrora
um conhecimento bem mais aprofundado sobre o texto. O resultado foi o
livro, lançado em 2011, e intitulado: Gota d’água − o abuso do poder e a eloquência múltipla da
palavra.
Vivíamos já há alguns anos a Ditadura
Militar, o que não influía significativamente no meu modo de vida, a não ser as notícias, vez por outra, de um conhecido
que fora torturado ou exilado, o que nos causava indignação e revolta, sem
dúvida. Mas, para mim, minha família e amigos, a vida era muito boa. Sempre
ouvia os conselhos da minha mãe: “Cuidado com o que fala, pois as paredes têm
ouvidos”.
As nossas famílias muito grandes e já
misturadas (um irmão do Carlinhos é meu tio) me preenchiam, pois não havia um
fim de semana sem uma comemoração. O churrasco na nossa casa era quase que semanal.
Tudo era motivo de festa. Comprava o telefone... festa. A mesinha do
telefone... festa. A despensa vivia lotada. Uma fartura. Quando casamos já compramos uma casa própria, e sem nenhuma interferência da família. Os recém-casados
podiam se dar a esse luxo, sem ser ricos.
Portanto, vivíamos um sonho: fartura, planos e perspectiva. E hoje?
O “Stagium” veio com uma proposta inovadora e
estimulou a criação de novos trabalhos e de novos grupos pelo Brasil afora. Só
para citar dois grandes grupos que também viriam enriquecer a cena artística
brasileira: em 1975, o “Grupo Corpo”, de Belo Horizonte e em 1977, o “Cisne
Negro Companhia de Dança”, de São Paulo.
Aqui
em Maceió, um marco a ser lembrado e louvado é a criação da Fundação Teatro
Deodoro, em 1978, pelo saudoso teatrólogo Bráulio
Leite Junior. Tivemos uma efervescência cultural significativa, pois, a partir
daí, frutos foram surgindo, como, por exemplo: a
Orquestra Filarmônica (já extinta), o MISA (Museu da Imagem e do Som de
Alagoas) e o Centro de Belas-Artes, bem
instalado, em parte das dependências do Seminário de Maceió, e hoje numa
situação desvantajosa em relação ao primeiro
endereço. E outros feitos proliferaram sob a tutela da Fundação Teatro Deodoro.
Também, trabalhos individuais se fizeram notar; não
citarei nomes para não incorrer no erro de esquecer algum artista que tenha
desenvolvido, nos anos setenta, um trabalho relevante para a nossa sociedade e para o nosso estado.
A década de setenta me trouxe alegrias e me
fez tomar decisões importantes. Seguem aqui, elencadas: 1− Minha mudança para
Maceió, na verdade, um retorno, pois saí daqui
aos dois anos de idade; 2− Meu casamento; 3− A fundação do Ballet Eliana
Cavalcanti, primeira escola de balé de Alagoas; 4− Os convites para pertencer a
duas companhias profissionais: o Ballet Stagium, de São Paulo (1972) e a Associação de Ballet do Rio de Janeiro (1974); 5− A
compra de um terreno, através da Leão Empreendimentos, no Jardim Alagoas, em
1979, onde seria construída a sede da nossa escola; 6− Seria mãe pela primeira
vez.
Todas as decisões tomadas foram muito bem
analisadas, mas não acredito no total livre-arbítrio. Podemos ousar, mas pedras
ou pedregulhos rolam no caminho brusca e inesperadamente, e nem sempre está ao
nosso alcance desviá-las. Nesse momento é que
entra a nossa condição de ser humano frágil e limitado diante dos mistérios da
vida. Portanto, tenho plena convicção de que tudo estava
mais ou menos traçado.
Em 1975, eu já não pertencia mais ao Grupo
de Ballet do Recife, pois o número crescente de alunos não me dava tréguas,
exigindo uma dedicação de cerca de 18 horas diárias, incluindo,
nesse bojo, algumas horas extras aos sábados, domingos e feriados, com ensaios, redação de circulares para os
pais, ofícios, projetos, pesquisa de músicas, criação de figurinos etc. Maceió
seria o meu chão, a minha realidade. Aqui nasceram nossos três filhos, e hoje
já temos três netos.
Resumindo:
considero-me uma obreira em prol da arte da dança, consciente do meu papel
nesta vida, e triste com o cenário que se impõe no mundo. Estamos vivendo uma
era cruel, carregada de egoísmo, violência, descompromisso e deslealdade. Torço
para que seja um momento de transição para um mundo melhor,
que, pela minha idade, não deverei alcançar. O combate vale a pena
quando se tem um propósito, ainda que baseado na fé absoluta de que Deus está
no comando. O meu combate sempre esteve muito claro: em prol da arte, em prol
da dança. Através da arte, de uma maneira geral, podemos dignificar mais o
mundo, dar mais cidadania às pessoas. Por que os
políticos, em sua maioria, não têm sensibilidade para a arte, para a cultura? A
resposta... sabemos.
Enfim, estarei na luta até as pernas aguentarem e enquanto a
cabeça e o coração disserem sim!