quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Graça Cabral. O amor de uma família com seu filho homo

 

sábado, 14 de junho de 2014






Texto publicado em Contexto de 23 de dezembro de 2011 em Tribuna Independente. Para este blog, estamos utilizando material digitalizado e com gerenciamento das imagens realizado por Kellyson Ferreira, com a coordenação do Professor Antônio Daniel Marinho. 





 A redescoberta do amor e de um filho
Graça Cabral

 Eu sempre admirei seu jeito de ser, seu gosto apurado pelas artes, pela boa música e isso sempre lhe rendeu críticas e discriminação nos lugares por onde ele circulava. Um amigo meu, daqui de Maceió, chegou a me dizer um dia: “Você precisa colocar seu filho pra jogar futebol, lutar Karatê”. Eu achei aquele comentário extremamente preconceituoso e machista. Meu filho tinha que fazer o que fosse de seu agrado e não o que a nossa sociedade de machos espera de um menino. Como me orgulho de ter criado meu filho e minha filha desse jeito, com respeito pelo que elas admiravam!

Meu filho foi crescendo e se isolando cada vez mais. Eu sentindo a sua tristeza e a sua solidão. Aquilo me consumiu por muito tempo. Via um adolescente lindo, inteligente, sem amigos e infeliz. Eu sabia o motivo exato de sua infelicidade. Sabia que a sua orientação sexual era diferente da que a sociedade e a igreja impõem. Mas, achava que ele é que tinha que descobrir e aceitar Um dia recebi uma carta sua, a qual, ele também enviou pra sua irmã e seu pai. Ao lê-la, ao contrário de muitas mães que conheço, senti um alivio enorme e uma emoção muito grande, pois sabia que daquele momento em diante, meu filho poderia ser feliz. E não foi diferente. Ele tinha a família do lado dele, e sem o rejeitar. A nossa relação mudou completamente, a relação dele com a irmã, também e com o mundo. Claro que não é fácil você imaginar que um filho seu poderá ser vítima de preconceitos e de discriminação ou alvo de chacotas por parte da sociedade em que vive. O meu filho é uma pessoa linda, generosa, criativa, inteligente. Um filho maravilhoso. Sempre conto com ele pra tudo na minha vida.

Só me dá alegria. Tenho orgulho de ser sua mãe.

Comecei a ter contato com uma mãe, a Angela Moysés, que é a facilitadora do GPH - Grupo de Pais de Homossexuais, em Brasília. Decidi que eu queria contribuir com a causa LGBT, lutando contra a homofobia. Daí até chegar à campanha “Mães da Igualdade”, muita coisa aconteceu. A princípio, tentamos formar um grupo de mães de homossexuais. Este grupo cresceu e virou um grupo de mães e de filhas. A proposta seria um grupo independente de combate a homofobia. Depois virou um grupo de estudos. Enfim, somos pessoas que buscam dar um basta a essa doença terrível que é a homofobia e que culmina nos crimes de ódio. Abrimos a 2a Marcha Nacional de Combate a Homofobia, em Brasília

Alagoas hoje é o primeiro estado que mais mata por homofobia. As famílias devem se unir e ficar ao lado de suas filhas lésbicas e de seus filhos gays. Ninguém faz “opção” de ser discriminado. É necessário que a sociedade acorde e respeite as pessoas que se relacionam afetivamente com pessoas do mesmo sexo. É necessário dar voz à essas mães que clamam por justiça, pelo fim da violência e pela igualdade de direitos.

Tudo que mais quero é que meu filho seja feliz com a pessoa que ele escolheu. Assim como quero o mesmo pra minha filha heterossexual que também amo do mesmo jeito.