quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Pei Fon.Uma visão macro a partir de uma experiência individual

 

 

Uma visão macro a partir de uma experiência individual

Pei Fon

Texto e fotos

 2020 não começou com todos gostariam.

Todo mundo teve que desfazer suas programações em virtude do novo, do desconhecido, de algo assustador que se espalhou pelo mundo.  

A pandemia do coronavírus não viu conta bancária, posição social, religioso, sexual, nada.Como morada do famigerado bairro do Pinheiro, já convivia com o medo do desconhecido (pessoas) e com a indignação de erros humanos cometidos no passado. 

Nesse presente, conviver com medos distintos, me fez observar mais para dentro do que o mundo externo. E essa visão, a partir da minha casa, não é acolhedora, nem motivadora.

Observar meu vizinho deixar o seu lar, não foi nada reconfortante. Ele olha para a sua casa em pedaços na certeza de que, para onde ele for, não será a mesma coisa. Ele escolheu onde morar e decidir sair, em meio à pandemia, não foi uma das tarefas mais fáceis. 

 

E não tem sido nem para mim. Todos os dias surgem curiosos e pessoas que tentam subtrair o que foi deixado para trás. Ou tentam entrar nas casas vizinhas para levar o que não é seu. 

 

Esse medo é mais um capítulo da indignação que todo morador do Pinheiro sente. Sinto-me refém em minha própria casa. Um lugar de refúgio se tornou uma prisão.

Diante disso, é preciso manter a esperança de que dias melhores possam vir e que, ao menos, sejamos reparados materialmente. Muito embora, o verdadeiro bem, o que não é palpável, não tem preço, é a memória afetiva. Essa, definitivamente, nunca será reparada.

Enquanto isso, todos da minha casa se preparam emocional e psicologicamente para abandonar o lugar de nossas mais belas memórias.

  
Um belo trabalho e uma bela sensibilidade
        Sávio de Almeida 
 
 
 

Sinto-me na obrigação de intervir neste trabalho,  por ele mostrar como a arte é capaz de expressar a densidade de um drama humano e, por outro lado, de uma cidade. Pei Fon consegue transformar a dor do Pinheiro em símbolo das dores de Maceió e a sua própria na de todos os abalados pela tragédia que roubou sonhos, momentos na tempestade do tempo que se formou de virus e de destruição.
 
Um grande abraço na autora e no povo do Pinheiro.  Um velho poeta, acho que Gonçalves Dias, no meio de toda a sua orgia de rimas, tem um verso magistral e que  salta em minha cabeça: Meninos, eu vi! Pode ser tomado como o grito de uma testemunha que olha e recorda e  sente o peso dos dias. Pei Fon viu, recordou e sentiu, deixando um lindo documento para o historiador no futuro poder colocar em seu texto, o suor e sangue desta nossa Jerusalém a quem perguntamos: Quo vadis?





 
O Projeto Jornalistas e Pandemia é coordenado pela jornalista 
Elen Oliveira
 

 
Quem é
Pei Fang Fon é Jornalista formada pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Vinda de uma família com ascendência chinesa e que atua na fotografia desde 1934, o amor pela oitava arte floresceu em 2009, na graduação. Começou a carreira no jornal impresso Gazeta de Alagoas, que considera a primeira escola dentro do Fotojornalismo. Fez trabalhos para a Folha de São Paulo, Itaú Cultural, Lance, Portal TNH1 e Agência Raw Image. Atualmente está como repórter fotográfica da Secretaria Municipal de Comunicação de Maceió (Secom). É editora-chefe e criadora da revista on-line Rock Meeting, que nasceu ainda na universidade, com o objetivo de movimentar a cena de Rock/Metal underground de Alagoas. Atualmente, é conhecida nacional e internacionalmente e já cobriu os principais eventos do Brasil e do mundo como Hellfest (França), Download Festival (Espanha), Primavera Sound (Espanha), Maximus Festival, Liberation Fest, Solid Rock, Abril Pro Rock e 70000 Tons of Metal (EUA). É membro diretivo da Associação de Repórteres Fotográficos e Cinematográficos de Alagoas (Arfoc-AL). (Elen Oliveira)