quinta-feira, 30 de abril de 2020

Eduardo Bastos. A morte, os coveiros e nossa vida. Memória da pandemia nas Alagoas (XXIV)


A morte, os coveiros e nossa vida
Luiz Sávio de Almeida

          Sem dúvida alguma, Eduardo Bastos é um dos grandes analistas da vida das Alagoas, da mesma forma com o Leo Villanova, que abandonou os amigos e foi cuidar do virus. Neste trabalho,  Eduardo conseguiu trazer para nós, a triste e heróica saga dos coveiros que cavam, tiram terra, e ficam naquele insano, pontual, e fantasticamente necessário trabalho de preservar a paz dos nossos mortos, lá em baixo, em sete palmos de cova. Não fosse este coveiro que vive seus dias humildes, cuidando de nossa vida, o que seria de nós? Eu era molecote e li, parece que Mounir, falando sobre a natureza dos trabalhos e a importância do lixeiro vivendo a limpar uma cidade, se se ver constantemente  com o lixo. O coveiro não lida com o lixo, mas com algo que, sem saber, vivemos a esperar: o corpo sumindo no escuro que é a cova enfeitada ou rasa: não importa.
             Faz pouco tempo, o serviço funerário entrou em crise, Guyaquil. Eram tantos os mortos e tão pouco dos serviços, que corpos apodreciam dentro de casa, outros ficavam na rua. Os caixões de madeira sumiram: os mortos estavam postos em caixões de papelão. O coveiro vê tudo isto; vê as mães sem estar perto dos filhos, o fim dos velórios, da andada solene atrás do defunto levado em segurança, dor e lágrima para seu canto eterno. Poucos são os grandes testemunhos do que seja o drama humano das covas acoronadas.  Um dos que conseguem ver o fim, é o coveiro que Eduardo Bastos soube retratar vergado, com o peso das pés que de tantas, são apenas a do momento. 





















WILL GRIND. MCs contra o covid-19. Memória da pandemia em Alagoas (XXIII)




O começo e a razão deste projeto
Luiz Sávio de Almeida     
             
Começamos com esta postagem, uma série sobre o Corona virus e o mundo artístico do que vem sendo chamado de periferia. A nossa parceria, entre Will Grind e eu, vem de tempos e começou quando ainda era mantida uma coluna em O Jornal – intitulada  Espaço  –que depois se transformou em Contexto,  em a Tribuna Independente;  hoje é Campus,  no jornal O Dia.  Em nosso percurso inicial foram publicadas diversas matérias sobre a vida da periferia de Maceió, especialmente com a colaboração de Viviane Rodrigues e Railton da Silva.  Na verdade, esta nossa parceria com Vivi e Railton, nos levou a publicar sugestivos trabalhos sobre a riqueza cultural da periferia, sendo, sem dúvida, uma importante fonte documental para estudos no âmbito da história e das ciências sociais. Talvez seja o mais importante conjunto documental produzido sobre e com a periferia de Maceió àquela época, inclusive por depoimentos sobre a história do hip em Alagoas. Infelizmente, não realizamos a série sobre grafite e  reggae.
     É difícil dizer quais os trabalhos que foram mais importantes, eleger os que merecem realce, pois cada um no seu cada um, trouxe uma contribuição de primeira linha. Todos os três suplementos entraram por este mundo que era considerado como espécie de segunda categoria cultural, quando, na verdade, era e é de uma riqueza  extraordinária, como é a poesia dos mcs,  de difícil comunicação para quem não vive aquele universo cultural que não é hermético, mas que exige, no mínimo, cumplicidade com a estética e o entendimento de que o outro, o diferente, é bom, criativo, inteligente e capaz de produzir uma beleza rica em seus detalhes, especialmente quando se lida com uma nova descoberta do poético a expressar cotidiano e aspirações.
               
Os suplementos Espaço,  Contexto e Campus sempre estiveram abertos para a incorporação desta diferença e, também, sempre foram agradecidos à confiança que a periferia teve para com eles.  É de supor que a seriedade de nosso esforço e de nossos colaboradores sempre foi entendida e reconhecida pois, caso contrário, seria impossível realizar o trabalho que fizemos e estávamos inquietos para retomar, fazendo uma nova abordagem com o  Will Man,  com o Boka e a um homem de extrema importância em nossa percepção de produção na cultura da periferia, residente na Grota da Alegria: Seu Djalma. Passado um bom tempo, como estariam? O que houve de mudança na história de vida deles? E tantas e tantas outras pessoas que nos levaram à publicações,  contribuindo para uma nova visão do mundo das grotas e suas histórias.
                Muitas transformações aconteceram e,  no fundo, era todo um processo de circunstâncias que se fazia: o mundo sobre o qual fomos buscar a história –  especialmente, nesta área,  com a ajuda de Viviane e Railton –  e sua atualidade com o Will Grind, tinha de mudar.  O poeta e músico também teria mudado e, neste contexto,  sempre uma pergunta martelava:  o que aconteceu com o mundo do Hip-hop? E com o artista?   Agora Will Grind é um professor de matemática, mestre em meteorologia e doutorando na mesma área científica: o mc está  em plena carreira acadêmica e ainda pensaria em escrever suas rimas? Hoje é Mestre pela Universidade Federal de Alagoas, um centro de peso na área científica de sua escolha, graças, inclusive à dedicação do Lima que estruturou os começos do bacharelado e é onde se encontra, ainda, um dos grandes amigos meus: Ricardo Amorim.
Certa feita nos falamos e, então,  ou ele estava no caminho para a Federal em Campina Grande ou estava de saída para suas aulas. Não me lembro bem e não deu tempo para fechar o circuito.  Apenas, senti que seu tempo havia mudado e lamentei não renovar a antiga entrevista que com ele realizei e que gerou, pelo menos, dois números de Espaço.  Aliás, devo dizer agora, que Espaço existiu por conta de Gabriel Mousinho e Ellen Oliveira.
Passa tempo e recebo uma mensagem sua sobre um vídeo e começamos a conversar, foi quando nasceu a ideia deste projeto; eu já estava associado a José Carlos da Silva Lima  na operação de um outro que consistia em obter documentação e depoimentos sobre o virus em Alagoas.  Foi feita a proposta para a parceria e ele de imediato aceitou, nascendo um material que, graças a ele, começa a ser divulgado, quando então, a pandemia passa pelas mãos de mcs de Alagoas, dando margem a que falem sobre o que vivemos. O doutorando IWLDSON GUILHERME DA SILVAS SANTOS tem a mesma simplicidade das raízes de seu tempo; neste e em outros sentidos, é um homem admirável. A sua grande inteligência redirecionou a sua vida, mas não retirou a alegria de fazer as suas rimas e de conviver com o mundo dos mcs.
E as primeiras rimas que publicaremos são justamente de Will Man.



Quem é quem!

IWLDSON GUILHERME DA SILVAS SANTOS – WILL MAN

Professor de Matemática e mestre em Meteorologia pela Universidade Federal de Alagoas e atualmente discente de doutorado em Meteorologia pela Universidade Federal de Campina Grande no Estado da Paraíba. Vocalista da Babylon Fya (Rap com banda), pai de dois garotos (Ítalo e Arthur Guilherme) e morador do Benedito Bentes. Começou a fazer música alternativa na pista de skate do Biu,  primeiramente com a banda regional Anônimos da Sociedade Underground (ASU);  com a música Folguedo Popular de sua autoria participou do FEMUSESC. Após um determinado período, com a parceria do Allan FDC e algumas bases produzidas pelo Zazo no Kzebre Studio, lançou um CD de RAP com o título Procurados e Armados manipuladores de palavras com rimas gravado no Studio QG dos Manos. Este CD foi gravado de forma independente e vendeu mais de 500 cópias pelas periferias de Maceió. Participou do Coletivo Popfuzz,  associação cultural independente de Alagoas que promoveu o Festival Maionese e Grito Rock com eventos e shows memoráveis. 

MCs contra o covid-19


A pandemia na periferia quem diria que na temperatura do Nordeste este vírus não se cria.

Não é Fake News espalhada por todo o Brasil a quantidade de mortes já passa dos mil.

Este messias não faz milagre nem faria se fosse um padre mas tem o veneno do peixe bagre.

Expresse-se, aja como um presidente ajude a nossa gente começando pelos mais carente.

Auxilie a linha de frente de combate contra o Covid-19 sem EPI sofre, morre e nos comove.

Doença de rico direto do estrangeiro sem preconceito mata pobre, preto até atleta brasileiro.

Cova rasa e pessoal o cemitério não comporta, vala grande, funda em fila no mínimo conforta.

Aprender mais com o erro dos outros vamos seguir o exemplo dos países mais desenvolvidos.

Crescimento exponencial, estatisticamente falando não passamos por uma crise semelhante.

Número de infectados eixo das ordenadas (y) número de leitos do SUS eixo das abscissas (x).

Infelizmente a quantidade de casos indicam muito mais que uma gripezinha ou resfriadinho.

Álcool em gel o valor que se eleva ao céu demanda e procura capitalismo e sua face cruel.

Dever de todos não deixar que a curva de infectados iguale-se a curva do número de mortes.

Quem acreditar jornal, internet, presidente, governador ou cientistas eu acredito na ciência. 

No momento que vivemos não importa se este vírus veio do morcego ou laboratório chinês.

Corona Vírus mata mais que a guerra do Vietnã mente sã reza por dias melhores no amanhã.

Proteja-se, higiene-se, lave suas mãos com água e sabão fique em casa stay home meu irmão.

Neste momento é mais evidente o colapso total, a beira do caos nada normal apocalipse now.

Brasil sendo Brasil justiça investiga superfaturamento de mais de 60 mil respiradores artificiais.

Cuidar um dos outros e de nós mesmos, sabedoria, empatia são as armas contra a pandemia.


Nosso blog e o suplemento Campus do jornal O Dia agradecem a Will Man por ter tirado um pedaço de seu tempo de pesados estudos, para nos ajudar a divulgar as rimas de nossos mcs. O projeto sobre a memória da pandemia nas Alagoas é realizado em parceria entre José Carlos da Silva Lima e Luiz Sávio de Almeida. No caso dos mcs, a coordenação é feita por IWLDSON GUILHERME DA SILVAS SANTOS – WILL MAN.



Pelo amor de Deus, fique em casa!


Pelo amor de Deus, fique em casa

Minha gente, fique em casa. Eu não queria voltar a mexer com números, mas a coisa está feia. Veja os dados, de acordo com o excelente Boletim publicado pela Secretaria de Saúde do Estado de Alagoas. Para você ter uma ideia, no dia 25 deste mês, Alagoas se apresentava com 501 casos confirmados e cerca de 29 óbitos e isto significa uma taxa de letalidade 5,78% ou, grosseiramente, em cada grupo de 100 pessoas de caso confirmado, seis morreriam.  Quatro dias após, a diferença era de 270 casos, o que equivale a um crescimento de 35% e a taxa de natalidade era de 4,63%. Hoje, no dia 29,  comparado ao dia 28, se tem, 18% a mais. E dia dia 25 para 29, o crescimento de casos confirmados foi de 48%.