quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Luiz Sávio de Almeida: Som e memória: André de sapato novo em Penedo

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Som e memória: André de sapato novo em Penedo



Herón

Faz muito tempo, na cidade do Penedo e na rua da Penha...  Meu pai havia comprado um rádio Zenith com olho mágico. Era grande, ondas médias e curtas... A antena passava pelo telhado e batia numa vara  enfiada no quintal. Ele era a peça nobre da casa e onde se ouvia programas como o Balança mais não cai e por onde se tinha a tristeza da Izabel Cristina nas noites de O Direito de Nascer,  rádio novela de um escritor cubano chamado de Félix Caignet.  Todo aquele chororô entrava lá em casa sob o patrocínio de Palmolive, logo após o Reporter Esso com Heron Domingues.

Meu pai, minha mãe, eu ficávamos na calçada do outro lado da rua, conversando com o Dr. Agnelo e sua esposa. Dava a hora, cada um pegava sua cadeira e ia para sua casa ouvir o dramalhão do Albertinho Limonta.  No Balança mas no cai, a lenga-lenga do Primo Pobre e do Primo Rico, o primeiro com a saga de sua galinha Chimbica. 

Rico e pobre

Havia um bordão que fazia sucesso: rico ri a toa! De coisa que se pode dizer moderna, lá em casa tinha apenas o Zenith e sua antena misteriosa que passou um dia mais ou menos para ser montada.  Fogão era de lenha e de barro mesmo, com um imenso braseiro aceso pela manhã logo cedo, com a ajuda de graveto, abano e casca seca de laranja. Geladeira, nem ver. A carne era preparada em frigideira de barro e ficava conservada na banha, com todo o cuidado para ela não ficar sentida. Aquilo era tirado com cuidado e esquentado. Mas esta é outra conversa. Vc me perguntou sobre música.

O rádio era o rei da casa. Somente depois de curtir e muito, foi que meu pai me ensinou a usar e eu ficava numa cadeira de palhinha, barata e não austríaca,  ouvindo isto e aquilo e me lembro tranquilamente da transmissão das solenidades de posse de Getúlio Vargas: papai era fidelíssimo.
Sábado à tarde, ele ficava ouvindo e um dia me chamou: senta aqui! Escute esta música. É um choro que chamam e o nome é André de Sapato Novo. Começou a comentar, a salientar uma coisa e outra que eu não entendia. Sei apenas que a cena ficou na minha cabeça e talvez por isto eu goste tanto de chorinho.

Hoje, antes de vir tomar esta cerveja, lembrei-me de meu pai e do chorinho. Vamos ouvir o André de Sapato Novo? 
https://www.youtube.com/watch?v=wf4Oo-rjMdQ