sexta-feira, 8 de maio de 2020

Joaquim de Almeida Mariano. Saudade da casa da minha avó. Memória da pandemia nas Alagoas


       

Saudade da casa da minha avó
Joaquim de Almeida Mariano

Dois meses que não vejo meu Rôrrô, Rorró e Tité. Não vejo meu avô Braz também. Rorrô inventou umas cinco músicas comigo, como fez para a minha mãe. Ele cantava para mamãe quando ela era pequena:

Xoxa bunda é um feijão que dá no chão,
essa menina veio do Japão
pra dançá guereiro nas Alagoas.

Tem outra musiquinha que ele fez para mamãe. Rorrô botava uma bacia no chão do box, sentava ela, ele se sentava no chão e  ficavam era tempo cantando outra música que ele inventou e que somente tinha um verso:

Sergipe é uma piscina de pobre!

Ele botou o nome do boneco da mamãe de Torrones e toda vez que passava pelo boneco dizia:

Torrones, Torrones amigo!

Pois é!

Comigo o Rôrrô canta muito para eu dançar; é  uma música e dança que ele inventou chamada Remerciê.  Diz ele que aprendeu com um tal de Rei de França.

Nunca ele chupou laranja que não me desse a metade.

Eu tenho saudade deles, da casa, do homem-aranha, do psi-psi que Rôrrô tem, de escrever no computador dele,  do meu teclado que chamo de abici, onde ele me ensina o alfabeto.

Se eu tenho saudade, avalie Rorró e o Tité.

Dois meses que não vejo: só por telefone.

Domingo, mamãe e eu não vamos ver a Rorró!

Sei que tudo dói no Rôrrô, na Rorró e no Tite. 

Eu digo: Benção Rôrrô!

Ele  responde: Deus te abenço
 cara de boi!



Dois meses, dois meses...