quarta-feira, 6 de maio de 2020

Luiz Sávio de Almeida: O virus enquanto espero o tempo passar (II): a catástrofe americana. Memória da pandemia nas Alagoas (XXXVIII)



O virus enquanto espero o tempo passar (II): a catástrofe americana
Luiz Sávio de Almeida


E ele é um espetáculo que pode ser doloroso para os que se encontram reclusos; chega com uma trama muito superior à do cinema catástofre, ao gosto americano, conforme discutiu Sontag e que deriva dos pos-guerra, com inícios beirando os anos cinquenta. Pelo nosso ver, o americano chega sempre próximo à destruição do mundo, que não se acaba graças a um super-herói que emerge, pois existe no capitalismo uma magia inesgotável de salvação; neste sentido, o Olimpo americano sempre foi tão cheio quanto o grego,  de onde saíram deuses, semideuses e heróis magníficos como Hércules e trágicos a nosso ver como Sisifo que foi condenado a uma rotina de sim-chegar e não-chegar, uma contradição que ele não resolve e portanto não se liberta mas onde tem de viver a trama que lhe foi ditada.

Eu sou e sempre useiro e  ávido pelos textos de Albert Camus; ele  nos deixa pasmos pela  possibilidade de poder pensar e mais do que isto, imaginar, a felicidade de um Sísifo.  Se o capitalismo americano estivesse neste universo de Sífifo, não estaria a todo custo procurando ver-se em destruição para sentir-se salvar-se?  Não será que ele, o modo capitalista de ser americano,  enuncia a tese de que sempre encontra a salvação em si mesmo e, se não fosse isto.  estaria perdido o manifest destiny, vindo ainda da década de 40 do século XIX e um grande elo de sua tradição?

O sofrimento da Depressão, o sofrimento da guerra, levava automaticamente à deificação da catástofre? O Capitão América representando o maravilhoso,  aparece e vence vilões; sempre há uma luta em que se teme pela sorte do escudo, mas ele se recupera, vence, salva a América e protege o próprio mundo da destruição. Há uma América incansável em sua tarefa de ser América e quando falta herói terreno, vai-se em busca de um outro planeta e, assim, solução não falta, da mesma forma que um ser bisonho nasceu para representar o complexo de salvação da sociedade do capital na britânica terra da monarquia: 007.

O orgulho do The Six Million Dollar Man – a demonstrar a renovação biológica – levou a maravilha da tecnotrônica  – bela palavra de Darcy Ribeiro – a ser no anedotário brasileiro, comparado a Frankstein, na mania que temos de zombar de nós mesmos: o The Six Million Dollar Man foi fabricado pela Nasa e o desconjuntado monstro britânico, pensado na segunda década do século XIX, pelo sistema de saúde nacional. Péssima anedota.

O trágico americano, nesta circunstância que estamos discutindo, é  o gosto que ele tem de ser imemorial e é desta forma,  que, independendo de seu jeito de ficção científica americana, ele não é desconhecido em seu  modo de ser uma epidemia: epi demos. O epi-demos esteve entre nós e sempre estará nas suas variadas formas de perversão maligna.



Projeto Memória da Pandemia nas Alagoas
Coordenação
Luiz Sávio de Almeida e José Carlos Silva de Lima
O blog pode concordar ou não, em parte e no todo, com a matéria publicada
Nosso objetivo é deixar um painel diversificado sobre a pandemia nas Alagoas
Agradecimento a Eduardo Bastos