quarta-feira, 6 de maio de 2020

Zuila Caroline Olegário Lima. Quando o ano começar. Memória da pandemia nas Alagoas (XXXIX)



Quando o ano começar
Zuila Caroline Olegário Lima
Estudante do 4º período de Medicina da Ufal

As promessas de ano novo tiveram que esperar. Como estudante, o primeiro semestre de 2020 estava reservado à realização de vários trabalhos, pesquisa e escrita de artigo, mas tudo ficou em segundo plano. Sem nenhuma perspectiva de voltar, a modalidade de ensino a distância não é uma realidade provável na UFAL devido a disparidade socioeconômica dos seus alunos. Estou oficialmente em isolamento desde o dia 17 de março quando o calendário da UFAL foi suspenso. O que parecia ser o início de um semestre de muitas expectativas deu lugar a frustação de ter um único dia letivo. Desde então, minha atenção voltou-se as redes sociais e mídias de informação onde, além das inúmeras informações sobre coronavírus, tornou-se um ambiente tóxico pela disseminação de “fake News” e rixas políticas de todas as formas.
Tudo isso contribuiu negativamente para piorar a situação do isolamento. As notícias referentes à COVID-19 me tocam de duas formas diferentes: primeiramente, por ser diabética tipo 1 (insulino dependente) há 6 anos e como a literatura mostra, sou de um grupo de risco em potencial para ter um quadro grave. A segunda forma, por ser uma futura profissional da saúde, que apesar de não estar atuando na linha de frente do combate, enxergo a gravidade da situação para quem está se expondo bem como a calamidade velada de equipamentos para proteção individual (EPI) cada vez mais escassos. Desde o início do isolamento, levei com seriedade essa pandemia e as recomendações do Ministério da Saúde. Mas o risco de adoecer sempre existiu porque meu irmão, que mora comigo e minha mãe, trabalha como balconista de farmácia e, mesmo após o decreto estadual, continuou trabalhando e se expondo.
Logo, o coronavírus interfere na minha saúde tanto pelo risco de adoecer mesmo em casa como tendo crises de ansiedade pelo medo iminente. Ao chegar abril, me afastei das redes sociais e direcionei meu foco para tentar restabelecer uma rotina. Nesse sentido, fiz um levantamento dos assuntos a serem vistos no período para ir estudando em casa, me inscrevi em inúmeros cursos online gratuitos, inclusive para a Olimpíada de História ofertada pela UNICAMP e retornei meus estudos de inglês. Além disso, participo do DENEM (Diretório Nacional dos Estudantes de Medicina) que a cada quinze dias são realizadas reuniões online para discutir alguma pauta pertinente. A verdade é que temos que ressignificar para viver.
 A Semana Santa não teve a família reunida como nos outros anos. Talvez, se afastar daquele parente tóxico seja o melhor a ser feito para si nesse momento ou brincar um jogo de tabuleiro via Skype para animar a família de Fortaleza seja o melhor que você pode fazer no dia. Se alguém me dissesse em janeiro que as promessas de ano novo teriam que esperar, teria aproveitado mais o vento no rosto ao andar pela orla, me estressado menos por besteira e aproveitado mais o convívio de quem sinto falta. Por hoje, espero que quando o ano começar tenhamos clareza de quais resoluções valem a pena levar adiante. Que os dias incertos se tornem páginas escritas o mais breve possível.